Quatro maiores bancos lucraram 1,5 mil milhões

Dez anos depois da falência do BPN, o setor financeiro voltou aos lucros e nos primeiros oito meses do ano mais do que duplicou os resultados obtidos em todo o ano de 2017.

Dez anos após a nacionalização do BPN – anunciada a 2 de novembro de 2008 por Teixeira dos Santos, na altura ministro das Finanças do Governo de José Sócrates, Vítor Constâncio e Carlos Costa Pina no final de um conselho de ministros extraordinário –, o setor financeiro parece suspirar de alívio. A necessidade de levar a cabo uma medida extrema como a do BPN, perante fortes indícios de irregularidades e incapacidade para cumprir os compromissos, está bem longe da realidade de hoje. Os lucros dos bancos vão-se multiplicando, após vários processos de capitalização. A fatura destas operações foi paga pelos portugueses: nos últimos dez anos, estas operações na banca pesaram 23,7 mil milhões de euros, o equivalente a 23 pontes Vasco da Gama.

E o montante poderá não ficar por aqui. Em maio, o Estado foi chamado a injetar 430 milhões de euros na instituição financeira liderada por António Ramalho no âmbito do mecanismo de capitalização contingente – ao todo o Fundo de Resolução injetou 791,7 milhões de euros. E para o próximo ano, na proposta de Orçamento de Estado, o Governo inclui no cálculo do défice uma despesa de 400 milhões de euros com uma provável nova injeção de capital da instituição financeira. No documento está ainda previsto a possibilidade de o Estado conceder um empréstimo até a um máximo de 850 milhões de euros ao Fundo de Resolução para que este tenha os meios para injetar capital no Novo Banco.

Mas enquanto se vive a incerteza em torno do banco liderado por António Ramalho que ainda não apresentou resultados, as restantes instituições financeiras vão brilhando na apresentação de resultados, nem o banco público escapou a esta tendência. Nos primeiros nove meses do ano, a Caixa Geral de Depósitos, o BCP, o BPI e o Santander Totta lucraram 1,5 mil  milhões de euros, ultrapassando os resultados alcançados em 2017, altura em que estas quatro instituições financeiras lucraram 684,8 milhões de euros, o que mostra um regresso à rentabilidade.

O aumento das margens – em que as comissões estão a ser o ‘motor’ das contas dos bancos – a quebra das imparidades e um esforço na contenção de despesas, nomeadamente em termos de pessoal e de estruturas, ditaram esta tendência de recuperação que já se começou a verificar no ano passado. 

BPI campeão de resultados 

A instituição financeira liderada por Pablo Forero foi a que mais contribuiu para este bolo ao apresentar um lucro de 529,1 milhões de euros, o que representa um face aos 22,6 milhões de euros registados em igual período do ano passado. Só a atividade em Portugal contribuiu com 324,4 milhões de euros (61% do total) para o resultado consolidado, em que mais de metade desta verba é suportada pelo resultado recorrente das operações em Portugal, num total de 164,2 milhões de euros. Este valor representa um crescimento de 20% face ao mesmo período de 2017. O restante valor inclui os ganhos extraordinários com as vendas da participação na Viacer (59,6 milhões de euros já registados no 1º trimestre), da BPI Gestão de Ativos e BPI GIF (61,8 milhões de euros registados no 2º trimestre) e dos negócios de acquiring/TPA (42 milhões de euros registados no 3º trimestre).

As comissões do banco liderado por Pablo Forero subiram 5,6% para 201,5 milhões de euros, «fruto de uma maior atividade comercial do BPI em todos os segmentos de negócio, face ao mesmo período do ano anterior: comissões bancárias (+2,8%), fundos de investimento (+13.1%) e seguros (+8,6%)». Também os depósitos de clientes aumentaram 1.343 milhões para 20.711 milhões de euros. Já os depósitos de investidores institucionais e financeiros registam uma descida já esperada (-44%), «que resulta de uma política ativa do BPI de redução da oferta destes produtos com o objetivo de otimização dos rácios de liquidez». O crédito a clientes registou uma subida de 5,4% para 23.422 milhões de euros, com o BPI a salientar o financiamento às empresas, com este a subir 12% para 7.887 milhões de euros. 
A rubrica de imparidades e provisões também ajudaram as contas: o banco conseguiu reverter 10 milhões de euros em imparidades e recuperou ainda 18 milhões, num total de 28 milhões de euros.

