Roma. A aposta que já mudou a Netflix

Depois do Leão de Ouro em Veneza, o filme com que Alfonso Cuarón regressa à sua infância, na Cidade do México, acumula com a nomeação para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro as de Melhor Filme e Melhor Realizador.

Tão improvável quanto previsível perante a onda de aclamação com que tem sido recebido é o lugar de que parte Roma para a 91.ª cerimónia dos Óscares. E não por uma questão de número de nomeações apenas – dez, no total, igualando A Favorita que o grego Yorgos Lanthimos fez suceder a O Sacrifício de um Cervo Sagrado.

O fator da previsibilidade está explicado, vamos ao improvável: o raro alinhamento de circunstâncias proporcionado pela aposta da Netflix na produção e distribuição deste filme em que, munido de uma apelativa fotografia a preto e branco, o mexicano Alfonso Cuarón resgata as memórias da sua infância, na Cidade do México da década de 1970. Aposta já mais do que ganha por esta altura para o gigante do streaming que, numa jogada só, conseguiu reconhecimento no cinema, para lá das séries televisivas. Depois do Leão de Ouro em Veneza no final do verão passado, depois da dobradinha que fez de Cuarón o maior vencedor dos últimos Globos de Ouro (Melhor Filme e Melhor Realizador), independentemente de quem sair vencedor ou vencido da noite de 24 de fevereiro, a Netflix fez já história nos Óscares.

Não é a primeira vez que uma das suas produções surge entre os nomeados – ainda no ano passado, Mudbound, de Dee Rees, foi nomeado em quatro categorias, incluindo as de Melhor Fotografia, Melhor Argumento Adaptado e Melhor Atriz Secundária (Mary J. Blige), ainda que não tenha vencido em nenhuma. Mas o feito de Roma não é apenas um número. É entre essas dez nomeações estarem as categorias de Melhor Filme e Melhor Realizador (novidades para a Netflix), somadas à de Melhor Filme Estrangeiro – acumulação que coloca Cuarón ao lado de nomes como Fellini, Bergman, Kurosawa, Almodóvar ou Haneke, com Amour (2012), para citar o exemplo mais recente, nos 90 anos de história dos prémios da Academia de Cinema norte-americana. 

E não se ficará por aqui a lista, a completar com as nomeações aos Óscares de Melhor Fotografia, Melhor Argumento ou Melhor Atriz (principal, para Yalitza Aparicio, e secundária, para Marina de Tavira), às quais se juntam ainda algumas das chamadas categorias técnicas. Nas mais importantes, competir já ombro a ombro com Lanthimos, desde a A Lagosta (2015) trocou o grego pelo inglês. A Favorita, que chega a Portugal a 7 de fevereiro, é o seu terceiro filme em inglês. Com Olivia Colman, também ela nomeada na categoria de Melhor Atriz Principal, Rachel Weisz e Emma Stone, ambas a concorrer pelo de Melhor Atriz Secundária. Uma história de mulheres, começa a adivinhar-se, para um filme de época passada na corte de Ana, rainha da Grã-Bretanha em que, sem se deixar descaracterizar, nos transportará até à Inglaterra do século XVIII. 

Entre as nomeadas para o Óscar de Melhor Atriz, Lady Gaga ainda, protagonista de Assim Nasce Uma Estrela, de Bradley Cooper, que em número de nomeações se segue aos dois primeiros, com oito. Também ele estreado em agosto em Veneza, também ele nomeado para Melhor Filme nesta edição de Óscares, e Melhor Canção – com Cooper a passar ao lado das nomeações para o Óscar de Melhor Realizador. 

Como nomeado para essa categoria, virá estrear-se Spike Lee (apesar disso distinguido com um Óscar Honorário em 2015), com o seu BlacKkKlansman também entre os nomeados para Melhor Filme e outras quatro, incluindo a de Melhor Argumento Adaptado e a de Melhor Ator Secundário – sem grandes surpresas, Adam Driver, que no papel de Flip Zimmerman: o polícia judeu que serve de «disfarce» para o polícia negro, Ron Stallworth (John David Washington), se infiltrar no Klu Klux Klan. 

Entre os nomeados para Melhor Filme estão ainda Black Panther, Bohemian Rapshody, Green Book, que estreia esta semana nas salas portuguesas, e Vice, em que Adam McKay conta a história de Dick Cheney. Também ele com oito nomeações, tem estreia nacional marcada para fevereiro.