Onde andam as famílias mais influentes do país?

O poder anda de mãos dadas com a influência. Mas mais do que aproveitar-se a influência para proveito pessoal, muitas vezes a influência parece estender-se à família. Não é difícil encontrar mulheres, maridos, filhos, filhas, sobrinhos e outros parentescos em posições de topo de grandes empresas ou da administração pública; nalguns casos, os curriculum vitae…

Onde andam as famílias mais influentes do país?

Carlos César – Mulher, filho, nora e não só

Carlos César é presidente do PS e líder da bancada parlamentar. Nascido nos Açores, presidiu ao Governo Regional. Nessa altura, a mulher, Luísa César, foi coordenadora dos Palácios da Presidência. Mais tarde, quando César já não estava no Executivo, passou a coordenadora da Estrutura de Missão da Casa da Autonomia, onde ficou até 2016. É formada em História e tem uma pós-graduação em Ciências Documentais. Por sua vez, o filho Francisco é vice-presidente do grupo parlamentar do PS Açores. Numa altura em que o partido está em processo de elaboração da de lista às eleições europeias, o SOL sabe que entre os candidatos está o líder parlamentar do PS Açores, André Bradford. Abrirá assim a porta a Francisco César para que possa chegar a líder parlamentar? Tudo indica que sim, mas o tempo o dirá. A sua mulher, Rafaela Seabra Teixeira, é desde 2016 chefe de gabinete da Secretaria Regional da Energia, Ambiente e Turismo, tendo antes desempenhado as mesmas funções na Secretaria Regional Adjunta da Presidência para os Assuntos Parlamentares. Há, ainda, o badalado caso da sobrinha de Carlos César, Inês, contratada pela  Gebalis – empresa municipal responsável pela gestão de bairros sociais.
 

Ana Gomes – A filha

Com um longo percurso na política, a eurodeputada do PS Ana Gomes é conhecida pelas batalhas que trava em nome da integridade e da transparência. Já a filha não seguiu as passadas da mãe e têm-se mantido longe da política: aos 39 anos, ainda durante o mandato de António Costa na Câmara Municipal de Lisboa (MCL), Joana Gomes Cardoso tornou-se presidente da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC). Como é que chegou aqui? Formada em relações internacionais, tem um mestrado em Culturas e Desenvolvimento. Logo depois de ter concluído a licenciatura, foi jornalista da CNN nas delegações de Nova Deli e Nova Iorque durante um ano e passou depois para a SIC Notícias, onde esteve durante seis anos sempre ligada aos assuntos internacionais. Mais tarde, passou a diretora de comunicação do European Institutions Office da Amnistia Internacional, em Bruxelas. Três anos volvidos abraçou o desafio de diretora-geral do Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais do Ministério daCultura. Desde 2012, é vice-presidente da secção portuguesa da Amnistia Internacional, cargo que acumulacom o da presidência da EGEAC desde 2015.

 

Durão Barroso – O filho

O nome de Durão Barroso ultrapassa fronteiras. Depois de ser primeiro-ministro, de 2002 a 2004, passou para voos mais altos e assumiu a presidência da Comissão Europeia entre 2004 e 2014. Desde 2016, é o presidente não executivo do conselho de administração do Goldman Sachs International, onde também é consultor. Um dos três filhos, Luís Barroso, chegou aos 31 anos ao Departamento de Supervisão Prudencial do Banco de Portugal, em 2014. A notícia foi avançada na altura pelo Jornal de Negócios, que escreveu que o filho de Durão Barroso foi contratado sem concurso e que, segundo as regras do banco, isso só se verifica em situações de «comprovada e reconhecida competência profissional». Desde 2016, está no Departamento de Direito, segundo se lê na sua página de Linkedin. Licenciado em Direito na Nova e com um mestrado e um doutoramento da London School of Economics, antes de chegar ao Banco de Portugal fez dois estágios de verão em dois escritórios de advogados e, desde 2013, é professor convidado na Universidade Católica Portuguesa. Em 2014, ainda comentador, Marcelo veio dizer «não ver razão para Durão Barroso meter o dedo».
 

Helena Roseta – A filha

Helena Roseta tem um percurso político com mais de 40 anos: passou pela Assembleia da República e, antes de chegar à Câmara de Lisboa, em 2007 – onde atualmente é presidente da Assembleia Municipal de Lisboa -, já tinha passado por outra câmara, a de Cascais, onde foi mesmo presidente entre 1982 e 1985, quando pertencia ainda ao PSD e não tinha passado para o lado cor-de-rosa. Partidos à parte, parece que Helena Roseta deixou a semente na filha, que entretanto entrou também na vida política. Em 2017, Carlos Carreiras (PSD) recandidatou-se à Câmara Municipal de Cascais e, entre os vereadores, levava na lista Filipa Roseta. Acabou por ser reeleito, o que determinou a chegada da filha de Helena Roseta a vereadora da Câmara Municipal de Cascais, responsável pelas áreas de Gestão Territorial, Inteligência Territorial e Ordenamento do Território. Licenciada em Arquitetura pela Universidade de Lisboa (FAUL), seguiu para mestrado em Cultura Arquitectónica Contemporânea na mesma instituição, tendo depois seguido para o doutoramento no Royal College of Art, em Londres.  Professora Auxiliar na FAUL, foi Vice-Presidência do Conselho Científico da mesma instituição (2014-2016).

