Casas. Lisboa está cara? E quando passar a ser a “escolha número um” para investir?

De acordo com um estudo da PwC e do Urban Land Institute, Lisboa vai continuar a estar em grande destaque no setor do imobiliário e acabará por chegar ao lugar de “escolha número um” da Europa para quem quiser investir no imobiliário. 

A fazer a cidade disparar nas preferências está a qualidade de vida, a segurança, os imoóveis “relativamente baratos” e o retorno para os investidores.

A análise evidencia ainda que as atenções dos investidores se vão virar cada vez mais para as cidades menores e mais dinâmicas. E é neste sentido que se adivinha que Lisboa dê um grande salto nas preferências já no próximo ano.

Na base desta previsão, está o facto de a economia portuguesa também estar a "crescer a um ritmo saudável". A capital portuguesa é agora, por isso, "um destino internacional para empresas, investidores e turistas". O estudo aponta ainda que Lisboa vai mesmo ultrapassar cidades como Berlim e Dublin, que agora lideram as preferências.

E a bolha imobiliária?

Recorde-se que ainda estávamos em abril quando os alarmes dispararam. Lisboa, Porto e Algarve já praticavam valores acima do que é desejável. Era notícia que o setor imobiliário tinha vivido em 2017 "o melhor ano de sempre" em termos de transações imobiliárias e tudo indicava que a tendência se iria manter com 2018, a caminhar a passos largos para bater novos recordes. A opinião era unânime junto de várias especialistas: "Se tudo correr bem e não houver quaisquer situações que possam influenciar a sanidade que o mercado vive, como por exemplo eventuais medidas na lei do alojamento local, estima-se que em 2018 possa verificar-se um crescimento na ordem dos 30%". 

Mas já nesta altura existiam zonas – como Lisboa, Porto ou Algarve – que praticavam preços acima do que seria desejável e, segundo os mesmos especialistas, adivinhavam-se "bolhas imobiliárias nessas regiões". 

A verdade é que o crescimento deste setor é cíclico e historicamente assiste-se a fortes crises, seguidas de verdadeiros crescimentos. Em 2001 verificou-se um pico no mercado, ao serem registadas mais de 114 mil licenças de fogos novos, mas, a partir daí, assistiu-se a uma queda contínua. Conclusão: durante 13 anos o mercado caiu cerca de 94%. Em 2009, influenciado não só pela crise do subprime, mas também pela instabilidade económica, laboral, assim como, pelo fecho da torneira do crédito à habitação, o setor bateu no fundo. Uma retração que se prolongou até ao final de 2013, ou seja, cerca de quatro anos que representaram uma verdadeira dor de cabeça aos proprietários que pretendiam vender os seus imóveis. E por o mercado estar tão parado provocou uma pressão sobre os preços, altura em que os valores atingiram mínimos históricos. 

Ainda assim, a preocupação em torno dos preços é grande e tem vindo a aumentar. E não é apenas em Portugal.

Nova Zelândia aprova lei que proíbe a venda de casas a estrangeiros

Em apenas quatro anos, o preço das casas aumentou, em algumas zonas, 75%. Alguns neozelandeses viram-se forçados a viver em carros e tendas.

Com a certeza de que o mercado imobiliário estava a ser inflacionado por pessoas vindas de fora das fronteiras nacionais, a Nova Zelândia aprovou uma lei que proíbe a venda de casas de habitação a estrangeiros. Embora se tenham multiplicado críticas por ser considerada uma medida “xenófoba”, o Partido Trabalhista, da primeira-ministra Jacinda Ardern, entendeu que era necessário pôr um travão à subida acelerada dos preços das casas.

Ao “The Guardian”, David Parker, responsável pelas Finanças do país, explicou que era necessário tomar medidas para aumentar as possibilidades de os neozelandeses conseguirem ter casa e ainda para aumentar a oferta no mercado. No entender de Parker, os preços estavam a começar a ser ditados pelos comportamentos de compradores externos e era imperativo mudar este cenário. “Não consideramos que os neozelandeses devam ser superados por pessoas ricas vindas do exterior”, explicou Parker, acrescentando que os neozelandeses não podem passar a “ser inquilinos” na “própria terra”.