Caixa passa de prejuízos a lucros

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) apresentou lucros de 369 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano. Um resultado que contrasta com as perdas de 47 milhões de euros verificadas em igual período do ano passado e que vai ao encontro do que já se tinha verificado nos primeiros seis meses do ano, altura em que o banco público apresentou um resultado positivo de 194 milhões de euros. 

A instituição financeira liderada por Paulo Macedo diz que este nível de rendibilidade é superior ao que está no previsto no plano estratégico e deve-se à margem financeira ao registar um crescimento de 4% face aos primeiros nove meses de 2017, alcançando 546,4 milhões de euros. Além disso, é fruto do aumento das receitas de serviços e comissões que registaram uma subida de 8,8% até setembro, totalizando os 362 milhões de euros e uma redução dos custos de estrutura de 12,4% de 792 para 695 milhões de euros. 

Já no crédito, assistiu-se a uma redução da carteira, em termos brutos, de 6% para 57 mil milhões de euros. O segmento de empresas perdeu 8,3% para 15 mil milhões de euros, ao passo que os depósitos de particulares recuaram 4,4% para 25,8 mil milhões, tanto na habitação como no consumo.

Santander melhora resultados

Os lucros do Santander Totta subiram 16% para os 385 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, face a igual período do ano passado. A margem financeira situou-se em 654,8 milhões de euros, o que representa uma subida de 26,9% em relação ao período homólogo, e as comissões líquidas totalizaram 277,3 milhões de euros, aumentando 11,4% face a setembro de 2017. Já os resultados em operações financeiras diminuíram 44,3%, atingindo 54,4 milhões de euros.
Os custos operacionais somaram 464,6 milhões de euros, o que equivale a um incremento de 18,6%. A evolução conjugada do produto bancário e dos custos operacionais levou a uma ligeira deterioração do rácio de eficiência (+1,8 p.p.), que se fixou em 47,5% no final de setembro de 2018.

Os recursos de clientes cifraram-se em 39 528 milhões de euros, equivalentes a um aumento de 22,0%. Os depósitos, que representam 84% dos recursos, subiram 21,0%, e os fundos de investimento comercializados e os seguros e outros recursos mantêm uma evolução dinâmica, tendo aumentado 27,5%. Face ao final do ano anterior, os depósitos registaram um incremento de 6,0% e os recursos fora de balanço subiram 17,0%.

A carteira de crédito ascendeu a 41 344 milhões de euros, o que representa um aumento de 17,1%, repartido em variações positivas de 13,2% em particulares e de 23,1% em empresas. O total de crédito manteve-se em linha com o valor registado no final de 2017, justificado principalmente pela venda de carteiras não produtivas. 

BCP quase duplica lucros

O BCP conseguiu obter lucros de 257,5 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, o que representa um acréscimo de 93,1% face a igual período do ano passado. A instituição liderada por Miguel Maya conseguiu obter estes resultados sobretudo por causa da atividade em Portugal que acabou por ter «uma evolução muito favorável». Isto porque só esta atividade doméstica deu um contributo de 114,9 milhões de euros. Também a atividade internacional cresceu e acabou por dar um contributo muito positivo ao melhorar 7,2%, passando de 131,3 milhões de euros nos primeiros meses do ano passado, para 140,8 milhões até setembro deste ano.

A ajudar muito nas contas estiveram ainda as comissões bancárias. As receitas com comissões cresceram 3,1% para 510,1 milhões de euros, entre 2017 e 2018. Só este desempenho ajudou em 15,4 milhões na melhoria dos resultados registados pelo banco.

«Esta evolução beneficiou sobretudo do desempenho favorável da atividade em Portugal, cujas comissões aumentaram 4,4%». Mas não só porque a evolução traduziu o «aumento quer das comissões bancárias, quer das comissões relacionadas com os mercados financeiros». Nestes casos, os aumentos foram de 2,4% e 6,5% em comparação com que era praticado em igual período do ano passado.

Também nas imparidades o banco conseguiu registar melhorias, com uma redução de 26,5% face aos 458,6 milhões de euros registados nos primeiros nove meses de 2017, fixando-se em 337,1 milhões de euros no mesmo período de 2018.