Alemanha. Deputado de extrema-direita espancado

Frank Magnitz, líder em Bremen da Alternativa para a Alemanha, está internado no hospital. A polícia está a investigar o crime como “politicamente motivado”

O deputado Frank Magnitz, de 66 anos, líder do partido da Alternativa para a Alemanha (AfD) em Bremen, estado do norte do país, foi espancado por três desconhecidos encapuzados que o deixaram com ferimentos graves que obrigaram ao internamento hospitalar. O ataque ocorreu quando o deputado saía de uma festa do jornal local “Weser-Kurier”.

Os três atacantes, armados com bastões, agrediram Magnitiz na cabeça e continuaram a pontapeá-lo quando este já estava no chão inconsciente. Não fosse a intervenção de um transeunte que saiu em auxílio da vítima e o ataque poderia ter tido consequências mais graves. A polícia qualificou a ação como “corajosa”.

O deputado está agora a ser tratado no hospital e os médicos querem que permaneça sob observação até ao fim de semana. Magnitz afirma não se lembrar bem do que aconteceu. Dois agentes da polícia foram colocados à porta do quarto do hospital para garantir a segurança.

Um porta-voz do AfD, Jörg Meuthen, colocou no Twitter uma foto do deputado inconsciente na sua cama de hospital, com um grande rasgão na testa e hematomas graves. O porta-voz escreveu que Magnitz estava “quase morto”.

A polícia afirmou que, dada a visibilidade pública da vítima, iria investigar o crime como sendo “politicamente motivado”. Os investigadores a cargo do caso pediram a possíveis testemunhas que entrem em contacto com as forças policiais. Steffen Seibert, porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, tem esperança que a polícia “detenha rapidamente os culpados”.

Magnitz é um antigo votante da CDU, o partido democrata-cristão de Merkel, que se virou para a AfD em protesto contra a política de imigração da chanceler.

O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, do partido de centro-esquerda SPD, escreveu no Twitter que a “violência nunca deve ser um meio de confrontação política – independentemente de quem seja ou os motivos. Não há justificação para isto”. 

Vários outros políticos já se pronunciaram sobre o ataque. O antigo líder dos Verdes, Cem Özdemir, foi dos primeiros a reagir. Escreveu no Twitter que “não há justificação para a violência, até contra a AfD”, garantindo que “quem luta contra o ódio com ódio permite que o ódio vença no fim”.

Apesar da condenação generalizada do crime pela maioria dos partidos tradicionais alemães, os dois líderes do AfD, Alexander Gauland e Jörg Meuthen, emitiram um comunicado que diz: “O ataque cobarde e quase mortal contra Frank Magnitz é o resultado da constante agitação contra nós  feita pelos políticos e pelos média”.

Bremen não é considerado um reduto do AfD, tendo o partido conseguido cerca de 10% dos votos no estado, abaixo do resultado nacional de 12,6% nas eleições de 2017. Apesar de ter apenas cinco anos, o AfD é atualmente o maior partido da oposição alemã, dado que o SPD está em coligação com a CDU e a CSU no governo. Ganhou terreno entre o eleitorado, em particular no leste da Alemanha, devido à sua posição contra a imigração e contra o islão.

É o primeiro partido de extrema-direita a entrar no parlamento desde 1961. O seu rápido crescimento levantou receios, num país assombrado pelo nazismo e pelo Holocausto, e onde o incitamento ao ódio – ou volksverhetzung em alemão – é um crime punível com até cinco anos de prisão. 

Muitos opositores da AfD consideram que o discurso do partido de extrema-direita se enquadra nesta categoria. Vários dirigentes utilizaram terminologia associada ao regime nazi e propuseram medidas consideradas racistas e segregadoras das comunidades imigrantes na Alemanha, em particular refugiados oriundos de países de maioria muçulmana.

O manifesto da AfD afirma que o partido considera o Islão “uma grande ameaça” ao Estado e à sociedade alemã e aos seus “valores”. Uma opinião partilhada por Magnitz, que durante a campanha eleitoral, quando questionado pelo “Weser-Kurier” se o Islão fazia parte da Alemanha, respondeu “definitivamente não”. 

Na Alemanha há, de acordo com números de 2016, entre 4,4 e 4,7 milhões de muçulmanos, segundo o Gabinete Federal para a Imigração e Refugiados alemão.

Após ser acusado de racismo, Magnitz defendeu-se, em setembro, dizendo que a sua mulher é de origem turca e um dos seus assessores é de origem cubana. Acrescentou: “No meu mundo, ser cosmopolita não exclui o amor à pátria e o patriotismo”.

Entretanto, o ataque a Martin Magnitz poderá alimentar a narrativa da AfD, que considera ser vítima de atropelos à liberdade de expressão, por parte dos partidos tradicionais e dos meios de comunicação. 

O estado de Bremen, o mais pequeno da Alemanha, terá eleições regionais dia 26 de março, o mesmo dia das eleições para o parlamento europeu. A AfD já esperava ganhos eleitorais nas eleições europeias, que poderão ser ainda maiores com o ataque brutal a Magnitz.