Invasão de Alcochete. Bruno de Carvalho e Mustafá detidos

Casa do ex-presidente do Sporting foi alvo de buscas, tendo sido apreendido o computador da filha. Diligências na sede da Juve Leo, em Alvalade, aconteceram durante o jogo com o Chaves

Faltava menos de duas horas para o jogo Sporting-Chaves quando a bomba caiu: Bruno de Carvalho e Mustafá, líder da Juve Leo, tinham sido detidos no âmbito da investigação às agressões de Alcochete, que aconteceram em maio deste ano. A notícia teve grande destaque, mas não surpreendeu muitos dos adeptos que hoje chegaram mais cedo a Alvalade. 
O antigo dirigente leonino vai ser amanhã ouvido no tribunal do Barreiro.
Durante a tarde de foram ainda realizadas buscas à casa de Bruno de Carvalho, no Lumiar,  – onde os investigadores apreenderam, entre outras coisas, o computador da filha do ex-presidente dos leões – e à sede da Juventude Leonina. Estas últimas diligências obrigaram a um grande aparato policial junto ao estádio de Alvalade. Os investigadores acabaram por abandonar o estádio ainda decorria o jogo, cerca das 21h25. 
A detenção do ex-presidente do Sporting – que deberá passar a noite nas instalações da GNR do Montijo – significa que para o Ministério Público existem indícios de que terá tido uma participação, ainda que indireta, na invasão da academia do Sporting. Neste inquérito do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa foram já detidas 40 pessoas, suspeitas dos crimes de terrorismo, sequestro, ofensa à integridade física qualificada, introdução em lugar vedado ao público, dano com violência, resistência e coação sobre funcionário.
Quando entraram o centro de estágios, seria mesmo intenção dos elementos da Juve Leo agredir os jogadores e os elementos da equipa técnica do Sporting na sequência dos resultados desportivos negativos. Segundo o CM, há várias conversas de whatsapp que deixaram claro às autoridades que o objetivo era usar violência: “Nunca mais se levantam” e “Vão levar no focinho”, sao algumas das expressões.
Os arguidos que aceitaram falar em tribunal nos últimos meses negaram sempre essa intenção, referindo que o objetivo seria conversar. Mas essa teoria nunca convenceu os investigadores, que chegaram mesmo a encontrar num telemóvel de um dos elementos da Juve Leo uma mensagem que previa tudo o que aconteceu: “Malta o melhor é academia!!! Chegar carregar no treino e acabou… Invadimos aquilo”.
Além disso terão ainda discutido sobre quem é que ficava com quem e delineado uma entrada que tinha de ser rápida para que a polícia não chegasse a tempo de os apanhar. Quase tudo correu como previsto, mas logo de imediato a GNR deteve 23 dos elementos.
No sábado seguinte, o semanário “SOL” deu conta de que tudo teria sido feito com o aval de Bruno de Carvalho, que havia dado carta branca à Juve Leo para fazer “o que entendesse”. As indicações terão sido dadas em abril à claque após a derrota por 2-0 frente ao Atlético de Madrid.
Tudo aconteceu numa reunião com a claque para falar dos maus resultados, o ex-presidente terá lamentado que fazia tudo o que podia e que dava tudo, mas que a equipa na correspondia. Segundo aquele semanário um dos elementos presentes, entre os quais se incluíam o líder, Mustafá, e Fernando Mendes, perguntou-lhe: “Queres que a gente dê um ‘aperto’ aos jogadores?” Testemunhas ouvidas pelo “SOL” contam que a resposta de Bruno de Carvalho foi clara: “Dou-lhes carta branca para fazerem o que entenderem”.
Nos últimos meses foram feitas novas detenções. A última foi a de Bruno  Jacinto – funcionário do Sporting que fazia a ligação com os adeptos e com as claques. Este responsável foi um dos que chegou a Alcochete pouco depois das agressões tendo evitado que alguns elementos fossem detidos.
No dia seguinte, por ter tido conhecimento de que haveria um mandado para a sua detenção, Bruno de Carvalho quis apresentar-se no Ministério Público de forma voluntária. “Fui ao DCIAP e chegámos à conclusão que o processo estaria aqui, no DIAP de Lisboa, mas afinal está com o juiz de instrução”, disse Bruno de Carvalho justificando que não pôde assim ser ouvido. 
A essa altura já tinha sido recusado o estatuto de assistente – pessoa que colabora com o Ministério Público –, e como o i noticiou tal recusa já fazia prever que sobre si recaiam suspeitas, ainda que Bruno de Carvalho sempre o tenha negado.
“Só fomos notificados hoje do indeferimento. As razões não são as que foram apontadas pela comunicação social… Como o processo não está aqui, não pudemos ser ouvidos”, afirmou, explicando a sua atitude de se apresentar voluntariamente: “O que quis fazer, na senda de supostamente ser culpado pelo que aconteceu em Alcochete, e naquele festival idiótico de tochas – continuo a não perceber por que se fala num ataque ao Rui Patrício, com outro guarda-redes qualquer seria exatamente o mesmo – foi dizer que cá estou, como sempre estive, para dar as informações que precisarem, não são precisos mandados nem absolutamente nada”.
Mas as autoridades tiveram um entendimento diferente e com a detenção de hoje de Mustafá e de Bruno de Carvalho o número de arguidos subiu para 40.
Esta tarde, o advogado Jaime Preto não escondeu a revolta da defesa de Bruno de Carvalho: “A lei, permite, portanto, estes abusos extraordinários de pretensas diligências que são, objetivamente, atuações infamantes, aviltantes e vexatórias”, disse, frisando a deslocação do antigo dirigente do Sporting ao Ministério Público para dizer “aqui estou eu, se precisarem de mim, estou à disposição”.

‘Foi chato’
Após as agressões, Bruno de Carvalho foi criticado pela forma como reagiu aos incidentes: “Isto foi chato, mas o crime faz parte do dia-a-dia”.
“Os jogadores querem sentir-se seguros e queremos é que eles estejam bem para ganharmos o troféu [da Taça de Portugal]. Tenho de repudiar todas estas situações. Isto não é frustração, é crime público. E quero pedir, sobretudo, calma ao universo sportinguista. Isto foi chato e temos de nos habituar que o crime faz parte do dia a dia. Já ouvi uma série de teorias mirabolantes, uma delas sendo que este é o meu “modus operandi”, porque nas Assembleias Gerais não deixo quem quer falar mal, falar. É falso. O meu “modus operandi” não é gostar de ver atletas e staff, que são a família que escolhi, serem agredidos”, disse na altura o então presidente do Sporting.
A Juve Leo e a atual direção têm sido notícia nos últimos dias por alegadamente estarem de costas voltadas. O atual presidente, Frederico Varandas, não tem escondido a sua vontade de por fim a algumas benesses concedidas pela anterior direção. Segundo o “CM”, a Juve Leo chegava a embolsar 14 mil euros por jogo em casa com a venda de bilhetes que obtinham da direção.