Lanthimos, Cuarón e Netflix para uns Óscares atípicos

À 91.ª edição, os Óscares são entregues no domingo numa cerimónia sem anfitrião. E com dois filmes estrangeiros a liderarem as nomeações

Mesmo com a transmissão em direto do anúncio dos premiados em todas as categorias dos Óscares – depois de uma chuva de críticas, a Academia voltou atrás na decisão de apresentar as categorias de Melhor Fotografia, Melhor Curta Metragem em Live Action, Melhor Montagem e Melhor Maquilhagem e Cabelos durante os intervalos para publicidade – a 91.ª edição dos Óscares chega ao Dolby Theatre, em Los Angeles, numa cerimónia atípica. Sem anfitrião, como não acontecia desde 1989. 

Ao que tudo indica, apenas com apresentadores, entre os quais se contam para esta edição nomes como Jennifer Lopez, Awkwafina, Daniel Craig, Chris Evans, Tina Fey, Whoopi Goldberg, Brie Larson, Amy Poehler, Maya Rudolph, Amandla Stenberg, Charlize Theron, Tessa Thompson e Constance Wu. 

Irregularidades formais à parte, a 91.ª edição dos Óscares tem tudo para ficar na história dos prémios da Academia de Cinema norte-americana por melhores motivos, pelos que verdadeiramente importam: os premiados. A liderar as nomeações, com dez cada, estão dois filmes vindos de fora: “Roma”, de Alfonso Cuarón, e “A Favorita”, do grego Yorgos Lanthimos, que com a nomeação para Melhor Filme Estrangeiro acumulam as categorias de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento, Melhor Fotografia, Melhor Atriz (Yalitza Aparicio, com “Roma”, e Olivia Colman, com “A Favorita”) e Melhor Atriz Secundária (Marina de Tavira pelo primeiro; Emma Stone e Rachel Weisz pelo segundo).

Dois filmes de mulheres protagonistas, com um deles, “Roma”, a continuar, desde o Leão de Ouro em Veneza, a trilhar o seu caminho na inversão do que até aqui era a norma. Este filme em que, munido de uma apelativa fotografia a preto e branco, o mexicano Alfonso Cuarón resgata as memórias da sua infância, na Cidade do México da década de 1970, é por esta altura aposta já mais do que ganha para a Netflix. Depois de Veneza no final do verão passado, depois da dobradinha que fez de Cuarón o maior grande vencedor dos últimos Globos de Ouro (Melhor Filme e Melhor Realizador), sejam quais forem os vencedores e os vencidos na noite de 24 de fevereiro, a Netflix fez já história nesta 91.ª edição de Óscares.

Não é a primeira vez que uma das suas produções surge entre os nomeados – ainda no ano passado, “Mudbound”, de Dee Rees, concorreu em quatro categorias, incluindo as de Melhor Fotografia, Melhor Argumento Adaptado e Melhor Atriz Secundária (Mary J. Blige). Não venceu em qualquer delas. Mas o feito de “Roma” não é apenas um número. É entre essas dez nomeações estarem as categorias de Melhor Filme e Melhor Realizador (novidades para a Netflix), somadas à de Melhor Filme Estrangeiro – acumulação que coloca Cuarón ao lado de nomes como Fellini, Bergman, Kurosawa, Almodóvar ou Haneke, com “Amour” (2012), para citar o exemplo mais recente em 90 anos de Óscares.

Mas também Lanthimos que, desde a “A Lagosta” (2015), vem trocando o grego dos seus primeiros filmes pelo inglês. 
“A Favorita” que, estreado este mês, continua nas salas nacionais, é o seu terceiro filme em inglês. Com Olivia Colman, Rachel Weisz e Emma Stone, ambas a concorrer pelo de Melhor Atriz Secundária. O primeiro filme de época de Lanthimos, um filme de época que não podia contudo ser de outro tempo que não este, para a história da disputa de duas mulheres – Sarah Churchill, duquesa de Marlborough (Weisz), e a sua prima, Abigail Masham, tornada baronesa (Emma Stone) – pelo favoritismo da rainha Ana da Grã Bretanha (Olivia Colman), na Inglaterra do século XVIII.
Entre as nomeadas para o Óscar de Melhor Atriz, Lady Gaga ainda, protagonista de “Assim Nasce Uma Estrela”, de Bradley Cooper, que entra na noite de domingo entre os mais nomeados, ao concorrer a oito Óscares (tantas quantas “Vice”, de Adam McKay, acabado de chegar às salas nacionais). Não largando o filme de Cooper, também ele se estreado em agosto em Veneza, também ele nomeado para Melhor Filme – e para Melhor Música Original – com Cooper a passar ao lado das nomeações para o Óscar de Melhor Realizador. 

Como nomeado para essa categoria, virá estrear-se Spike Lee, que apesar disso a Academia distinguiu em 2015 com um Óscar Honorário, com o seu “BlacKkKlansman” também entre os nomeados para Melhor Filme e para outros quatro Óscares, incluindo o de Melhor Argumento Adaptado e o de Melhor Ator Secundário – sem grandes surpresas, Adam Driver, que no papel de Flip Zimmerman: o polícia judeu que serve de “disfarce” para o polícia negro, Ron Stallworth (John David Washington), se infiltrar no Klu Klux Klan. 

Entre os nomeados para Melhor Filme estão ainda “Black Panther”, Bohemian Rapshody”, “Green Book”, “Vice”, em que Adam McKay conta a história de Dick Cheney. Entre todos os nomeados, numa edição que ficará certamente marcada por produções estrangeiras, importa olhar também para uma produção polaca: “Cold War”. Um drama histórico de Pawel Pawlikowski que acumula com a nomeação para Melhor Filme Estrangeiro as de Melhor Realizador e Melhor Fotografia.