Comissão acusa militares do Zimbabué de “tortura sistemática”

Já morreram 12 pessoas nos protestos contra o aumento dos combustíveis, que duram há 15 dias

Uma comissão de direitos humanos, nomeada pelo governo do Zimbabué, acusou os militares de recorrerem a “tortura sistemática” para reprimirem os manifestantes que há mais de duas semanas protestam nas ruas da capital, Harare, e da segunda maior cidade do país, Bulawayo. Já morreram pelo 12 pessoas e muitas outras ficaram feridas. Em causa está o aumento de 150% no preço dos combustíveis num clima de grave crise económica. 

“Elementos armados e fardados do exército e da polícia do Zimbabué instigaram tortura sistemática. A tortura foi organizada de forma a atacar homens próximos de áreas onde foram levantadas barricadas e áreas incendiadas ou saqueadas”, pode ler-se no comunicado da comissão. “A mobilização do exército para conter os distúrbios civis leva à perda de vidas, a lesões corporais graves e a outras violações dos direitos humanos, mas o governo continua a fazer essas mobilizações”.

As críticas da comissão não dissuadiram o governo, que se tem mostrado firme na mão dura contra os manifestantes. “Quando as coisas ficam fora de controlo, um pouco de firmeza é necessária”, reagiu um porta-voz do executivo, acusando a oposição, o Movimento para a Mudança Democrática, de instigar a violência em retaliação pela derrota nas últimas eleições presidenciais, a 30 de julho de 2018, após o golpe de Estado que afastou do poder o ditador Robert Mugabe. 

A tensão não parou de aumentar ao ponto de obrigar o presidente zimbabuano, Emmerson Mnangagwa, a encurtar a sua viagem ao Fórum Económico Mundial de Davos, na Suíça, e a regressar a Harare. “A violência e a má conduta das nossas forças de segurança é inaceitável e uma traição ao povo do novo Zimbabué”, reagiu no Twitter Mnangagwa, acrescentando: “O caos e a insubordinação não serão tolerados. A má conduta será investigada. Se for preciso, cabeças irão rolar”. 

Ainda que tenha passado uma semana na Europa, Mnangagwa regressou ao país de mãos a abanar: não conseguiu recolher apoio financeiro para lidar com as dificuldades económicas do país, depois de a África do Sul lhe ter recusado um empréstimo de 1,2 mil milhões de dólares.