Expo 98. Um evento que mudou para sempre o rosto de Lisboa

A 22 de maio de 1998, Portugal conheceu aquela que viria a ser uma das zonas mais modernas e nobres da capital. Nessa altura, o país estava bem longe dos grandes acontecimentos europeus, como o Euro 2004 ou, mais recentemente, a Eurovisão. Lisboa mudou para sempre 

Lisboa tem um antes e um depois da Expo 98. A Exposição Internacional – um dos maiores eventos que o país já recebeu – mudou para sempre o rosto da capital. A zona oriental, onde até essa altura havia depósitos de contentores, refinarias de petróleo, armazéns, lixeiras a céu aberto e matadouros, deu lugar a uma das zonas mais nobres e privilegiadas – uma verdadeira revolução e a maior intervenção feita na capital desde o terramoto de 1755. A torre da refinaria da Petrogal, única estrutura conservada, ficou como lembrança do espaço antes da intervenção. A verdade é que houve um grande cuidado para que quase todos os equipamentos do recinto tivessem utilização posterior, evitando assim o seu abandono e degradação, como aconteceu em exposições anteriores, nomeadamente em Sevilha, em 1992. 

 O evento abriu portas faz amanhã 20 anos sob o mote “Os oceanos: um património para o futuro”. Até 30 de setembro desse ano passaram pelo recinto cerca de 10 milhões de visitantes – entre eles Bill Gates ou Ringo Starr, reis e rainhas e as mais variadas figuras de Estado – para celebrar os 500 anos dos Descobrimentos portugueses. Ainda assim, o evento recebeu menos quatro milhões do que era esperado.

A ideia, aparentemente megalómana, surgiu quase dez anos antes da cabeça de António Mega Ferreira e Vasco Graça Moura. Só no último dia, a Expo 98 recebeu mais de 200 mil pessoas – uma verdadeira enchente que levou a que existissem falhas de comunicações, ao ponto de ninguém conseguir falar com ninguém por telemóvel. 

E as entradas? Havia soluções para todos os gostos. Um bilhete para um dia custava 25 euros (cinco mil escudos); para três dias, pouco mais de 62 euros (12 500 escudos); e um passe livre com acesso ilimitado à exposição durante três meses, 250 euros (50 mil escudos), ou seja, quase o equivalente ao salário mínimo nacional pago nessa altura e que rondava os 300 euros. Para quem só queria aproveitar a noite bastaria desembolsar 12,50 euros (2500 escudos).
A exposição fechou portas já ao nascer do dia 1 de outubro e, durante 15 dias, o recinto esteve fechado ao público. Reabriu já como Parque das Nações, recebendo nesse primeiro fim de semana mais de 100 mil visitantes. 
Muitas zonas foram sendo gradualmente vendidas para habitação e escritórios e, no fim do processo de venda de terrenos, as receitas tinham superado o custo da exposição em oito vezes. 

Verdadeira revolução A opinião é unânime junto dos mais variados especialistas: a zona oriental de Lisboa é hoje o bairro mais moderno da cidade, concentrando áreas comerciais, culturais e de lazer com uma vista privilegiada para o rio Tejo. Esta zona acabou por atrair uma série de instituições e grandes empresas, nomeadamente multinacionais, como a Vodafone, Microsoft, Sonaecom SGPS e Sony, entre outras. 

Também o mercado habitacional atraiu muitos portugueses e estrangeiros. Cerca de 28 mil pessoas habitam nas áreas residenciais norte e sul, integrando a freguesia do Parque das Nações – criada no âmbito de uma reorganização administrativa que entrou em vigor após as eleições autárquicas de 2013. Os preços sempre acompanharam este sucesso e, com a explosão do mercado imobiliário, continuam a sofrer um agravamento de preços. Atualmente, a freguesia do Parque das Nações – juntamente com a da Misericórdia – é uma das mais caras de Lisboa em matéria de arrendamento, com o preço por metro quadrado a fixar-se nos 11,6 euros, de acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Feitas as contas, arrendar um imóvel com 80 metros quadrados no Parque das Nações custa cerca de 940 euros.

Para quem pretende comprar, os valores são ainda mais significativos. Nesta freguesia, os preços por metro quadrado fixam-se em 3253 euros. 

Histórias de sucesso e também de fracasso Como consequência da exposição, Lisboa ganhou uma nova ponte sobre o Tejo, mais estações de metro e uma nova interface de transportes, a Gare do Oriente. Também o teleférico, uma das várias inovações mais emblemáticas que atraíram milhões de portugueses e estrangeiros, continua a cativar a atenção dos visitantes que passam por aquela zona. 

Nos 131 dias que durou a Expo 98, o teleférico transportou três milhões de pessoas, o que deu uma média de 1600 por dia. Fazer uma viagem a 30 metros de altura custava, à data, 500 escudos para adulto e 250 escudos para criança. Hoje, os bilhetes variam entre os 2 euros e os 3,95 euros. 

A esta atração juntam-se ainda os edifícios do Oceanário, Teatro Camões, Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva (que era o do Conhecimento dos Mares), Pavilhão Atlântico (também designado Pavilhão da Utopia e recentemente rebatizado Meo Arena) e Casino de Lisboa (antigo Pavilhão do Futuro).

Mas nem tudo foi um caso de sucesso. A marina é um dos exemplos contrários e atualmente tem mais problemas do que barcos – isto porque, segundo especialistas, a obra foi concebida e executada de forma deficiente. A sua localização, num trecho da margem do rio Tejo conhecido pela elevada taxa de envasamento com lodos, leva a que haja assoreamentos constantes até aos dias de hoje.

Também a Parque Expo – empresa criada em 1993 para construir, explorar e desmantelar a Expo 98, tendo depois alargado as suas competências à escala nacional e internacional – foi extinta no final de dezembro de 2016, cinco anos depois ter anunciado a sua liquidação face às dívidas avultadas que tinha. A decisão foi tomada durante o governo de Passos Coelho, ao apresentar dívidas de quase 225 milhões de euros.

Ao longo dos anos, a empresa de capitais públicos foi aumentando competências à escala nacional, tendo sido responsável, por exemplo, pela gestão de projetos do Programa Polis em diversas cidades e participado em 27 projetos de reabilitação de centros históricos, como Mafra, Vila Nova de Gaia, Viseu, Évora, Marvão e na Baixa pombalina, em Lisboa, e na recuperação ou construção de equipamentos públicos, como a Casa das Artes, no Porto, ou a fortaleza de Sagres.

Fora de Portugal, também geriu a participação portuguesa em exposições internacionais após a Expo 98, como na exposição de Saragoça ou na de Xangai, e participou em projetos internacionais em Angola, Argélia, Brasil, Cabo Verde, Egito, Espanha, Marrocos, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Tunísia.