O Presidente Marcelo faz avisos

As peças estão a mexer-se no xadrez político. Ainda não passaram dois meses sobre a eleição de Rui Rio, e já o tabuleiro da política portuguesa está diferente.  Em abril de 2018 já estamos em campanha eleitoral para as europeias e legislativas de 2019, mas é absurdamente cedo e nada o faria prever. Esta semana,…

As peças estão a mexer-se no xadrez político. Ainda não passaram dois meses sobre a eleição de Rui Rio, e já o tabuleiro da política portuguesa está diferente. 

Em abril de 2018 já estamos em campanha eleitoral para as europeias e legislativas de 2019, mas é absurdamente cedo e nada o faria prever. Esta semana, o BE e o PCP usaram o argumento do Pacto de Estabilidade e Crescimento que vai ao Parlamento este mês, para exigirem ao Governo PS (por eles apoiado) que reveja em alta o valor do défice e que use o dinheiro para investimento e nos serviços públicos, com o SNS à cabeça.

É verdade que sempre se soube que o orçamento de 2019 seria o mais difícil de aprovar porque seria o do ano das eleições legislativas, mas ainda assim surpreende quão cedo o stress orçamental atacou a extrema-esquerda.

Passos Coelho era em grande medida a cola que unia o PS, o BE e o PCP, aquele denominador comum que amavam odiar. Sem esse ódio de estimação, é ver quem corre mais depressa a fazer de oposição. Deste ponto de vista, o Bloco apoia-se na verve de Catarina Martins e em Mariana Mortágua para as questões orçamentais – foi ela que fez a comunicação à imprensa sobre a exigência de um défice mais alto – enquanto o PCP lança mão do seu braço armado, as greves comandadas pela CGTP. 

Com maior ou menor veracidade, com maior ou menor cinismo, é isto que o BE e o PCP vão fazer durante um ano, fazer por terem o melhor resultado possível nas próximas eleições. O Bloco vai subir nas sondagens e nos resultados, disso não duvido. É uma máquina muito bem oleada que comunica muito bem e com grande penetração nos media. Querem ter um resultado histórico para estarem em posição de negociar uma coligação muito vantajosa, caso o PS vença as eleições sem maioria. 

O PCP não consegue competir nesse campeonato e embora as greves penalizem os governos, não darão ganhos de causa eleitoral aos comunistas. 

À sua maneira, Cristas é muito parecida com Catarina Martins, líder de um pequeno partido, despiu-o de ideologia, tem uma equipa forte, jovem, motivada que percebe as dinâmicas e os tempos da comunicação política e mediática. Se BE e PCP já estão em campanha, Cristas e o CDS também vão entrar. 

Já a situação dos dois maiores partidos portugueses, PSD e PS, é completamente diferente: são duas peças muito mais lentas e pesadas, na exata medida que são aqueles que têm a responsabilidade de serem os partidos liderantes dos governos do país. 

Olhando para as peças a mexer no tabuleiro, Marcelo Rebelo de Sousa já avisou que quer o orçamento promulgado. Estaria o Presidente a admitir que BE e PCP se neguem, caso em que quereria que fosse o PSD a aprovar o orçamento? Fica a dúvida. 

sofiarocha@sol.pt