Choi Eun-hee. Raptada por Kim Jong-il, um ditador cinéfilo

Conheça a história desta atriz sul-coreana, que morreu no início desta semana

Choi Eun-hee. Raptada por Kim Jong-il, um ditador cinéfilo

A decana das atrizes sul-coreanas, Choi Eun-hee, morreu no início desta semana em Seul e foi a enterrar quinta-feira. A sua popularidade no país manteve-se até ao final da vida, mas foi o rapto e a prisão durante oito anos na Coreia do Norte que a deixaram na História.

Choi nasceu em 1926 e estreou-se nos palcos em 1942. Cinco anos mais tarde estava pela primeira vez no grande ecrã para se tornar uma estrela do cinema da Coreia do Sul nos anos 1960.

O seu estrelato chamou a atenção de Kim Jong-il, o filho do ditador da Coreia do Norte, Kim Il-Sung. Na altura Kim Jong-il era o ministro da Propaganda do seu pai e um fanático de cinema, fanatismo que o levou a ordenar o rapto – numa cena digna dos melhores filmes – de Choi em Hong Kong, dando início a uma provação que só terminaria com a sua fuga, e do seu ex-marido, o realizador Shin Sang-ok da prisão. 

Nos anos 1970 a sua carreira estava a correr menos bem, depois de se ter divorciado de Shin e da produtora de ambos ter entrado na falência. Pior ainda, a bancarrota ameaçava a continuidade da Anyanag, a sua escola de representação, deixando 700 estudantes sem educação. Por isso, quando foi abordada por Wang Dong-il, um homem que dizia ter um estúdio em Hong Kong, arriscou. 

Mas Wang era um agente norte-coreano disfarçado, tal como a sua companheira, Lee Sang-Hee. Lee atraiu Choi para Repulse Bay, em Hong Kong, onde foi agarrada por dois homens, amarrada num barco e injetada com um sedativo.

Quando acordou estava a bordo de um navio de carga em direção à Coreia do Norte para se tornar escrava cinematográfica de Kim Jong-il.

Entretanto, Shin Sang-ok, que se havia mostrado preocupado com a ausência de Choi, tinha-se tornado no principal suspeito do desaparecimento de Choi. Decidido a encontrá-la, seis meses depois estava em Hong Kong a investigar, quando foi também raptado e levado para junto da ex-mulher.

Em Pyonyang foram obrigados a ver os 15 mil filmes da coleção de Kim Jong-il e a fazer a crítica de quatro – na sua maioria comunistas mas também de Hollywood – por dia. Mas o plano de Kim era que o casal fosse a vanguarda do novo cinema comunista norte-coreano. Entre 1983 e 1985, o casal realizou vários filmes, um deles baseado numa peça de teatro da autoria de Kim il-Sung. 

Ao mesmo tempo o casal engendrou um esquema para gravar Kim Jong-Il a admitir o rapto, e também a sua fuga. A oportunidade surgiu em 1986, quando foram autorizados a viajar para Viena, capital da Áustria, para promover os filmes. Fugiram para a embaixada dos EUA, onde pediram asilo político.

Pyongyang argumentou que o casal tinha ido de forma voluntária para o país e que o pedido de asilo era uma fraude para ganharem dinheiro com o filme. Foram interrogados pela CIA e libertados. Kim Jong-il assumiria a liderança do regime em 1994, depois da morte do pai, cargo que ocupou até à sua morte em 2011. Foi sucedido pelo filho, Kim Jong-un. 

Shin foi viver para os EUA onde foi realizador e produtor. Voltou para a Coreia do Sul, onde acabaria por morrer em 2004. Choi também voltou para Seul, e apesar de não ter voltado a fazer filmes recebeu vários prémios de carreira.