Há uns tempos, a propósito de discussões futebolísticas, um bom amigo comentava o facto de eu achar que ‘não vale tudo’ – no futebol como na política. Para ele, a «ética em tempos de guerra é diferente da ética em tempos de paz». Fiquei atónito. Percebi que nesta era em que os populismos se sobrepõem com facilidade a pensamentos racionalistas e estruturados, ainda há quem defenda as teorias de que «no amor e na guerra tudo é permitido», mesmo sabendo que violência gera violência.
Na certeza de que muitos me consideram um tipo ‘ultrapassado’, por invocar valores e princípios éticos, dei por mim a pesquisar na net o que poderão ser os valores éticos em tempos de guerra. Li sobre tratamentos humanitários, sobre suspensão de valores, sei lá… Senti-me confuso! Até que deparei com algo que me fez sentido: a guerra é algo tão primitivo, que os únicos valores éticos a observar nos tempos atuais consistiriam em terminar com as próprias guerras! João Paulo II assim o defendeu, referindo que «toda a guerra, de si, já contraria a ética».
Fiquei reconfortado. Não estou sozinho na defesa de padrões idealistas, quantas vezes inatingíveis. Mas revejo-me em valores assim, conforto-me no meio de autênticos pirómanos que tudo ateiam à nossa volta. Quer no futebol, quer na política, os fins justificam os meios, os combates ganham-se sem perdão, como nos circos romanos. Os princípios e valores passaram a ser «se formos perseguidos por comportamentos menos éticos ou mesmo legalmente puníveis, nada como nos tornarmos perseguidores e aniquilarmos quem nos critica»!
Os exemplos são diários, as fugas para a frente são ‘o pão nosso de cada dia’, com uma comunicação social ávida de ‘sangue’, dando mais protagonismo a certos figurões da nossa praça – todos eles vítimas de sistemas ‘persecutórios’, seguramente resultantes de leis aberrantes. Uma característica todos têm em comum: além de narcisistas, são populistas! Bem falantes, clamam inocências contra evidências, dormem mais descansados que todos aqueles que os ouvem. Intuito? Poder! Continuar, prorrogar ou regressar, num país em que esperam que o tempo apague da memória coletiva os atos imputados.
Bem pode Marcelo referir com ‘punhos de renda’ que no futebol há que moderar diálogos em defesa do espetáculo (afinal, hoje uma indústria) ou apelar aos políticos para comportamentos em que os portugueses se revejam. Bem como estabelecer pontes e compromissos estruturais em defesa do povo português. Em ambientes belicistas, como os atuais, a única linguagem de ética, talvez audível, seria:
1. No futebol, aquela que a UEFA usa: dureza nas punições, que transforma dirigentes e treinadores portugueses em autênticos ‘cordeiros’;
2. Na política, o aparecimento de novas forças políticas com ideologias renovadas, e com novas gerações que cerceiem os populismos desenfreados.