A propósito do luxo e do dia do trabalhador

Há duas semanas assisti à Condé Nast International Luxury Conference, que este ano se realizou em Lisboa. Trata-se de uma conferência criada em 2015 pelo grupo editorial que, entre outras publicações, detém títulos como a Vogue, Vanity Fair ou The New Yorker e que reúne empresários e designers ligados a estes mercados e que procuravam…

Há duas semanas assisti à Condé Nast International Luxury Conference, que este ano se realizou em Lisboa. Trata-se de uma conferência criada em 2015 pelo grupo editorial que, entre outras publicações, detém títulos como a Vogue, Vanity Fair ou The New Yorker e que reúne empresários e designers ligados a estes mercados e que procuravam perceber, num resumo muito lato, como se comportarão os clientes do futuro. Falou-se de materiais que hão de substituir as peles de animais, de plataformas que põe os clientes a comprar diretamente a pequenos designers, de coleções desenhadas a muitas mãos, de centros comerciais equipados com Inteligência Artificial (IA).

Numa mesa redonda que antecedeu a conferência, a diretora internacional da Vogue, Suzy Menkes – a jornalista de moda mais respeitada do mundo e a responsável pelo evento – dizia que, para ela, e falando de moda, o luxo tinha que implicar trabalho manual, feito por artesãos.

No futuro, penso que esta tendência se vai amplificar em qualquer área: quanto mais dedicada mão humana houver, mais exclusivo o bem será. 

A propósito do Dia do Trabalhador, publicámos esta semana no jornal i um artigo sobre as profissões do futuro que vai ao encontro desta linha de pensamento. Um estudo do Mckinsey Global Institute identificou 400 tarefas – como as análises de vendas e o planeamento dos transportes – que, num futuro muito próximo, serão desempenhadas apenas por máquinas.

Hoje vinha para o jornal a pensar neste mesmo artigo e a pensar no insólito de termos que competir por um lugar no mercado com um robot… Conseguem imaginar a carta de motivações? Eu ainda não e, confesso, uma organização da sociedade em que a IA faça parte da equação faz-me confusão. 

No futuro, será um luxo ter médicos de carne e osso a fazer uma operação ao invés de um robot ou o contrário? No futuro, será um luxo ter trabalho? O mesmo estudo diz-nos que sim – que os trabalhos para as pessoas, quando os houver, serão cada vez mais flutuantes. Mas talvez não seja preciso falarmos de tempos por vir. É que neste último caso, para a minha geração, ter um trabalho que não seja precário e devidamente remunerado já é um luxo. E agora ainda nos vêm falar de robots…