Estão os ambientalistas agora deveras preocupados com um furo de prospeção de petróleo ao largo de Aljezur, a cerca de 30 kms da costa.
Dizem alguns entendidos que no fundo do mar português estará o maior veio de petróleo e de gás do Atlântico.
Não sei se é assim ou não. Se calhar, tirando esses especialistas, ninguém mais sabe. Por ventura, nem o Estado português sabe o que tem no fundo do mar.
Ou saberá. E talvez por isso seja ainda mais importante a luta estratégica – aliás já assumida por Governos anteriores mas que é cavalo de batalha da atual ministra do Mar, Ana Paula Vitorino – pela extensão da plataforma marítima.
Daí que, ao contrário do que dizem os ambientalistas fundamentalistas e catastrofistas, o furo de prospeção devesse ser, afinal, quase obrigatório.
Em primeiro lugar, porque um furo de prospeção tem impacto ambiental nulo – neste caso, nem visual tem, já que fica 30 kms ao largo.
Em segundo lugar, porque é obrigatório o Estado saber quais os recursos do país em todo o seu território, seja terrestre, seja marítimo ou subaquático.
Se deve haver ou não exploração futura – caso se confirme a existência de petróleo ou de gás ao largo de Aljezur – é outra questão (esta, sim, bem mais interessante, não só mas também do ponto de vista ambiental). Até porque há muito por onde debater e polemizar.
Trocar o paraíso algarvio pela exploração de petróleo em terra ou juntinho à costa de areia branca e água cristalina não fará sentido. Fazê-lo ao largo é coisa totalmente diferente – os Estados Unidos, o Brasil, a Venezuela, o Dubai, o Qatar, a Austrália, a Indonésia, Timor perderam no turismo por explorarem petróleo?
Identificados e controlados os riscos, se o ganho previsível for a riqueza do Estado a ponto de permitir a redução da ignominiosa carga fiscal, então a coisa fiará mais fino. Mas veremos.
Porque a exploração de petróleo, para já, em Portugal, ainda é uma não questão.
E os ambientalistas deviam era estar bem mais atentos a problemas reais e atuais, como a lavagem de tanques de cargueiros e petroleiros em águas territoriais nacionais ou, coisas bem mais importantes, o desassoreamento das nossas praias e o assoreamento das nossas rias.
Não são os furos de prospeção de petróleo que dão cabo dos nossos recursos nem dos barris de turismo que tanto exportamos.
Os nossos verdadeiros paraísos costeiros estão em risco, mas por outras causas.
Olhem para as rias, senhores. O assoreamento de uma e de outra é criminoso – na Formosa vão desaparecendo os bancos de ostras, enquanto na de Aveiro já quase se atravessa a pé da Béstida à Torreira.
Numa e noutra resistem tesouros nacionais, da fauna e da flora, mas também ambientais e de paisagens deslumbrantes e de bem estar… e de bem comer.
Na Formosa, do inigualável Gigi (na Quinta do Lago) ao Estaminé da D. Isabel e do Sr. Vargas (na Deserta) ou aos tradicionais Fialho (no sítio do Pinheiro, entre Luz de Tavira e o Livramento) e a Fábrica (em Cacela Velha).
Na de Aveiro, do Avenida (na Torreira) ao Moliceiro e ao Bico (no Cais do Bico, na Murtosa), ao Escondidinho (em Pardelhas), ou ao célebre Oxalá (em frente à marina de Ovar e Furadouro).
Antes, a meio caminho entre a Torreira e Ovar, fica o Areínho (da Ria, não do Douro, em Gaia). Há lá uma ilhota que há muitos e bons anos foi restaurante e esplanada de primeira, a Vela.
O sítio é de sonho. Estar assim desperdiçado e abandonado, é um pesadelo.
Sem explicação.
Que a tem. Porque a Câmara de Ovar ainda no final de 2017 abriu concurso para a exploração do espaço por 10 anos e deu em nada.
Justificam os locais que só em impostos os encargos são tantos que não há réstia de esperança em recuperar o investimento necessário.
A começar pelo chamado imposto de recursos hídricos: é que este é proporcional à área confinante (ou até menos de 50 metros) da linha de água; ora, tratando-se de um restaurante que ocupa a ilhota toda, só de imposto mensal é um balúrdio.
Assim, continua fechado, em degradação acelerada e sem gente interessada na sua recuperação e exploração.
É um atentado. Enfim…
Já a Pousada da Ria, a caminho de S. Jacinto, é outro paraíso perdido no tempo.
Não se pode continuar a perder ainda mais tempo.
Salvem-se as rias e o que, nelas, potencia o turismo de qualidade. Daquele que não empesta os nossos paraísos ambientais com o lixo e o plástico que já inundam muitos outros paraísos perdidos do mundo.
Porque a economia e o ambiente não são necessariamente conflituantes.
Não raro, antes pelo contrário, são o melhor garante de uma e do outro, porque reciprocamente dependentes.
As nossas rias e as nossas praias são a melhor prova disso.
Temos é de começar a olhar bem para elas. E cuidar de as cuidar.