FC Porto. O fim do maior jejum

O empate no dérbi de Alvalade fez dos dragões campeões cinco anos depois. Agora, o objetivo é igualar a pontuação do Benfica em 2015/16.

FC Porto. O fim do maior jejum

Desde o dia 15 de abril, com aquele pontapé fabuloso de Herrera aos 89 minutos do jogo com o Benfica na Luz, que só a formalidade da matemática adiava a oficialização do título de campeão do FC Porto 2017/18. Aconteceu no último sábado, curiosamente sem ser preciso os dragões entrarem em campo: os rivais de Lisboa fizeram questão de se certificar que assim seria, ao não saírem do nulo no dérbi de Alvalade.

Chegou assim ao fim o maior jejum azul-e-branco na era Pinto da Costa – que é como quem diz desde 1982, quando o coriáceo dirigente nascido no seio de uma família burguesa na freguesia portuense da Cedofeita assumiu a presidência do clube. Nunca, daí para cá, o FC Porto tinha estado quase cinco anos sem uma única conquista – mesmo no período de seca de campeonatos entre 1999 e 2003, os dragões foram colecionando Taças de Portugal e Supertaças, até que se deu a chegada do Messias Mourinho e o destino portista voltaria a ser vitorioso.

Agora, o Prometido tem outro nome – curiosamente associado ao catolicismo: Conceição. Sérgio Conceição. O antigo internacional, e tricampeão pelo FC Porto enquanto jogador, regressou no passado verão ao Dragão, depois de uma polémica saída do Nantes, de França, e de imediato prometeu aos portistas que em maio haveria festa. Sem dinheiro para reforços, recuperou os proscritos do antecessor Nuno Espírito Santo, com Aboubakar e Marega à cabeça, e construiu uma impiedosa máquina de ataque que raramente encravou. E quando tal aconteceu, como nas derrotas consecutivas fora de casa em Paços de Ferreira e no Restelo, respondeu à campeão: foi vencer à Luz, no jogo do título, e decidiu aí o campeonato a seu favor.

Só há um penta em Portugal

Mais do que quebrar o jejum de vitórias portistas, este título teve ainda um gosto especial para os dragões por outro motivo: evitou que outra equipa, no caso o Benfica, conseguisse vencer cinco campeonatos consecutivos, ou seja, um penta campeonato. Dessa forma, o FC Porto continua a ser a única equipa pentacampeã em Portugal, fruto da série de conquistas seguidas entre 1994 e 1999, primeiro com Bobby Robson ao comando (duas épocas), depois com António Oliveira (outras duas) e por último com Fernando Santos, o atual selecionador nacional.

Caso dúvidas houvesse em relação à importância deste registo, as mesmas ficariam dissipadas com as imagens da festa do título na televisão e nas redes sociais, com jogadores e adeptos em comunhão a cantar o ‘Penta Ciao’, uma adaptação da canção popular italiana Bella Ciao, popularizada pela afamada série espanhola La Casa de Papel. Esta versão nasceu na sequência da surpreendente derrota caseira do Benfica perante o Tondela, na antepenúltima jornada da Liga, e alude obviamente ao fim do sonho do penta campeonato benfiquista.

Os dragões, de resto, têm uma apetência especial para marcas históricas. Foram eles os primeiros campeões da denominada I Liga, que em 1934/35 arrancou ainda numa versão experimental mas que é oficialmente validada como o primeiro campeonato nacional em Portugal – apesar de decorrer em simultâneo com o Campeonato de Portugal, que seria a génese da Taça de Portugal criada em 1938/39.

O FC Porto venceu também os dois primeiros campeonatos no formato definitivo, em 1938/39 e 1939/40, mas iriam passar depois por dois grandes períodos de seca extrema: de 1940 a 1956 e de 1959 a 1978, naquele que é ainda hoje o maior jejum de títulos nacionais de um clube ‘grande’ em Portugal. O Sporting, que esteve 18 anos sem festejar (entre 1982 e 2000) e está agora novamente há 16 (desde 2002), é quem mais se aproxima desse indesejado recorde portista.

Objetivo: 88 pontos

Agora, resta um último objetivo para os meninos de Conceição: igualar a melhor pontuação de sempre em Portugal, pertença do Benfica. Em 2015/16, no primeiro ano de Rui Vitória no comando técnico das águias, os encarnados chegaram aos 88 pontos, conseguindo o título após uma alucinante disputa com o Sporting, que tinha Jorge Jesus no banco pela primeira vez.

É precisamente essa a meta pontual a que o FC Porto se propõe agora chegar. Os dragões somam 85 pontos e procuram vencer em Guimarães este sábado: se tal acontecer, conseguirão o maior registo absoluto do clube, ultrapassando os 86 pontos do FC Porto de Mourinho em 2002/03, no ano do primeiro título conquistado pelo mais tarde autodenominado Special One.

Apesar deste desejo, Sérgio Conceição deverá promover algumas mexidas no onze portista para o encontro com o Vitória de José Peseiro. Desde logo na baliza, de modo a dar oportunidade ao brasileiro Vaná – a única contratação para esta época – de se sagrar campeão. O próprio Fabiano, guardião que esteve lesionado a maior parte da temporada, poderá ter uns minutos. Jogadores como Reyes, André André, Hernâni e Gonçalo Paciência também deverão merecer a chamada do técnico para o encontro que fecha a temporada azul-e-branca.