Alcindo Monteiro, o homem português nascido em Cabo Verde e morto em 1995 em Lisboa, faria 50 anos. Hoje assinalam-se 23 anos da sua morte.
No dia 10 de junho de 1995, Alcindo, na altura com 27 anos e residente no Barreiro, tinha vindo a Lisboa para se divertir. Nessa mesma noite, um grupo de skinheads iria agredir várias pessoas – todas elas negras. Alcindo morreu nessa noite, espancado pelos agressores. Foi encontrado sem sentidos na rua Garrett.
Várias pessoas foram transportadas para o Hospital de São José. “Hemorragias sub-pleurais e sub-endocirdicas; edema pulmonar; graves lesões traumáticas crânio-vasculo-encefálicas; lesão no tronco cerebral; edema cerebral muito marcado; fractura da calote craniana”, revela o relatório médico da altura, citado pelo site Observador.
Essa foi também a noite em que muitos comemoravam: passados 18 anos, o Sporting tinha voltado a vencer a Taça de Portugal. A segurança estava focada nos festejos dos leões – nada fazia prever que, muito perto dos locais das comemorações, um homem estava a ser espancado até à morte e outros 10 estavam a ser agredidos violentamente. Mas a verdade é que a identificação dos agressores acabou por ser rápida. A forma como se vestiam ajudou: “as calças de ganga curtas e dobradas no fundo, para mostrarem as botas de biqueira de aço – na maioria da marca britânica Doc Martens e Sendra -, as t-shirts e calças com padrão camuflado, blusões negros, e o cabelo rapado – um suposto sinal de limpeza”, como descreve o Observador.
O objetivo deste grupo de skinheads era, exatamente, fazer uma ‘limpeza’ daquilo que consideravam não pertencer à sua sociedade ideal. Tinham acabado de vir de um jantar de comemoração do dia 10 de junho, Dia de Portugal (mas também de Camões e das Comunidades Portuguesas), e as ideias nacionalistas radicais vinham mais à flor da pele. Alcindo tinha acabado de se despedir dos amigos e ia a caminho do barco para voltar para casa quando se cruzou com o grupo. Murros, pontapés, bofetadas, Alcindo foi espancado em todas as partes do corpo, até perder os sentidos.
Tudo isto aconteceu por volta das 01h00. Depois das agressões, o grupo seguiu caminho para se encontrar com o resto das pessoas que tinham participado no jantar. Segundo o Observador, já passava das 02h00 quando a polícia reagiu.
Nove pessoas foram detidas naquela noite. Uma delas tem um nome que voltou a estar nas notícias recentemente: Mário Machado. Era um militar no ativo – 2º Cabo da Polícia Aérea da Força Aérea Portuguesa. Ao todo, foram identificados 17 arguidos, julgados por um crime de homicídio e dez ofensas corporais. A soma de todas as penas deu 201 anos de prisão – recorde-se que, em Portugal, a pena máxima é de 25 anos por indivíduo.
Mário Machado cumpriu a pena a que foi condenado (quase cinco anos de prisão) pelas agressões físicas que cometeu neste dia. Agora, formou um novo partido nacionalista, Nova Ordem Social (NOS), e é candidato à liderança da claque do Sporting Juventude Leonina.
Na apresentação da sua candidatura, disse que o objetivo era "‘desgangsterizar’ a Juventude Leonina", considerando "lamentável o que aconteceu em Alcochete (…) Foi presa a arraia-miúda. Ainda falta o mandante, de dentro da claque, e também alguém que permitiu a entrada nas instalações."
Quanto ao que aconteceu há 23 anos, Mário Machado não costuma fazer muitos comentários sobre o assunto, mas alega que a falta de “informação” teve um papel importante nas decisões tomadas:“Nós, à época, não tínhamos tanta informação como agora. Por isso evoluímos. Obviamente nenhum adolescente tem o mesmo tipo de comportamento quando tem 18 ou 37 anos”, disse em entrevista ao Observador, há dois anos. “Se soubesse o que sei hoje tinha feito tudo de forma diferente. Deixei-me levar pelo espirito de grupo”, explicou.