A nova lei só não se aplica a compradores oriundos de Singapura e Austrália por existir um regime de livre comércio entre os países. De resto, é objetivo maior beneficiar, como dizem, quem paga impostos, dá contributos para a economia nacional e tem família no país.

Em algumas partes do país, em apenas quatro anos, registou-se um aumento de 75% no preço das casas, o que trouxe consequências dramáticas.

De acordo com o “The Guardian”, nos últimos cinco anos, o número de sem-abrigo aumentou, e muitos neozelandeses viram-se forçados a viver no carro, em tendas ou em garagens.

Para pôr termo a esta situação, a solução foi radical. Quem já comprou, fê-lo a tempo. Agora, os novos compradores poderão fazer na mesma alguns investimentos, mas muito limitados e apenas em grandes blocos de apartamentos ou em hotéis.

Não ficam margem para dúvidas e, com ou sem polémica, a nova lei promete ser um travão à especulação imobiliária promovida pelo investimento estrangeiro e tornar a compra de casa mais acessível para os habitantes locais.

“Quer se trate de uma bela propriedade à beira do lago ou à beira-mar, ou uma modesta casa suburbana, esta lei garante que o mercado para as nossas casas se situa na Nova Zelândia e não no mercado internacional”, garantiu David Parker.

De acordo com os dados avançados pelo Partido Trabalhista, só no último trimestre, 10% das casas no distrito de Queenstown Lakes e 20% das casas no centro de Auckland foram compradas por estrangeiros.

Para o governo, estes dados chegam para perceber que a compra por parte de estrangeiros começou a fazer subir os preços e a tornar a habitação um bem a que os neozelandeses não conseguem ter acesso. O “The Guardian” vai mesmo buscar um estudo do “Economist” que, em 2017, mostrava que a Nova Zelândia tinha os preços mais inacessíveis do mundo.

Poderia Portugal ter uma lei a proibir a venda de casas a estrangeiros?

A Nova Zelândia criou a lei e, rapidamente, se multiplicaram ecos em países que atravessam o mesmo problema. Mas, afinal, será que poderia acontecer algo semelhante em Portugal?

Ao i, Luís Menezes Leitão, presidente da Associação Lisbonense de Proprietários (ALP), explica que o tema é mais complexo do que possa parecer. “É preciso perceber que em Portugal era impossível assistir a isto porque existe livre circulação de pessoas”, começa por explicar. Mais do que fazer uma avaliação sobre o facto de se justificar ou não, Menezes Leitão sublinha que “os investidores são normalmente do espaço comunitário, à exceção dos chineses. Por isso, só aqui haveria espaço para fazer alguma coisa e é preciso perceber que, neste caso, seria uma inversão política e não interessava ao país porque ia afastar o investimento estrangeiro”. 

De acordo com o presidente da ALP, é normal que “os investidores com mais dinheiro tenham mais facilidade em pagar determinados preços que outros não podem. Basta comparar, na maioria dos casos, os salários mínimos dos diferentes países”. No entender de Menezes Leitão, “abolir isto era abolir o espaço comunitário”. 

A verdade é que, na Nova Zelândia, também há exceções exatamente por causa de compromissos deste género. A nova lei não se aplica a compradores oriundos de Singapura e Austrália por existir um regime de livre comércio entre os países. De resto, é objetivo maior beneficiar, como dizem, quem paga impostos, dá contributos para a economia nacional e tem família no país.

Preços loucos em Lisboa 

Os preços ainda não pararam de subir na capital, assim como a procura. Como a oferta não consegue acompanhar esta tendência, os efeitos são visíveis pelos valores que atualmente são praticados. A perspetiva não é animadora: as casas vão ser cada vez mais caras. De acordo com os últimos dados divulgados, em agosto deste ano, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), os valores aumentaram 12,2% nos três primeiros meses do ano face a igual período do ano passado, atingindo o valor mais elevado desde que há registo. Há 18 trimestres consecutivos que os preços das casas estão a aumentar e há cinco que este crescimento está a acelerar.