Dom Quixote de Terry Gilliam com luz verde para estrear nas salas francesas

Centro Nacional de Cinema francês emitiu esta quinta-feira a autorização para a exploração comercial em França, depois de na véspera um tribunal de Paris ter autorizado a projeção do filme do ex-Monty Python no Festival de Cinema de Cannes.

Um dia depois do Tribunal de Grande Instância de Paris ter autorizado a projeção de "O Homem Que Matou Dom Quixote" na sessão de encerramento do 71.º Festival de Cinema de Cannes, que o produtor português Paulo Branco tentou impedir com uma providência cautelar, o Centro Nacional do Cinema (CNC) francês deu esta quinta-feira luz verde à estreia do filme "maldito" de Terry Gilliam nas salas francesas, com a conceção do visto de exploração comercial do filme. 

A notícia é avançada pela imprensa francesa, e pelo meio da batalha judicial que tem oposto Paulo Branco, produtor inicial do filme, ao realizador, que avançou com o filme depois de por alegados problemas com o financiamento ter rompido com o produtor português, que alega ter direitos sobre o filme e que, sem o seu consentimento, "O Homem Que Matou Dom Quixote" não pode ser explorado comercialmente.

Depois de conhecida a decisão desta quarta-feira, que permitiu a exibição em Cannes com a condição de que no início da sessão seja projetada uma nota dando conta de que a autorização para a exibição no festival não anula o resultado dos vários processos em curso nos tribunais franceses e do Reino Unido (e deixando a cargo de Terry Gilliam, a Star Invest Films France e a Kinology, coprodutora francesa, as expensas judiciais pelo processo), Paulo Branco não demorou a anunciar que processaria o festival pelos danos eventualmente causados pela decisão de estrear o filme na sessão de encerramento desta edição.

Ao i, o produtor português garantiu ainda que, apesar da autorização para Cannes, o filme não estava em condições de ser explorado comercialmente, enquanto Pandora da Cunha Telles, da Ukbar, a produtora que acabou por assegurar a produção do lado português, com uma participação de 10% nos 16 milhões de euros de orçamento do filme, garantia o contrário. “Neste momento, não há nada que diga que o filme está impedido de ser explorado comercialmente. A própria notícia sobre a Amazon não tem confirmação oficial.”

Também esta semana, a imprensa internacional noticiou, sem confirmação oficial, que a Amazon teria desistido da distribuição do filme nos Estados Unidos. Em Portugal, um dos países onde o filme foi rodado, a par de Espanha, durante o verão passado, não há ainda data prevista para a estreia, que estará a cargo da NOS. 

Depois de Cannes, tudo indica agora que "O Homem Que Matou Dom Quixote" venha então a estrear nas salas francesas como tinha sido anunciado pelos distribuidores e coprodutores do que há anos é conhecido como o filme "maldito" de Terry Gilliam. Isto porque não foi a longa batalha judicial com Paulo Branco o primeiro dos problemas enfrentados por Terry Gilliam para a concretização desta sua obra a partir do clássico de Cervantes. Longe disso.

“O Homem Que Matou Dom Quixote” é um projeto para o qual o ex-Monty Python avançou pela primeira vez já em 2000, com Johnny Depp e Jean Rochefort como protagonistas. Nessa altura, o filme chegou a começar a ser rodado em Navarra, num processo interrompido por problemas vários, já relacionados com falta de dinheiro mas também com uma lesão de Rochefort. Houve depois uma segunda tentativa, dessa vez com John Hurt e Jack O’Connell, e de novo o filme acabou por não avançar. Toda uma verdadeira saga que chegou a dar mesmo um documentário em 2002, “Lost in La Mancha”.

"O Homem Que Matou Dom Quixote", uma coprodução entre Espanha, Portugal, França e Bélgica, foi rodado entre Portugal e Espanha no verão passado. Com a história de um homem que viaja no tempo, do séc. XXI até ao séc. XVII, onde se cruza com o protagonista da obra de Cervantes, o filme tem como atores principais Adam Driver, Jonathan Pryce e Joana Ribeiro, que em Portugal protagonizou recentemente a série "Madre Paula", de Patrícia Müller.