Trump, Putin e a decadência europeia

Será que os políticos  da UE ainda não vislumbraram que a Europa se encontra sob assalto, com a ameaça a atuar no interior das suas muralhas sob a capa de partidos infiltrados que a minam?!

A criação da atual União Europeia, há cerca de setenta anos, não primou pela coerência da construção de uma união entre os Estados europeus que no Ocidente se encontravam libertos do jugo da então União Soviética.

Argumentou-se que só um forte poder económico europeu, unindo os Estados ocidentais num bloco coeso, seria capaz de resistir à ameaça soviética que se agigantava sobre a Europa ainda livre. 

O objetivo era criar uma união apta a resistir às sucessivas investidas do Kremlin, como a tentativa de instaurar um governo comunista na Grécia, o ataque à Pérsia com perdas geopolíticas, o bloqueio dos acessos terrestres e marítimos da Alemanha aos setores ocidentais de Berlim que a inépcia americana deixara encravada na RDA, entregue ‘grátis’ a Estaline; e a descoberta de mísseis russos na Cuba sovietizada, apontados ao coração dos Estados Unidos – situação que, por um triz, não fez eclodir a III Guerra Mundial!

   

Passaram-se decénios e a Europa, respaldada pela garantia de Washington em defendê-la através da NATO, foi onerando o aliado americano com o peso dessa ‘ingrata’ despesa com as coisas da Segurança e Defesa, passando este a suportar a fatura em cerca de 50%! Ou seja, dos atuais 29 Estados ocidentais que a constituem, uma única potência passou a arcar com metade de todo o orçamento, enquanto os seus parceiros europeus distribuíam entre si o ‘pesado fardo’ da outra metade! 

Isto permitiu aos partidos e políticos europeus dedicarem-se mais às benesses económicas, financeiras e à conquista de votos para alcançarem ou se manterem no poder – até porque, no Ocidente europeu, as despesas militares são consideradas um ‘encargo’, sob o antipatriótico argumento de que agora já não existe uma ameaça militar contra o Ocidente! 

Esta perigosa imagem tem sido disseminada através da influência perniciosa dos partidos marxistas-leninistas da extrema esquerda, que a concretizaram num ápice na extinção do serviço militar obrigatório, com as juventudes partidárias a evocarem ‘justas lutas patrióticas’!

E atingiu-se aquele primeiro ponto de rutura que está a fraturar a Europa dita democrática: a abissal diferença entre o norte europeu rico e o sul pobre, com este a viver de esmolas e em constante instabilidade política. E onde as oligarquias, apenas pensando em si e no partido, gastam biliões em falsas medidas, endividam os países e tornam-nos mais dependentes do norte próspero.

O segundo ponto de rutura concretizou-se com a trágico-comédia do Brexit e seu impacto na NATO, pelo facto de o Reino Unido ser um importante suporte militar europeu, ser uma potência nuclear e constituir uma parceria sólida e privilegiada de um século com o ‘primo’ americano, agora posta em causa por Trump!

Finalmente, o terceiro ponto de rutura: a captura da Turquia para a órbita soviética, tão ansiada por Moscovo desde há séculos, mercê da megalomania de um ditador fundamentalista que preferiu trocar as anteriores boas relações com Israel pelo regime totalitário e religioso radical dos aiatolás iranianos! Este pernicioso evento para a NATO (e para toda a segurança do sul da Europa) é grave, pois representa uma brecha a sudeste e a sul do sistema de defesa da UE, cujas consequências se farão sentir de imediato. 

 

Esta crise encontra-se ainda estreitamente associada às migrações forçadas oriundas do Arco de Crises, que se estende do Afeganistão à Tunísia passando pelo Irão e Síria, fomentadas pelo Kremlin em estreita associação com os movimentos terroristas e criminosos que suporta – a quem interessa de há muito provocar mais este desequilíbrio no ‘ventre mole’ do sul da União.

Daí a questão: por que será que os políticos europeus colocados nos lugares de topo e na cúpula da UE parecem não se aperceber desta situação que se degrada dia a dia? Será que a manutenção nos seus cargos pagos a peso de ouro tudo justifica? Ainda não vislumbraram que a Europa se encontra sob assalto, com a ameaça desde há muito a atuar no interior das suas muralhas sob a capa de partidos infiltrados que a minam?!