A Inflexibilidade negocial da URSS-Rússia

Desde os tempos da unificação da Moscóvia que a atitude política e militar da Rússia dos czares, passando pela carnificina da guerra civil até à instauração do implacável regime soviético de Estaline, se traduziu sempre por uma sobranceria negocial, tanto com aliados como com adversários, num quase perfeito jogo de dividir para reinar. E aproveitando…

Desde os tempos da unificação da Moscóvia que a atitude política e militar da Rússia dos czares, passando pela carnificina da guerra civil até à instauração do implacável regime soviético de Estaline, se traduziu sempre por uma sobranceria negocial, tanto com aliados como com adversários, num quase perfeito jogo de dividir para reinar. E aproveitando ao máximo o estado de fraqueza física ou moral destes. 

Este é o lado negativo da prática das relações internacionais, nelas intervindo a geopolítica, a geoestratégia e a estratégia geral do Estado.

Esta política de atuação enviesada atingiu a sua expressão máxima logo no início da II Guerra Mundial, com Estaline a não hesitar em celebrar um pacto de guerra com Hitler – com os dois regimes imperialistas de extrema-esquerda e de extrema-direita a dividirem entre si os despojos da Polónia. 

E depois – e até 1945 – a exercer fortes pressões de índole belicosa sobre os seus aliados de ocasião, as quais vieram a culminar no consentimento destes em deixarem Berlim encravada na área alemã conquistada pela URSS, o que ia originando a III Guerra Mundial!

Mas ofuscados com os ‘devaneios’ e as diabruras de Yeltsin, os políticos da Europa democrática parece nada terem aprendido com a história recente da diplomacia moscovita. Ao baixarem a guarda, tornaram-se umas marionetas às mãos deste novo e implacável czar – o qual, depois de ter eliminado todos os opositores, se transformou de forma quase simpática num ‘homem novo soviético’, regime sob o qual serviu na KGB e nas forças especiais Spetnaz. 

Aí, e tendo aprendido todas as nuances ancestrais da implacável e irredutível forma russa-soviética quando em negociações diplomáticas, tem praticado o ‘levar tudo e não deixar nada’, quer aos aliados quer aos adversários. Daí o termo ‘roleta russa’, tão do agrado de um elemento carismático de um bloco esquerdista de um país bom aluno!

Esta introdução visa alertar os governantes e políticos europeus que ainda são patriotas (o oposto à ‘luta patriótica’ por uma pátria euroasiática que é de outrem e de certos partidos) para a forma como até agora têm conduzido as negociações diplomáticas nas intermináveis conferências e negociações entre a União Europeia e a Rússia de Putin. Negociações que decorrem desde 1997, com a assinatura do Acordo de Parceria e Cooperação entre a UE e a Rússia, com início nas cimeiras de Birmingham e de Viena – tendo a 23ª Cimeira tido lugar em Khabarovsk em meados de 2009. Assim – e devido à intransigente e histórica política russa em conseguir ‘um tudo a ganhar e nada a ceder’ acima explanada -, as relações entre estes dois atores das relações internacionais encontram-se num impasse.

 A cultura russa-soviética que continua a ser seguida, e o rígido comportamento moscovita em negociações, impõem como objetivo permanente ganhar tudo através da conquista ou destruição do adversário. Face a este princípio, a tática negocial do Kremlin visará logo de início obter um acordo o mais genérico possível, com a não assunção de compromissos, assim evitando fazer concessões que possam ser interpretadas como sinais de fraqueza. Os seus negociadores são previamente ‘formatados’ para assumirem uma total rigidez quanto a cedências, com isso fazendo desesperar os ‘simpáticos’ europeus democráticos, que acabarão por ceder.

Este desgaste traduz em permanência um estilo belicoso de exigências por parte dos negociadores russos, que tenda a mostrar às televisões que a culpa do impasse é da UE, ganhando tempo para receberem rígidas instruções do Kremlin. E como a União é uma coligação de Estados, presta-se ao emprego da arma favorita da cultura soviética: fraturar, abrir brechas e dividir os frágeis e pouco coesos governos democráticos europeus, tarefa bastante fácil até porque estes se encontram infiltrados por partidos da extrema-esquerda que desde sempre lhe obedecem cegamente. Daí a ‘luta patriótica’!

Não será pois de estranhar a contradança entre Putin e a MNE austríaca, com a história de 1940 a repetir-se, não com Molotov e Ribbentrop mas com os representantes de dois regimes antagónicos em plena festa de casamento.