 

Francisco Pinto Balsemão – A filha

Ainda que as gerações mais novas o conheçam pela ligação à comunicação social, enquanto fundador e presidente do Grupo Impresa e presidente da SIC, Francisco Pinto Balsemão está ligado à política: fundador do PSD e presidente do partido de 1980 a 1983, foi primeiro-ministro entre 1981 e 1983. Em 2017, foi mandatário da candidatura de Carlos Carreiras em Cascais e uma das suas filhas, Joana Balsemão, acabou por enveredar pela política: foi também uma das escolhas de Carreiras em 2017 e está na Câmara Municipal de Cascais como vereadora com as áreas de Qualificação Ambiental e Estrutura Verde, Alterações Climáticas, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e Cidadania e Participação. Antes de chegar à autarquia, Joana Balsemão «foi conselheira técnica na Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia», dá conta a nota biográfica, tendo ainda assumido funções de assessoria no Ministério do Ambiente e sido investigadora pelo Instituto Superior Técnico na área da educação para as alterações climáticas. Há quem diga que será ela a candidata a sucessora de Carreiras na Câmara pelo PSD, já que Miguel Pinto Luz estará mais focado no partido do que na autarquia.

 

João Soares – O filho

Em entrevista ao i, em 2017, João Soares admitiu que ser filho de Mário Soares o prejudicou «imenso» na vida política. Ainda assim, talvez lhe tenha também aberto uma ou outra porta, uma vez que, tal como o pai, também João Soares tem um percurso na política: deputado na Assembleia da República, foi presidente da Câmara Municipal de Lisboa  de 1995 a 2002, deputado no Parlamento Europeu e tutelou o Ministério da Cultura entre 2015 e 2016. Contudo, a influência da família Soares parece ter-se estendido ainda a um dos seus filhos: em 2016 – quando João Soares era ministro da Cultura -, o filho Mário foi contratado pela pela autarquia lisboeta como avençado pela vereadora da Educação, Catarina Albergaria. A notícia, avançada na altura pelo jornal Público, remetia para o currículo disponível no Linkedin, que já não está entretanto acessível. De acordo com o jornal, Mário Soares é licenciado em História  e foi assistente administrativo entre 2005 e 2009, tendo ainda desempenhado funções relacionadas com secretariado em diferentes locais. Foi contratado para a autarquia lisboeta para «serviços de assessoria em produção de eventos e gestão cultural».

 

João Ferreira – O pai

João Ferreira é um dos ‘meninos bonitos’ do Partido Comunista Português. Mas, além de deputado no Parlamento Europeu, é também vereador na Câmara Municipal de Lisboa. A verdade é que o cabeça de lista do PCP nas próximas europeias  não foi o único da família Ferreira com um cargo de destaque: o pai, Manuel Ferreira, foi vicepresidente da Associação Inválidos do Comércio. E ainda muito recentemente João Ferreira viu-se envolvido numa polémica devido ao pai. Segundo uma reportagem da TVI, a Associação dos Inválidos do Comércio despejou idosos para destinar prédios a empresas imobiliárias para alojamento local. Manuel Ferreira, enquanto vice-presidente da associação – que está entre os maiores proprietários de imoveís do páis e recebe do Estado mais de um milhão de euros por ano – esteve por trás da medida. O filho, note-se, é na Câmara Municipal de Lisboa um dos maiores críticos da lei dos despejos e do alojamento local. Em reação, depois da emissão da reportagem, o PCP acusou a TVI de ter criado uma campanha de «difamação e calúnia» contra o partido.

 

 

Jerónimo de Sousa – O genro

Jerónimo de Sousa está na política política há mais de 40 anos. Leia-se no Partido Comunista Português: integrou-o em  1974 e é secretário-geral do partido desde 2004, sucedendo a Carlos Carvalhas. Foi, no entanto, em janeiro último que o político se viu  envolvido naquela que foi provavelmente a maior polémica da sua carreira. A TVI revelou que a Câmara Municipal de Loures – liderada por Bernardino Soares, do PCP – contratou por ajuste direto o genro de Jerónimo de Sousa por valores totais superiores a 150 mil euros. Jorge Bernardino, casado com a filha de Jerónimo de Sousa, é ex-talhante, trabalhou num supermercado e celebrou seis contratos com a Câmara Municipal de Loures, segundo revelou a TVI. Dos contratos, celebrados desde 2015 – altura em que o genro de Jerónimo estava desempregado há já quase três anos -, constam serviços como  limpezas de vidros, trocas de cartazes ou substituição de lâmpadas. Bernardino Soares justificou-se à TVI dizendo que «são os preços de mercado» . Já o PCP, em comunicado, classificou o trabalho da televisão como «uma abjeta peça de anticomunismo sustentada na mentira, na calúnia e na difamação».

 

 

João Cravinho – O filho

João Cravinho foi ministro do Equipamento, Planeamento e Administração do Território no Governo de António Guterres. O filho, João Gomes Cravinho, seguiu-lhe as passadas e a cor política. Em 2018, na última remodelação governamental, foi nomeado ministro da Defesa Nacional em substituição de José Azeredo Lopes. Antes de chegar ao Governo, esteve em missões como embaixador da União Europeia na Índia e no Brasil, tendo experiência com relações internacionais. No passado, foi secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação por duas vezes, no tempo de Sócrates, entre 2005 e 2011. Foi, também, professor  de Relações Internacionais na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, professor convidado no ISCTE e na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Doutorado em Ciência Política, foi ainda consultor do Instituto de Defesa Nacional, da Comissão Europeia e do Banco Mundial. A nota biográfica disponível no site do Governo refere ainda a publicação de «numerosos artigos em revistas académicas especializadas e em jornais sobre temas relacionados com política de defesa, cooperação e relações internacionais».