Balanço de Rui Rio à frente do PSD

Rui Rio não gosta de Lisboa e tem vindo a tirar o PSD da capital. Mas está a cometer um erro

Rui Rio foi eleito em janeiro de 2018, com congresso em fevereiro. Desde então passaram quatro meses, o tempo suficiente para que se possam analisar as medidas mais emblemáticas e ensaiar um breve balanço.

Rio arranjou uma nova sede no Porto onde passou a trabalhar – uma vez que, segundo se noticiou, não pretendia passar a semana em Lisboa. Assim, o PSD tem agora duas sedes. 

Quanto aos conselhos nacionais, órgão máximo do partido entre congressos, também diversificou: o primeiro teve lugar no Porto e o segundo em Leiria. 

Além disso, o aniversário do partido foi comemorado em Beja e as recentes jornadas parlamentares foram na Guarda. 

Ou seja, é evidente uma vontade de tirar o PSD de Lisboa, da sua sede na S. Caetano à Lapa. E constata-se que Rui Rio não teve nenhum encontro com os militantes da capital desde que é presidente do partido, pese embora já ter ido duas vezes a Beja – uma por ocasião da Ovibeja e outra, como se disse, no aniversário do PSD. 

Rui Rio tem uma estratégia bem definida de descentralizar o partido, de o levar para a província, sobretudo para o interior desertificado. Tem sobretudo a óbvia estratégia de não ter um partido sulista, elitista e liberal… Aliás, nunca escondeu que não gosta da capital, dos políticos da capital e dos media, que acha perniciosos. 

Acontece que esta estratégia de tornar o PSD um partido provinciano me parece francamente errada, porque não adianta ao PSD querer ser rural quando as pessoas querem ser urbanas e viver nas cidades — em Lisboa, em Loures, em Odivelas, em Mafra, em Vila Franca de Xira, em Sintra, na Amadora, em Cascais.

Outra vertente da liderança de Rui Rio teve a ver com os acordos celebrados com o PS. Creio que foram positivos, pois correspondem a necessidades do país — e os cidadãos (e eleitores) querem que os partidos se entendam. Foram passos no sentido certo. 

Outra medida emblemática foi a criação do Conselho Nacional Estratégico, uma espécie de Governo-sombra. A ideia é muito boa, mas a operacionalização tem sido difícil. Como foram escolhidos muitos porta-vozes de fora de Lisboa, que não conhecem a imprensa nem são por ela conhecidos, torna-se problemático passarem a mensagem e as posições do PSD. 

E tem havido atropelos notórios. Ainda agora Silva Peneda, que é coordenador da área de ‘solidariedade, sociedade e bem-estar’, e nem sequer é porta-voz, deu uma entrevista a um jornal diário a admitir a votação favorável do Orçamento do Estado. Ora, isto não é assunto da competência exclusiva da direção?

O PSD deve aproveitar este tempo em que o Governo e o PS vão estar a braços com o caos na saúde e na educação para corrigir estes aspetos: apostar na proximidade aos militantes e potenciais eleitores dos grandes centros urbanos, e melhorar a comunicação, passando melhor a mensagem.