A rentrée de Rui Rio

António Costa deu a oportunidade e o protagonismo a Fernando Medina, definitivamente entronizado como delfim

Rui Rio anunciou para 1 de setembro o regresso à atividade política, depois de um mês de férias no Algarve, mas não no Pontal, no tradicional ‘calçadão de Quarteira’, no mês de agosto. Quando não há dinheiro, não há vícios; se não havia dinheiro, parece-me muito bem que não se fizesse festa às custas dos fornecedores, aumentando as dívidas. 

Indo diretamente às questões políticas, Rui Rio, logo no sábado de manhã, durante um torneio de futebol, declarou que estava contra o eleitoralismo a um ano das eleições. Como afirmou, eram três anos de legislatura e um ano de campanha.

 

Independentemente das opiniões do presidente do PSD, deste campeonato também fazem parte o PS, o BE, o PCP, o CDS, o Governo, o Presidente da República, os media, a opinião pública e os eleitores.

Ora, Fernando Medina, em entrevista a um jornal no sábado de manhã, anunciou a descida do preço do passe de transportes na Grande Lisboa, em parangonas tais que não se falou de outra coisa no fim de semana. 

Vale a pena determo-nos nesta entrevista de Medina. 

Em primeiro lugar, o timing: foi escolhido a dedo. António Costa, o PS e o Governo resolveram sabotar – e sabotar é o termo – a rentrée do PSD. Foi oficialmente dado o tiro de partida para o ano eleitoral que aí vem: europeias, regionais e legislativas.

Em segundo lugar, o entrevistado: António Costa deu a oportunidade e o protagonismo a Fernando Medina, definitivamente entronizado como delfim, de anunciar a boa nova.

 

Quanto ao conteúdo da entrevista, o presidente da Câmara de Lisboa fez o anúncio dizendo que mal tinha iniciado o presente mandato, esquecendo-se todavia de mencionar que já tinha feito (meio) mandato anterior (de 2015 a 2017), no qual exigiu que a Carris passasse a empresa municipal. Aliás, atualmente, a Emel e a Carris são ambas empresas municipais, sendo que é o estacionamento que paga a Carris. No ano passado, foram transferidos 15 milhões de euros da primeira empresa para a segunda. 

Apesar de tudo o que foi prometido com a municipalização, nunca o serviço de autocarros esteve tão mau, nem os utentes tão descontentes. 

Contaminados pela vergonha bloquista do vereador Ricardo Robles, grande empreendedor imobiliário, Medina e seus pares tinham de desistir da habitação por indecente e má figura, e arranjar rapidamente outra bandeira. A bandeira dos transportes permite ainda ao PCP agitar as suas reivindicações. 

 

Também nesta semana, o BE, primeiro, e o PCP, depois, proferiram por fim a frase: estão dispostos a integrar o Governo. Parece-me avisado, sobretudo quando as últimas sondagens são especialmente gravosas para o BE (e para o PSD). 

Ou seja, não só houve rentrée, como António Costa decidiu entrar a pés juntos nela. Vai ser canela até ao pescoço. 

sofiarocha@sol.pt