Carlos Costa alerta: “não podemos continuar com um crescimento anémico”

Para o governador do BdP, o problema não está no número de horas trabalhadas, mas na diferença de produtividade face às outras economias europeias.

Para o governador do Banco de Portugal (BdP), Portugal não pode continuar com “um crescimento potencial anémico”, caso contrário o país terá como resultado défices elevados e, ao mesmo tempo, a emigração. Carlos Costa acredita que independente das oscilações cíclicas, só um crescimento “robusto” poderá fazer a economia portuguesa convergir. 
“O que separa a economia portuguesa das outras são as diferenças de produtividade e não o número de horas trabalhadas”, disse Carlos Costa durante a abertura da 9ª. Conferência do Banco de Portugal (BdP) sobre o desenvolvimento económico português no espaço europeu.

Face a este cenário, o responsável defende que a solução para um crescimento sustentável do produto interno bruto (PIB) per capita deve “centrar-se no acionamento das alavancas que possam exponenciar a produtividade dos nossos trabalhadores”. 

E entre as alavancas apontadas por Carlos Costa para exponenciar a produtividade dos trabalhadores destaca o reforço das competências; os níveis de capital por trabalhador; a inovação; a atratividade do ambientes de negócios e a natureza, robustez e qualidade dos modelos de gestão. 

“O nosso país tem aqui uma importante margem de progresso para explorar. Na mais recente edição do Global Competitiveness Index, publicado pelo World Economic Forum, Portugal fica atrás de 15 economias da União Europeia” diz Carlos Costa, lembrando que, na lista de indicadores em que Portugal obtém a pior classificação, contam-se alguns relacionados com a qualidade dos modelos de gestão, nomeadamente a atitude para com o risco (posição 80 em 140 economias); a predisposição para delegar autoridade (posição 70 em 140); e a integração de ideias disruptivas (posição 46 em 140).

“ Importa, por isso, perceber de que forma podem os nossos modelos de gestão evoluir para tornar a nossa economia mais produtiva”, refere o governador. 

Desempenho

No terceiro trimestre, a economia portuguesa cresceu 0,3% em cadeia, e 2,1% em termos homólogos o que representa um abrandamento face ao desempenho do segundo trimestre (0,6% e 2,4%, respetivamente). Para o conjunto do ano, o governo um crescimento de 2,3%, uma estimativa que vai ao encontro dos valores avançados pelo próprio Banco de Portugal e pelo Fundo Monetário Internacional. No entanto, a Comissão Europeia está mais pessimista, aponta para um crescimento de 2,2%.

Já para o próximo ano, o Executivo aponta uma estimativa de 2,2%, o que representa uma revisão em baixa de 0,1 pontos percentuais face ao que era inicialmente estimado pelo governo. O número avançado no Orçamento do Estado diz que está em linha com o abrandamento esperado na área do euro (1,9%), mas abaixo do que tinha sido apontado no Programa de Estabilidade 2018-2022, apresentado em abril e que apontava para um crescimento de 2,3% em 2019. Menos otimistas estão as previsões avançadas pelo FMI (1,8%) ou pela entidade liderada por Carlos Costa (1,9%).