Robles tem muita lata em Lisboa

Mal Robles se viu vereador, com gabinete e motorista, esqueceu todas as suas ‘causas’

Há várias formas de os políticos serem pacóvios e merecerem o justo desprezo das pessoas. Pode ser a queda para a mentira e o embuste, para a apropriação de bens públicos, pode ser o uso de esquemas para embolsar uns tostões ou uns milhões. Mas também pode ser o pecado do deslumbramento.

O pecado do deslumbramento ocorre quando um político se vê subitamente investido de poder e passa a comportar-se como um rematado parvo. Diz-se nos bastidores que foi isso mesmo que aconteceu ao agora vereador Ricardo Robles. 

Consta que, mal se viu vereador, Ricardo Robles – o bloquista que deu a maioria a Fernando Medina, permitindo-lhe continuar a ser presidente da Câmara – exigiu um determinado gabinete, desalojando o secretário-geral da CML, reivindicou mobílias novas e não dá dois passos sem ir de motorista. 

Vem isto tudo a propósito de notícias desta semana, segundo as quais as rendas em Lisboa são o dobro das do resto do país. Eis que Ricardo Robles decide perorar sobre o assunto, pese embora não tenha o pelouro da habitação – que se mantém em Paula Marques. E que diz o vereador bloquista?

«Houve aqui uma tempestade perfeita, um cocktail explosivo. Tivemos a lei de Assunção Cristas, a liberalização total do alojamento local, também no Governo PSD-CDS, e, por outro lado, cada vez maior interesse turístico na cidade, que é um aspeto positivo mas cria estes impactos negativos fortíssimos. Este cocktail explosivo está a criar um problema grave de habitação e para a própria cidade, para a sua sustentabilidade. A Câmara de Lisboa tem de ter um papel forte, por exemplo, através das quotas para o alojamento local. No centro histórico, há zonas onde os preços se tornaram proibitivos». 

Ou seja: culpou o CDS e o PSD. Mas o que é verdadeiramente extraordinário, assombroso e perplexizante nesta entrevista é que Ricardo Robles tenha deixado de fora a menina dos seus olhos, a sua bandeira eleitoral enquanto era um simples deputado municipal do Bloco, a saber: as cinco mil casas que o executivo de Medina ia construir em sistema de Renda Acessível. 

Aliás, sobre este negócio das arábias, acarinhado por PS, PCP e BE, escrevi aqui mesmo em maio de 2017 um artigo chamado Renda acessível, o tanas, que rezava assim:

«Basta olhar para o que se pede às empresas construtoras para perceber que estas não têm interesse nenhum no negócio – porque o negócio não só não dá lucro como é mesmo ruinoso. 

Ou seja, se isto alguma vez sair do papel, se não for uma promessa ‘engana parvos’ para as eleições, já sabemos como é feito».

Mal o PS e o BE formaram executivo em Lisboa, todos estes concursos ficaram no papel. Ganharam as eleições, morreu a Renda Acessível da Câmara. 

Os eleitores gostam de ser enganados com promessas parvas e os governantes trocam a consciência por um gabinete e um motorista.

É o que temos.