Saudar Medina pelos espetaculares centros de saúde

É o meu maior desejo de 25 de abril: que os jornais deixem de fazer os anúncios dos políticos como se estivessem a dar notícias verdadeiras. Na história aqui contada houve apenas uma atuação de quinta categoria, feita com má fé, ainda por cima.

Em março de 2017, vésperas de eleições autárquicas, o PS da Câmara e o PS do Governo juntaram-se para anunciar a construção de catorze novos centros de saúde para servir a capital.

Os novos centros de saúde, construídos essencialmente em parceria com a Câmara de Lisboa, iriam, numa primeira fase, substituir os que se encontravam com sinais de maior degradação.

O PSD levou esta semana o assunto à Assembleia Municipal de Lisboa, sob a forma de uma moção elogiosa a Fernando Medina. 

Teríamos, assim, as novas Unidades de Saúde (US) Alta Lisboa-Norte (freguesia de Santa Clara), a US Telheiras (Lumiar), US Alcântara (Alcântara), US Ajuda (Ajuda), US Restelo (Belém), US Alto dos Moinhos (São Domingos de Benfica), US Fonte Nova (Benfica), US Marvila (Marvila), US Campo de Ourique (Campo de Ourique), US Areeiro (Areeiro), US Arroios (Arroios), US Beato (Beato), US Sapadores-Graça (Penha de França) e US Parque das Nações (Parque das Nações).

Era uma visão ambiciosa, traduzida nas palavras do presidente de Câmara, Fernando Medina: «Fazemos este investimento porque podemos». Foi então anunciado que as obras começariam até ao final de 2017 e estariam concluídas em 2020.

Nesse dia, perante a comunicação social, o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, deixou clara a vontade de que a «Expo fosse a primeira» freguesia a ter um novo centro. Aliás, afirmou mesmo que este era um exemplo da «virtude de uma nova geração de parcerias públicas».

Por seu lado, o autarca do Parque das Nações afirmou: «Este é o concretizar de promessas de anos e anos a fio de muitos políticos», acrescentando que a falta de um centro de saúde no Parque das Nações obrigava muitos utentes a recorrerem ao privado, dado que o «centro de saúde mais próximo está à distância de três autocarros».

O PSD na altura criticou aquilo que era um óbvio anúncio eleitoralista, feito com o único propósito de criar uma falsa expectativa às pessoas.

Ora, hoje, não há uma única obra, um único tijolo, o ministro está calado, os utentes da freguesia do Parque das Nações continuam a recorrer ao privado, ou a ter de apanhar três autocarros para chegarem ao centro público mais próximo.
Medina foi eleito e os centros de saúde morreram de morte matada. 

Ora, o PSD levou o assunto à Assembleia Municipal – e a presidente, Helena Roseta, ficou aborrecida com o chiste. Mas não devia.

Desde Sócrates que se passou a fazer assim política em Portugal: prometem-se com o maior desplante coisas que se sabe nunca irem ser cumpridas. Os jornais publicam tais dislates nas primeiras páginas e nunca mais se lembram de ir conferir. 

É o meu maior desejo de 25 de abril: que os jornais deixem de fazer os anúncios dos políticos como se estivessem a dar notícias verdadeiras. Na história aqui contada houve apenas uma atuação de quinta categoria, feita com má fé, ainda por cima.