O Executivo de Medina deixou de voar

Alertei António Costa para tudo isto. Aconselhei Fernando Medina a não alienar imóveis municipais ao Fundo Nacional de Reabilitação do Edificado (FNRE) nestas condições. Do alto dos meus 71 anos, já vi muito. E temo bem que o futuro venha a confirmar os meus receios».

Mas quem é o líder da oposição que aos 71 anos dá conselhos ao primeiro-ministro de Portugal e puxões de orelhas ao presidente da Câmara de Lisboa, quem é o líder da direita que mostra os galões aos dois homens fortes da esquerda? 
Dou uma pista: escreveu esta semana um poderoso artigo de opinião num jornal diário em que diz assim: «O programa de arrendamento acessível do município de Lisboa está parado no Tribunal de Contas. O programa de arrendamento acessível prometido pelo Governo só agora chegou ao Conselho de Ministros. Infelizmente, e com tristeza o digo, não se vislumbram resultados a curto prazo».

Expõe a ferida aberta quando diz aquilo que tantos quiseram esconder: o Tribunal de Contas chumbou o programa da Renda Acessível de Lisboa. Mas vai ainda mais longe e diz aquilo que nem eu tinha escrito ainda sobre o FNRE. 
«Na prática, estamos perante um fundo imobiliário constituído inicialmente por património público, gerido por uma entidade de capitais públicos, que depois entra no jogo da livre concorrência com os demais fundos imobiliários e afins para garantir a rentabilidade desejada. De caminho, o património imobiliário deixa de ser público, a contratação de obras deixa de ser obrigatoriamente por concurso e até a escolha dos projectistas é decidida à margem de qualquer procedimento concursal».

As palavras são de um líder da oposição, mas foram escritas esta semana por Helena Roseta, presidente da Assembleia Municipal de Lisboa.

O problema é que Helena Roseta não tem opiniões, tem voto na matéria. Roseta é parte integrante do Executivo (tem dois vereadores, habitação e finanças), mas se no Executivo ainda precisam de um voto do Bloco para terem maioria, na Assembleia Municipal, são os votos do PS com os votos dos cidadãos por Lisboa que asseguram maioria e fazem aprovar as propostas do Executivo.

Ora, daqui por diante temos um problema intransponível no governo da cidade. Medina tem de enviar à assembleia municipal, pelo menos, 17 (dezassete) programas de renda acessível. As hipóteses são as que se seguem. A primeira: Helena Roseta não é coerente, escreve uma coisa e aprova outra. Segunda: em coerência, Helena Roseta chumba todas as propostas. Terceira: Helena Roseta renuncia ao mandato para não ter de votar contra a consciência. Quarta: Fernando Medina não volta a apresentar uma proposta de renda acessível, não faz uma única casa e perde a bandeira eleitoral.
Ou muito me engano, ou Helena Roseta, no alto dos seus 71 anos, acabou de cortar as asas à vaca voadora de Medina. 

sofiarocha@sol.pt