Detido presidente do Turismo do Porto e Norte por corrupção

Além de Melchior Moreira foram detidos outros dois dirigentes da entidade e dois empresários. O SOL revelou em julho todo o esquema que está na origem das detenções

A Polícia Judiciária deteve hoje o presidente do Turismo do Norte, Melchior Moreira, juntamente com outros dois dirigentes da entidade e dois empresários. Em causa estão suspeitas de corrupção, tráfico de influências e participação económica em negócio, que já tinham sido reveladas em julho por uma investigação do semanário SOL.

Em comunicado enviado hoje, a diretoria do Norte da Polícia Judiciária confirma que durante a investigação foi possível determinar “a existência de um esquema generalizado, mediante a atuação concertada de quadros dirigentes, de viciação fraudulenta de procedimentos concursais e de ajuste direto com o desiderato de favorecer primacialmente grupos de empresas”. A teia montada tinha ainda o objetivo de  contratar “recursos humanos” e utilizar “meios públicos com vista à satisfação de interesses de natureza particular”.

Na chamada Operação Éter “realizaram-se 11 buscas, domiciliárias e não domiciliárias, nas regiões de Porto, Gaia, Matosinhos, Lamego, Viseu e Viana do Castelo e estiveram envolvidos 50 elementos da Polícia Judiciária, incluindo inspetores, peritos informáticos e peritos financeiros e contabilísticos”.

O SOL revelou em julho as empresas que lucraram milhões de euros com o esquema montado pelo antigo deputado do PSD, Melchior Moreira.

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O projeto das lojas interativas de turismo nos vários municípios do norte do país, que arrancou em 2013, foi o início de uma fonte de rendimentos para várias empresas do empresário José Simões Agostinho. Sempre com recurso a ajuste direto, empresas como a Tomi World e a Media 360, em conjunto, conseguiram arrecadar mais de três milhões de euros em ajustes diretos das autarquias do norte e quase 800 mil em ajustes feitos pelo Turismo do Porto e Norte de Portugal.

Outras empresas que têm levantado suspeitas à investigação são as que são detidas ou estão de alguma forma ligadas a familiares diretos do presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso, o socialista Joaquim Couto, como é o caso da sua mulher. 

Joaquim Couto é amigo de Melchior Moreira e basta uma breve consulta no portal Base.Gov para se perceber como a maioria dos serviços prestados por empresas (como Smartwin, My Press, Make It Happen, Mediana ou WGC) ligadas a familiares de Joaquim Couto são a entidades como o TPNP e Câmaras Municipais a região – coincidentemente as mesmas que também adjudicaram serviços às empresas de José Simões Agostinho.

Em julho, a Polícia Judiciária do Porto fez diversas buscas de norte a sul do país com o objetivo de recolher provas, além de ter visitado a sede das empresas de José Agostinho em Viseu, também fez diligências nas instalações da Media 360, no Algarve. Além das empresas e do Turismo do Porto e Norte de Portugal, foram feitas buscas no Sporting de Braga, no Vitória de Guimarães e na Câmara de Viseu – em causa estarão os subsídios concedidos pela entidade regional aos clubes. No total, esclareceu o MP, foram feitas “16 buscas domiciliárias, 34 não domiciliárias”.

A investigação suspeita que Melchior Moreira recebia contrapartidas pelo alegado tráfico de influências, tendo sido uma delas férias no Algarve sem pagar. O antigo deputado do PSD, que é presidente do TPNP desde 2009 e foi reeleito no início de julho para mais cinco anos, disse ver como prioridade a diferenciação da região, adiantando que pretende concluir o projecto da rede das lojas interactivas de Turismo nos 86 municípios.

O SOL revelou entretanto todas as ligações de Melchior Moreira ao autarca de Santo Tirso, que estão na mira das autoridades, e os alegados esquemas que envolvem as lojas interativas e que chegaram a clubes de futebol como o Braga e o Guimarães.