Montepio em clima eleitoral

Apesar das incertezas em relação a uma possível recandidatura por parte de Tomás Correia, João Costa Pinto e João Proença assinam manifesto de rutura contra o atual líder.

Montepio em clima eleitoral

Já começou a contagem de espingardas para as eleições da Associação Mutualista Montepio Geral, marcadas para 7 dezembro, e já surgem também movimentos a apelar a mudanças profundas na instituição liderada por Tomás Correia. Bem como a defender a rutura com o atual líder. Ao que o SOL apurou, o presidente ainda não decidiu se irá recandidatar-se, mas, caso avance, será para o seu último mandato. Para já, ainda só deu uma garantia: depende de «muita interação, muito diálogo em torno do caminho e das pessoas mais hábeis para percorrer o caminho». As listas de candidaturas terão de ser entregues entre 1 e 31 de outubro. 

Mas enquanto não é oficializada a posição de Tomás Correia, a oposição à atual gestão têm-se multiplicado para encontrar um candidato alternativo ao atual presidente. O ex-vice governador do Banco de Portugal, João Costa Pinto – que até à pouco tempo admitia a possibilidade de avançar, mas acabou por recuar -, assinou um manifesto juntamente com João Proença a defender ‘um Montepio competente, solidário e responsável’. 

Segundo o manifesto, «no perfil dos candidatos inclui-se, não só a competência para o desempenho de cada particular função, como a completa ausência de suspeições de idoneidade que decorram de processos judiciais em curso ou de comportamentos de ética duvidosa». 

João da Costa Pinto, em entrevista ao i, já tinha admitido que estava disponível para dar o seu contributo para a reorganização da Associação Mutualista. «Como associado do Montepio e como economista que dá importância ao grupo Montepio, com certeza que estaria disponível para dar o meu contributo a um processo de reorganização do Montepio que, no essencial, respeitasse os princípios fundadores e permitisse consolidar a sua posição na sociedade portuguesa», revelou o economista, acrescentando ainda que «não faria sentido que andasse há anos a chamar a atenção para os problemas que se foram desenvolvendo no Montepio e depois me pusesse de lado relativamente a um esforço no sentido de encontrar as melhores soluções». 

Também o atual administrador da Associação Mutualista Fernando Ribeiro Mendes estará a movimentar-se para avançar com com uma candidatura. «É preciso acabar com a deriva estratégica que nos tem assombrado de grandiosos sonhos que hoje sabemos que foram irrealistas», chegou a afirmar nas Jornadas de Reflexão Mutualista, realizadas no início de junho.

Ainda não há certezas em relação a António Godinho, que nas últimas eleições era apoiado por Braga Gonçalves – antigo homem forte da Moderna e que esteve detido durante quatro anos – e contava com nomes como o sindicalista João Proença, o ex-ministro das Finanças António Bagão Félix , o general Pinto Ramalho e Vítor Batista, que foi deputado socialista e governador civil. Godinho é um ex-trabalhador do Montepio, mas acabou por sair para se dedicar ao mundo dos negócios. Fundou o grupo Onebiz, que oferece redes e serviços em sistemas de franchising. 

 

Obrigatória lista de continuidade

Segundo os estatutos das Associações Mutualistas o atual conselho de administração é obrigado a apresentar uma lista de continuidade, mesmo que não mantenha os mesmos administradores que estão ainda em funções. Até 2003, houve sempre apenas uma lista a eleições, só no final desse ano é que começaram a surgir candidaturas alternativas. Nessa altura, coube a António Maldonado Gonelha, ex-ministro do Trabalho e da Saúde, para fazer face à lista de José da Silva Lopes que saiu vencedora.

A partir daí, o interesse pelas eleições no Montepio foi ganhando maior relevo e as listas também se foram multiplicando. Exemplo disso, foi o que aconteceu no último ato eleitoral: apareceram na corrida quatro candidaturas e foi possível, ao mesmo tempo, encontrar um pouco de tudo, de ex-políticos a dirigentes sindicais, contando ainda com apoios públicos, nomeadamente com figuras ligadas às artes, como a fadista Mariza e o cantor brasileiro Ivan Lins, Filipe La Féria ou o gestor Rui Nabeiro. 

A lista liderada por Tomás Correia venceu as eleições para a Associação Mutualista com 58,7% dos votos, mas envolvida em forte contestação. Uma das candidaturas derrotadas – de António Godinho, um dos rostos do projeto ‘Renovar Montepio’ – chegou a pedir a impugnação dos resultados, nomeadamente por não ter sido possível às listas da oposição assistir ao processo de validação dos votos por correspondência (mais de 95% dos votos não são presenciais), com o argumento de que os dados dos associados são protegidos por sigilo bancário (uma vez que a validação das assinaturas é feita por semelhança com a assinatura dos clientes na base de dados bancária), considerando que isso facilitaria eventuais falsificações de votos. Mas no ano passado o Tribunal chumbou a repetição das eleições, considerando improcedente o processo que tinha sido intentado.