FC Porto. A maldição dos barreiros

Os dragões não vencem no reduto do Marítimo desde 2012. Este domingo, terão a oportunidade de aí sentenciar o campeonato nacional.

Há já várias semanas que os treinadores dos três candidatos ao título na I Liga de futebol vão atirando esta frase: «Haverá campeonato até à última». Em teoria, sim; matematicamente falando, provavelmente. Mas a verdade é que qualquer seguidor do fenómeno já há bastante tempo que olha para esta jornada 32 e para a que se lhe seguirá e vê nelas a definição clara do desfecho que este campeonato irá ter.

São, acima de todos os outros, dois os jogos que deixam toda a gente na expectativa há vários meses: o Marítimo-FC Porto e o Sporting-Benfica. E o primeiro deles joga-se já este domingo, nos Barreiros – um palco maldito para os dragões, que lá não vencem desde 2012.

São cinco jogos – seis, contando com outra derrota em 2014/15 para as meias-finais da Taça da Liga –, com três empates (todos por 1-1) e duas derrotas (ambas por 1-0) para o FC Porto no Caldeirão. Uma verdadeira praga, que se pode alargar mesmo até à década de 90 – foi em setembro de 1991 que os dragões caíram pela primeira vez no recinto do Marítimo. Daí para cá, venceram 12 vezes… e perderam dez, além de terem averbado ainda sete empates, muitos deles decisivos para a perda de títulos – como o da época passada, quando à jornada 32, um golo do camaronês Djoussé aos 69 minutos selou o 1-1 final que impediu o FC Porto de Nuno Espírito Santo de passar para a frente da prova à condição. No dia seguinte, o Benfica venceu em Vila do Conde e aumentou para cinco os pontos de vantagem sobre os dragões, praticamente selando aí a conquista da prova.

Há dois anos, foi logo à segunda jornada que os azuis-e-brancos ali tropeçaram. Outro 1-1, com Casillas a ser batido pela primeira vez em competições lusas. E nos dois anos antes disso, duas derrotas a meio do campeonato (jornadas 18 e 17), ambas a contribuir sobremaneira para a perda do comboio de um FC Porto liderado primeiro por Paulo Fonseca e depois por Julen Lopetegui.

A última boa memória portista nos Barreiros data, então, de 28 de abril de 2012. Na antepenúltima jornada da época 2011/12, a primeira de Vítor Pereira ao comando após a saída de André Villas-Boas, dois golos de penálti de Hulk valeram o triunfo e haveriam também de significar o título portista (na altura o bicampeonato), dado que o Benfica empataria no dia seguinte em Vila do Conde (2-2).

Agora, as contas não são difíceis de fazer. Uma vitória dos homens sob o comando de Sérgio Conceição deixa o FC Porto pelo menos com dois pontos de vantagem sobre um Benfica que teoricamente deverá vencer o Tondela em casa, mas que na jornada seguinte tem de ultrapassar o desafio mais complicado de todos: o Sporting em pleno Estádio de Alvalade. Um desaire encarnado no dérbi lisboeta e uma vitória dos dragões sobre o aflito Feirense no dia seguinte significará automaticamente o fim do jejum portista, que já dura desde agosto de 2013.

Um empate do dragão na Madeira, por seu lado, pode adiar as decisões para a última jornada, mas apenas se o Benfica conseguir vencer o eterno rival (e o Tondela, bem entendido). Caso contrário, aos dragões bastará sempre vencer o Feirense para celebrar a conquista do campeonato, pois têm vantagem no confronto direto com as águias.
Em caso de derrota azul, o campeonato pode levar uma volta. Isto porque, se vencer o Tondela, o Benfica passará para a frente e voltará a depender apenas de si para chegar ao inédito pentacampeonato. Estará, claro, obrigado a sair de Alvalade com um triunfo e depois repetir a dose na receção ao Moreirense, na última jornada. Em teoria, as águias terão nesta ronda uma tarefa mais facilitada, pelo menos atendendo ao histórico com os beirões: vitórias por 4-0 e 4-1 nas últimas duas temporadas, nos únicos confrontos na Luz entre as duas equipas na história. Alargando aos embates totais entre Benfica e Tondela… são cinco triunfos para as águias em cinco embates (venceu fora por 4-0, 2-0 e 5-1 nestas três épocas que os tondelenses levam de I Liga).

E o Sporting?
É um facto: o Sporting também ainda pode sonhar com o título. Não é menos verdade, todavia, que esse é um cenário longínquo e algo irrealista. Para ser campeão, o leão tem de vencer os três jogos que lhe faltam, todos de dificuldade elevadíssima (deslocações a Portimão e precisamente ao terreno do Marítimo e o já referido dérbi caseiro com o Benfica), e ainda esperar que o FC Porto perca dois dos jogos que lhe faltam – além da deslocação à Madeira e da receção aoFeirense, os dragões visitam ainda o Vitória de Guimarães na última jornada.

Olhando exclusivamente para a jornada 32, que terá lugar este fim de semana, o Sporting terá de superar a visita ao Algarve. Historicamente, não costuma ser pera doce para os leões jogar em Portimão: em 16 jogos, soma seis vitórias, cinco empates e outras tantas derrotas. Fruto da ausência prolongada do conjunto algarvio no escalão maior do futebol português, desde 1990 houve apenas dois embates entre estas equipas em terreno algarvio.

Em 2010/11, o Sporting venceu por 3-1 num encontro realizado noEstádio Algarve, numa altura em que o Municipal de Portimão sofria obras de reabilitação exigidas pela Liga para disputar o primeiro escalão. Mais recentemente (2015/16), já com Jorge Jesus no banco leonino, os leões saíram de Portimão vergados a uma derrota (2-0) que os afastou das meias-finais da Taça da Liga, e isto perante um Portimonense que na altura militava na II Liga – e assim continuou durante mais uma época.

A amostra recente é, pois, pouco demonstrativa, embora possa funcionar desde já como aviso à navegação leonina, até porque três dos elementos que este sábado deverão jogar em Portimão estiveram presentes nesse último encontro: William Carvalho, Bruno César e Montero. Curiosamente, Lumor era na altura o lateral-esquerdo dos algarvios e está agora… no Sporting. Do lado do Portimonense, há mais resistentes: nove, entre os quais Ewerton, autor dos dois golos nesse encontro, mas também os goleadores Fabrício e Pires.