CGD. Auditoria divulgada “é preliminar”, versão final “é diferente”

Teresa Leal Coelho, presidente da comissão de Orçamento e Finanças exige ter acesso a relatório final sobre CGD “mais do que nunca”.

A presidente da comissão parlamentar de Orçamento e Finanças já veio chamar a atenção para as diferenças que existem no relatório da consultora EY que foi entretanto divulgado sobre a gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) entre 2000 a 2015. De acordo com Teresa Leal Coelho, o documento que tem sido divulgado “é preliminar” e que a versão final “é manifestamente diferente”, considerando ainda “lamentável como foi parar à praça pública”. 

Em causa estão prejuízos na ordem dos 1029,9 milhões de euros num conjunto de 46 financiamentos, com as várias administrações do banco público a aprovarem créditos em que não foram dadas garantias suficientes, o que acabou por se traduzir em riscos considerados “elevados” ou “graves”, tal como foi revelado ontem pelo i.

Teresa Leal Coelho garantiu que já falou com o presidente da Caixa, Paulo Macedo, e com o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, que lhe garantiram que o documento que está a ser divulgado não é o relatório final e que não tiveram acesso ao documento que está a ser noticiado. A presidente da comissão parlamentar de Orçamento e Finanças revelou também que já falou com a Procuradora Geral da República (PGR), Lucília Gago, para que o relatório “verdadeiro” fosse libertado e entregue aos deputados da comissão “com a maior rapidez possível”.

“A própria Caixa não recebeu esta versão”, afirmando que o relatório que está a ser divulgado tem data de dezembro de 2017 e o relatório final é de junho de 2018. O relatório final “é distinto do que está a ser neste momento divulgado por várias razões”, reforçou a deputada que afirmou desconhecer ambos os documentos, acrescentando que “nenhum elemento da comissão teve acesso” aos mesmos. E foi mais longe: “Em sede própria foi-nos sistematicamente negado o relatório e agora ele é divulgado e não na sua versão verdadeira”, lamentou Teresa Leal Coelho, considerando a situação “grave” e “disruptiva das instituições”.

O Banco de Portugal (BdP) também reagiu e revelou que, para efeitos de supervisão, está a “tomar em toda a conta as conclusões do relatório final” da consultora EY, que numa auditoria independente identificou perdas significativas na Caixa Geral de Depósito até 2015. Elisa Ferreira disse, no entanto, que se trata de um “assunto muito crítico” e que a “versão final do relatório foi recebida no BdP há bastante tempo”. Segundo a vice-governador, o documento “foi lido, foi interpretado e está a ser utilizado nas dimensões que interessa ao BdP, que são as de supervisão”, disse. 

Já na terça-feira, o Ministério das Finanças tinha dito que queria que a administração da Caixa Geral de Depósitos tomasse “todas as diligências necessárias para apurar quaisquer responsabilidades” nos atos detetados pela auditoria da EY e “as medidas adequadas para a defesa da situação patrimonial” do banco, esclareceu ao i.

O ministério de Mário Centeno confirmou ainda que foram dadas instruções para que o relatório “fosse remetido ao Banco de Portugal e ao Mecanismo Único de Supervisão do Banco Central Europeu, bem como a outras autoridades judiciais, de inspeção, de supervisão ou em matéria tributária, caso os elementos do relatório se afigurassem relevantes para o exercício das suas atribuições”.