“Achavam que eu era como o meu pai”

Maria Antónia Almeida Santos revela que a acusavam de ter subido à custa do pai. Clara Marques Mendes não pensava seguir os passos do pai e Nuno Encarnação andou ao colo de Sá Carneiro. Os três confessam que não é fácil ser filho de político.

Em Portugal, há muitos exemplos de políticos que tiveram filhos que também optaram pela vida política. Os mais novos falam numa «responsabilidade acrescida» e na «pressão» que sentiram quando decidiram seguir as pisadas dos pais. E revelam que muitas vezes ouviram comentários negativos que questionavam o seu mérito.

Maria Antónia Almeida Santos, atual porta-voz dos socialistas, é filha de António de Almeida Santos, uma figura histórica do PS. Para a deputada, isso trouxe-lhe «mais vantagens do que desvantagens» no seu percurso político. «Principalmente porque a política entrava em minha casa todos os dias. Conversávamos sobre temas da atualidade. Se não fosse essa ligação de ter um pai político, eu estaria fora desse mundo», conta ao SOL.

A socialista afirma que o pai nunca a «incentivou nem desincentivou» a entrar para um partido. Contudo, reconhece que quando quis fazê-lo teve a ajuda de Almeida Santos.

Mas o grau de parentesco com o presidente honorário do PS não lhe trouxe apenas benefícios. Maria Antónia Almeida Santos afirma que, no início da carreira política, perdeu a sua «identificação» e «características», porque «achavam que, como era a filha do Almeida Santos, era como ele». «Isso fez com que eu tivesse uma responsabilidade acrescida porque não chegava nem de perto nem de longe à figura do meu pai, que tinha uma experiência enorme e era cultíssimo. De vez em quando sentia-me um bocadinho intimidada com essa identificação que as pessoas faziam só através do meu nome», refere.

«Felizmente», descreve a deputada do PS, esse período não durou muito tempo. «As pessoas acabaram por perceber que éramos pessoas diferentes que apenas partilhavam muitos ideais», refere.

Apesar de partilharem ideais, Maria Antónia Almeida Santos recorda que nem sempre estiveram do mesmo lado dentro do Partido Socialista. «Muitas vezes ele apoiava um candidato e eu apoiava outro. E isso nunca foi problema nenhum, principalmente porque ter sido filha de um político como era o meu pai fez com que aprendesse a respeitar as opiniões diferentes», revela.

A deputada socialista admite que chegou a receber comentários que insinuavam que tinha chegado onde chegou no partido por ser filha de Almeida Santos, mas isso não a incomodava. «Nunca foi uma coisa que me marcasse: ou pelas pessoas que faziam esse tipo de comentários – que não mereciam grande atenção – ou porque percebia que era a circunstância. Nunca valorizei muito isso», afirma.

Do lado do PSD, também há nomes familiares que se repetem. A deputada Clara Marques Mendes é filha de António Marques Mendes que começou na política local de Fafe e foi deputado do PSD em cinco legislaturas, entre 1976 e 1991. 

A advogada conta ao SOL que, quando entrou na política, notou que havia uma «tendência» para exigirem que ela fosse aquilo que o pai foi, o que lhe colocou uma «responsabilidade acrescida». «Até porque o meu pai sempre foi uma pessoa muito respeitada e admirada por aquilo que fez na sua vida», acrescenta.

Clara Marques Mendes salienta que os políticos cujos pais também estiveram na política têm «uma carga mais forte» do que as pessoas que não têm um termo de comparação. «Há sempre a inclinação de dizer ‘tem de ser igual ao pai’ ou ‘vai ser igual ao pai’», defende.

Ter um pai político fez com que estivesse mais «atenta» a esse mundo, mas a deputada nunca pensou seguir o caminho do pai. «As conversas em casa obviamente que eram sobre a vida política. Portanto, eu estava a atenta e gostava de ouvir e de me inteirar sobre as situações. Mas nunca tive sequer vontade de ir para a vida política», conta.

A entrada na carreira partidária surgiu de forma inesperada quando, em 2011, recebeu um convite do presidente da Concelhia Política do PSD de Fafe. E Clara Marques Mendes refere que não foi «de todo» influenciada pelo pai, até porque António Marques Mendes já estava fora da política nessa altura. 

Além do pai ter sido político, a social-democrata tem outro familiar nas lides partidárias: é irmã do ex-líder do PSD Luís Marques Mendes. A deputada afirma que muitas vezes são feitas comparações, mas que lida bem com isso. «Acima de tudo tenho um orgulho enorme no meu irmão como tinha no meu pai, que já faleceu. Aquilo que eu sinto é que as pessoas associam o nome Marques Mendes ao pai e ao irmão. Mas eu confesso que não valorizo. Para mim é muito fácil lidar com isso», garante.

 

«Quando era criança passei várias noites na sede do PSD»

Quem também seguiu o exemplo do pai ao enveredar pela vida política foi o filho do dirigente social-democrata Carlos Encarnação. Nuno Encarnação, que está atualmente afastado da política, foi vice-presidente da distrital do PSD de Coimbra e, em 2009, 2011 e 2015, ocupou o assento de deputado na Assembleia da República.

O agora comentador televisivo da área do desporto conta ao SOL que o facto de ter crescido «dentro da política» jogou a seu favor. «Aprendi muito com isso: a ouvir conversas políticas em casa e a conhecer quase todos os líderes do PSD – por exemplo, Sá Carneiro que andou comigo ao colo», explica.

Nuno Encarnação nasceu apenas dois anos antes da fundação do PSD – na altura PPD – e, por isso, acompanhou o partido desde o início. «Passei noites em várias sedes do partido, quando era criança, porque sempre acompanhei os meus pais nessa atividade», descreve. 

Para o ex-deputado, ter essa «vivência política desde bebé» foi uma vantagem quando chegou à Assembleia da República. 

Apesar de reconhecer que ser filho de um político «tornou tudo muito mais fácil», Nuno Encarnação está convencido de que  talvez fosse político na mesma se tivesse nascido noutra família, porque gosta realmente de política. «É das coisas que mais gosto na vida. E é evidente que ser filho de um político teve uma grande influência. Mas sempre gostei da política, do debate político e da troca de ideias», refere.

Quando começou na política, o ex-deputado ouviu comentários negativos «ou porque era muito novo ou porque era filho de quem era». Contudo, refere que, ao longo da sua carreira, conseguiu afirmar-se nas diferentes funções que desempenhou, desde líder da JSD de Coimbra a deputado.

Nuno Encarnação salienta ainda que. apesar de serem do mesmo partido, não corrobora todas as posições políticas do pai. E recorda que já apoiaram candidatos diferentes à liderança do PSD. «Quando ele apoiou Durão Barroso para líder do partido, eu apoiei Marques Mendes», lembra.  

Maria Antónia Almeida Santos, Clara Marques Mendes e Nuno Encarnação têm o mesmo gosto pela política que já tinham os pais. O futuro dirá se deixarão uma marca tão forte como deixaram os seus familiares.