A promessa do par perfeito. A genética e as televisões ao serviço do primeiro encontro

O negócio em torno do amor não acontece apenas com aplicações ou redes sociais. Desde muito cedo que as televisões começaram a apostar em formatos para juntar casais e há lugar para várias versões polémicas. Entretanto, apareceram também empresas que prometem, através de testes de ADN, dar garantias de compatibilidade

O amor, o sexo e até a amizade têm vindo a seguir novas dinâmicas. Mas não são apenas as aplicações que encaixam milhões com as relações interpessoais. Existem empresas que garantem que a ciência ajuda a encontrar o parceiro ideal e até canais de televisão que apostam em programas cujo único objetivo é explorar a possibilidade de criar casais. E a verdade é que, neste campo, só a imaginação parece ser o limite.

Provavelmente, já ouviu falar do Naked Attraction, nem que seja pela polémica que gerou inicialmente. O objetivo é o mesmo de todos os programas de encontros: escolher alguém para um encontro a dois. Mas os escolhidos estão nus. Uma escolha que valeu várias queixas na Nova Zelândia. No entanto, nem só de queixas é feito o impacto deste formato. No Reino Unido, o Channel 4, responsável pela criação deste conteúdo, já começou a preparar uma nova temporada com celebridades e já vendeu os direitos para a Alemanha.

O original britânico chegou a Portugal pelas mãos dos responsáveis da SIC Radical, em cujo site se explica: “Naked Attraction é um reality show de “dating” britânico, apresentado por Anna Richardson, em que um /a participante seleciona dois concorrentes entre outros seis, com um twist: os seis participantes estão nus dos pés à cabeça. Tanto o corpo como as faces irão ser revelados, em etapas, dos pés à cabeça. A pessoa que decide, em seguida, aparece nua também e terá de selecionar, desses seis, uma delas para um jantar romântico. Após o encontro, o programa mostra o resultado dessa escolha”.

De acordo com o diretor da SIC Radical, Boucherie Mendes, falamos de um “formato dentro do género social experiment” que nada mais é do que “um programa deste tempo”.

Exemplos há muitos, ainda que alguns modelos sejam mais arrojados do que outros. Existem até os que contam com especialistas para analisar os dados de cada concorrente e escolher o que deve ser o par perfeito. No limite, falamos até de formatos onde os concorrentes aceitam conhecer o futuro marido ou mulher apenas no dia marcado para dar o nó. É o caso do Bride and Groom Meet For The First Time. A produção cria casais que parecem ter tudo para resultar. No entanto, apenas se conhecem no dia do casamento e nada sabem sobre o parceiro. Depois de um tempo a viver a dinâmica de casal, chega a hora de decidir se aquela pessoa é mesmo a ideal e se estão dispostos a mudarem alguns aspetos das suas vidas para que seja possível o casamento continuar.

As experiências em Portugal Em Portugal, já passaram mais de quinze anos desde que estreou na SIC o programa Acorrentados: um reality show que pretendia ser direto na formação de casais. Cinco pessoas estavam acorrentadas e tinham de ir juntas para todo o lado. Quatro eram do mesmo sexo e a do oposto tinha de ir eliminando os que menos interessavam até sobrar apenas um. No entanto, o formato não convenceu os portugueses. Outros modelos foram tentados, mas não atingiram os objetivos pretendidos.

Em 2016, o reality show ‘Love on Top’, da TVI, gerava polémica. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) tinha começado a receber participações contra o formato emitido diariamente pela estação de Queluz de Baixo. Em causa estavam queixas de violência verbal e física e conteúdos de teor sexual. Recorde-se que este foi o primeiro reality show com pessoas fechadas dentro de uma casa a ser emitido em Portugal com a classificação para maiores de 18 anos (que é identificada com a tradicional bolinha vermelha).

Também o Big Brother e a Casa dos Segredos deram origem a muitas queixas por causa do conteúdo, mas sem resultarem em multas para a estação.

Empresas prometem ajuda Há pouco tempo, um estudo da Universidade do Estado de Michigan, nos EUA, garantia que esperar pelo par perfeito não era mais do que uma bela perda de tempo. Mas não é com essa base que trabalham algumas empresas que usam a bandeira de ter a solução ideal. Para quem não se quer expor na televisão e não acredita na eficácia das redes sociais ou das aplicações criadas para o efeito, existem outras soluções e até a ciência é chamada ao barulho.

Para grande infelicidade dos mais românticos, há quem garanta que é possível explicar biologicamente a sensação que nos domina quando se gosta de alguém. Tendo isto por base, essa sensação pode então ser medida e até controlada. Pelo menos, é nesta base que se criam empresas que prometem testar compatibilidade através de análises de ADN. Uma pesquisa rápida no Google basta para perceber a variedade da oferta. A GenePartner, por exemplo, mostra que não existe nada melhor para avaliar a química antes de investir num relacionamento.

Existem ainda empresas que disponibilizam verdadeiros ‘kits do amor’. É o caso da Instant Chemistry. De acordo com os responsáveis pela empresa, a ideia é conseguir comparar, através de três testes, a compatibilidade química do casal através das características genéticas. Estas empresas prometem ainda ajudar a ultrapassar alguns obstáculos. “Se faltar compatibilidade, o kit fornece informação que permite detetar o conflito antes que ele apareça. A aposta dos casais deve então ser uma tentativa de resolver estes potenciais focos de conflito, sem brigas”, explica Sara Seabrooke, da Instant Chemistry.

Para muitos, este tipo de testes pode não fazer sentido, mas a verdade é que como negócio parece funcionar. Seja como for, na era da tecnologia, muito tem mudado e parece até haver um novo código de regras para os primeiros encontros, ainda que muita coisa não passe de mito (ver págs. 20-21).