Senhora ministra, ganhou um apoiante!

Invocar a qualidade de forcado para ofender uma senhora contradiz o garbo tauromáquico

Não, não é uma carta aberta. Não aprecio o género e falta-me a ‘ginga’ de forcado para me dirigir a alguém com os dedos enfiados nas cavas do colete. 

Esclareço que não conheço a ministra e as minhas simpatias pela sua família política cessaram com as malfeitorias de José Sócrates, da mesmíssima forma que o meu sportinguismo ficou congelado no momento em que tive notícia das agressões em Alcochete. 

Sei do valor da presunção de inocência e só lamento que ela não seja mais respeitada. Mas não careço dos tribunais para saber que em Alcochete houve crimes, como não preciso de uma decisão transitada em julgado para ter a certeza de que Sócrates destruiu dois terços do PSI-20. 

No caso que melhor conheço, o BCP, mais do que testemunha, fui vítima. Parece que alguém terá prometido ao homem a presidência do BCP, e tanto bastou para que ele se apressasse a dar luz verde para a substituição dos administradores legítimos por ‘procônsules’, que lhe guardariam o lugar até que saísse do Governo. As contas saíram-lhe furadas e, no regresso de Paris, o destino foi outro… 

 

Voltando à ministra… Não apreciei a publicidade que entendeu dar à sua orientação sexual e, no meu critério, tanto bastaria para que não fosse convidada para a pasta da Cultura, por ter mostrado um défice de sensibilidade estética, inadmissível em quem tutela a área.

Mesmo assim, estou com a ministra. Anima-me um desígnio semelhante ao que levou O Magriço Álvaro Gonçalves Coutinho a rumar, com onze cavaleiros amigos, até às brumas da Inglaterra, para defender a honra de 12 donzelas, que não tinham quem o fizesse por aquelas bandas. 

Quando vejo alguém ser agredido de forma desproporcionada, sei muito bem qual é o meu campo… que não é, seguramente, o dos agressores.

 

Confesso que o gesto não foi espontâneo. Aconteceu a dois tempos: no momento em que terminei a leitura do que escreveram os opinion makers do reino, e verifiquei que o tom geral das análises era o da insinuação torpe, em vez da contestação séria às razões da ministra; e, uma semana depois, ao receber o décimo primeiro e-mail a capear um escrito com o título ‘Carta Aberta à Ministra’. 

Aí, veio o desapontamento. Afinal, entre os meus correspondentes, há quem me julgue capaz de sorrir perante uma prosa mal-amanhada e polvilhada de subentendidos marialvas.

 

Para que fique claro: aprecio a caça, mas não sou caçador; gosto da festa brava, mas nunca me imaginei a pegar touros; convivi com cavaleiros, forcados, bandarilheiros e espadas, e o que mais encontrei foram pessoas incapazes de recorrer à grosseria. E não tive necessidade de ler Freud para perceber o que se esconde, em alguns casos, sob a valentia exibida na arena. 

Donde… 

Invocar a qualidade de forcado para ofender uma senhora contradiz o garbo tauromáquico; exibir a cédula de advogado para consumar a picardia é um ato que desonra a classe e deveria motivar uma intervenção firme da respetiva Ordem profissional.