O anterior ministro da Saúde era um homem cordato, civilizado, bem-educado, dialogante, que respondia sempre com elegância às questões que lhe colocavam e nunca era agressivo.
Não me recordo de uma única situação em que Adalberto Campos Fernandes tenha sido incorreto para alguém.
Além disso, mostrava bom conhecimento do setor, era equilibrado e ponderado, estava muito à vontade nas visitas aos hospitais.
Não sei se foi ele a pedir para sair ou se foi António Costa que decidiu substituí-lo.
É muito provável que o apertar do cinto nos hospitais, as demissões sucessivas de diretores clínicos e de responsáveis de unidades de saúde, as críticas permanentes de insuficiências na área que tutelava o tenham desgastado e conduzido à demissão – embora sem espalhafato, como era seu timbre.
Para o seu lugar, o primeiro-ministro foi buscar uma mulher de quem nunca se tinha ouvido falar, embora tivesse carreira no setor.
Mas nem todos têm jeito para ser ministros.
Veja-se o caso do anterior ministro da Defesa, Azeredo Lopes, que Costa manteve no lugar muito para lá do razoável.
Era uma autêntica negação para o cargo, que por um triz não pôs as Forças Armadas em peso contra o Governo de António Costa.
Ora esta ministra da Saúde vai pelo mesmo caminho.
Qualquer dia toda a gente na Saúde está contra ela.
Para começar, tem um ar de pespineta, uma irritante autossuficiência, de quem está sempre a pensar: «Eu sou a ministra, por isso quem manda sou eu».
Apesar de ser novata no cargo, não revela nenhuma humildade, pelo contrário: mostra já saber tudo e não ter nada a aprender.
Mal chegada ao Ministério, deitou para o lixo a Lei de Bases preparada por Maria de Belém e mandou fazer outra – mais esquerdista – à sua imagem; a outra lei dava demasiado protagonismo aos privados.
Às vezes o seu discurso e a sua pose fazem-me lembrar outra política, também da área do Governo: Catarina Martins.
Para ambas, os privados são entidades que não merecem qualquer consideração, pois só querem ganhar dinheiro à custa da doença dos portugueses e devem ser tratadas a pontapé.
Marta Temido fala dos grupos privados da saúde com um desprezo, uma hostilidade e uma arrogância que chegam a assustar.
Ao ouvi-la, julgo-me subitamente transportado para a Venezuela ou para Cuba, escutando elogios às maravilhas do setor público e ataques aos privados, que não passam de uma malandragem.
Grupos respeitáveis, como a Luz Saúde e a CUF, que têm inegavelmente contribuído para o progresso económico do país, são tratados como gente reles.
É claro que a ADSE pode ter razão aqui ou ali: não duvido de que os privados possam ter exagerado na faturação de serviços.
Numa sociedade de mercado, é sempre assim: o vendedor procura vender mais caro, o comprador procura comprar mais barato.
Mas essas coisas discutem-se serenamente, civilizadamente, e não na praça pública.
Não é legítimo o ministro de um país democrático tratar a iniciativa privada com desprezo e absoluta desconfiança.
Até porque, se há exageros na cobrança de serviços de saúde pelos privados, também há muito desperdício e muito dinheiro mal gasto no Serviço Nacional de Saúde.
Ninguém duvide disso.
O modo arrogante, para não dizer desprezível, como fala da iniciativa privada que atua no seu setor é o principal problema de Marta Temido.
Digamos que também não tem sido muito hábil nas relações com os enfermeiros, mas isso é uma questão circunstancial.
A relação com os privados é um problema estrutural.
Ela podia ser arrogante, pouco dialogante, autoconvencida, mesmo agressiva – mas não podia tratar como trata os grupos privados da área que tutela.
Não é bonito, é ofensivo, e não se coaduna com a governante de um país democrático, onde a iniciativa privada tem um papel determinante no crescimento económico e social, investindo, abrindo novas unidades de produção ou serviços, criando emprego.
Isso é que não é admissível e torna a ministra um absoluto erro de casting – que pode vir a custar muitos votos ao PS nas próximas eleições.