O estilo dos futebolistas

Hoje as crianças preocupam-se mais com os festejos, as chuteiras e os penteados do que com a bola

Quando perguntamos a um rapaz o que quer ser quando for grande a maioria responde sem pestanejar: jogador de futebol! De preferência o melhor do mundo.

Se há uns anos as crianças jogavam à bola simplesmente porque gostavam, agora mais do que isso veem ali um futuro promissor. A única dúvida que lhes resta é de como irão ser encontrados no meio de tantos candidatos. Com o último Campeonato Mundial de Futebol houve mesmo crianças que descobriram o gosto pela modalidade e passaram a imaginar-se numa das próximas competições.

As escolas de futebol proliferam e são raros os rapazes que não frequentam uma.

Mas além de ser um imaginário tapete vermelho para a fama e riqueza, o futebol segue agora toda uma nova filosofia que vai muito além da modalidade.

Futebol deixou de ser jogar à bola para estar associado a uma série de mariquices que parecem acompanhar um certo movimento de vaidade dos rapazes.

Há dias, fiquei perplexa quando num jogo de mímica uma criança, para representar uma bola, fez uma série de festejos e exibições cheias de estilo sem fazer qualquer menção à bola em si. Estávamos todos curiosos e intrigados com o que aquilo representava até ele se lembrar de fingir que dava um chuto numa bola. Finalmente fez-se luz!

O futebol dos rapazes de hoje é este. Se antigamente jogavam por prazer, agora quase mais importante do que fazer um bom jogo é a preocupação com a escolha do festejo que se segue ao golo, quais as chuteiras que vão calçar, o estilo que terão a fintar e a correr atrás da bola, o equipamento que vão usar, o penteado que vão fazer – o mais medonho e imprevisível possível, de preferência com direito a gel, cristas, riscas e estrelinhas ou outros desenhos – e, num grau mais avançado, os brincos, as tatuagens que vão escolher e até o perfume! Querem parecer-se com os melhores jogadores sem percebem que a maior qualidade destes é precisamente jogarem bem, mas em contrapartida nunca primaram pelo bom gosto, muito pelo contrário. Desde sempre, e ao longo de todos os estilos adotados, são raros os jogadores com boa pinta. Dar nas vistas raramente é sinónimo de estilo. E no fim, a cereja no topo do bolo, já se imaginam no estádio com ovações, contas milionárias e uma garagem cheia dos melhores carros.

Esta religião é acompanhada por rituais que estão descritos ao pormenor em alguns canais do YouTube, com o Futparódias no topo da lista. Os vídeos mostram as proezas dos jogadores ou os lances mais estrambólicos, comparados com os quais as jogadas mais fantásticas se transformam em momentos totalmente insípidos e desinteressantes. Tudo acompanhado por músicas que ocupam quase todo o reportório das crianças. Depois há ainda os jogos para consolas e tablets e telemóveis tão realistas como viciantes. Ou seja, todo um mundo.

A moda do futebol dissemina também a ideia de que para se ser rico e famoso não tem de se estudar, nem ser bom aluno. Na verdade é difícil entender para que serve a escola quando o futebol se joga com os pés.

Esperemos que esta febre arrefeça e que as crianças amadureçam a tempo de aprenderem que há muito mais coisas fantásticas na vida em que podem ser tão ou mais felizes e bem-sucedidas do que com o futebol. Jogar à bola é bom, é giro e faz bem, mas tudo o que é em demasia estraga.