A discussão do OE 2019 na generalidade esteve para António Costa como as últimas semanas da campanha para as presidenciais no Brasil estiveram para Jair Bolsonaro: certos dos objetivos alcançados, fecharam-se ambos em copas (um cerrando a boca no plenário da Assembleia da República e furtando-se ao confronto com os deputados, o outro fechando-se em casa e fugindo aos debates e às perguntas dos jornalistas); e a verdade é que ambos ganharam.
No caso de António Costa, deixando contrafeita uma direita que ficou com todo o ónus da troika e da inevitável austeridade; no caso de Bolsonaro, lançando a esquerda PTista em aziaga reação por ter de pagar a fatura da corrupção como se fosse exclusiva de Lula, Dilma e seus camaradas.
Vamos ao OE 2019.
Com Costa remetido ao silêncio, Mário Centeno, a abrir, e Vieira da Silva, a fechar, foram a guarda avançada para a defesa de um Orçamento eleitoralista que compromete o PS, o PCP e o BE e até o PAN.
A maioria de esquerda que sustentou a ‘geringonça’ ao longo da legislatura aprovou sem problemas o quarto Orçamento do Estado e último do mandato em curso. Que, por ser o último, tratou de agradar às mais variadas clientelas, que isto de um Governo minoritário, ainda por cima sem o partido mais votado, tem o(s) seu(s) preço(s).
E assim foi, mesmo que o ministro da Solidariedade, num discurso despudoradamente agressivo para a maioria que salvou o país da bancarrota, o tenha pretendido negar.
Tratando-se do último Orçamento do Estado de uma legislatura que fica tragicamente marcada pela incapacidade do Estado para garantir a proteção da vida dos seus cidadãos e a salvaguarda do seu património – os incêndios de Pedrógão em junho de 2017 e os de 15 de outubro seguinte causaram mais de uma centena de mortos –, fica mal tanto autoelogio pelo estado das contas públicas.
Não é só vitupério, é desplante e falta de respeito pelo cidadão comum.
Eles, os políticos, fazem do hemiciclo da Assembleia da República uma arena de circo em que o discurso se radicaliza e o insulto impera em oratória de manicura desenvergonhada e sem pruridos.
Rui Rosinha tem 40 anos e 85% de incapacidade resultante das queimaduras que sofreu durante o combate aos incêndios de junho de 2017 como bombeiro voluntário de Castanheira de Pera. Desde esse fatídico dia 17 de junho de 2017, a mulher de Rui está de baixa psiquiátrica e acompanha o marido às sessões diárias de fisioterapia, como o acompanhou nas mais de uma dúzia de operações cirúrgicas a que já se submeteu. Fiscal camarário, Rui Rosinha vai receber até ao fim da vida uma pensão de invalidez de 267 euros – por extenso e em maiúsculas: DUZENTOS E SESSENTA E SETE EUROS!!! Com 85% de incapacidade, 40 anos de idade e com filhos.
Carlos César, no confronto televisivo com Pedro Santana Lopes, disse que Portugal está a convergir cada vez mais com os seus parceiros europeus.
Não é verdade. Mesmo com a economia a crescer, a maioria dos parceiros da UE estão a crescer muito mais. Mesmo com o défice a baixar, ainda estamos no pelotão da frente dos mais deficitários. E já para não falar da dívida pública, em que estamos mesmo na cauda da Europa.
Vieira da Silva, Carlos César e demais parceiros da ’geringonça’ falam de alto e regozijam-se com esta governação de esquerda. Dizem que o país está melhor, que os portugueses recuperaram, que as promessas da ‘geringonça’ socialista estão cumpridas.
Pois sim, ponham os olhos em Rui Rosinha e na carga fiscal sufocante para empresas e particulares, independentemente da cosmética.
Como é possível, aliás, vangloriarem-se de uma pretensa baixa de impostos, se a carga fiscal bate recordes de ano para ano?
E ainda falam grosso estes políticos que insistem em ofender aviltantemente os cidadãos.
Admiram-se eles, depois, que pelo mundo fora, como no Brasil, as eleições acabem por ser decididas entre populistas da extrema esquerda e da extrema direita.
Pois, e a culpa é de quem?