Brexit – um sonho ou pesadelo

A figura do momento, John Bercow, quando chamou os deputados à razão, quando pediu:  «Ordem! Ordem!», antes que o resultado da votação desta semana sobre o acordo de Brexit proposto por Theresa May fosse anunciado, alguém poderia ser perdoado por pensar que era apenas um dia comum no Parlamento britânico. Os deputados estavam muito  barulhentos,…

A figura do momento, John Bercow, quando chamou os deputados à razão, quando pediu:  «Ordem! Ordem!», antes que o resultado da votação desta semana sobre o acordo de Brexit proposto por Theresa May fosse anunciado, alguém poderia ser perdoado por pensar que era apenas um dia comum no Parlamento britânico. Os deputados estavam muito  barulhentos, enquanto se agrupavam nos longos bancos verdes, alinhados, os conservadores de um lado e os trabalhistas do outro. A tensão no ar era superficial, uma consequência do jogo de teatro político em Inglaterra, como tem sido há décadas. 

No entanto, já com um resultado certo, a derrota de Theresa May.

Mais uma vez, os deputados votaram contra o acordo de retirada do Brexit. Desta vez por 391 votos a favor, e, 241 contra – uma derrota por 149 votos. Esta foi uma ligeira melhoria no esforço de Theresa May para garantir apoio aos seus planos de saída em janeiro, onde a pior derrota foi com 230 votos de diferença. No entanto, o resultado de ontem ainda era extraordinário – a quarta maior margem na história parlamentar moderna. Para qualquer coisa comparável, temos que regressar à década que iniciou em 1920.

Então, como é que Theresa May e a Grã-Bretanha acabaram neste imbróglio?

O início desta valente trapalhada foi em 2013, quando David Cameron, prometeu um ‘in-ou-out’ do referendo da UE se ele vencesse as próximas eleições gerais.  Havia uma obsessão pela UE dentro do próprio Partido Conservador de Cameron. Quando Cameron inesperadamente venceu a eleição de 2015, teve que organizar o referendo, nem ele nem o Governo tinham um plano sobre como realmente fazer o Brexit, nem qualquer ideia clara de qual deve ser o papel da democracia direta dentro do sistema britânico. O referendo de 23 de junho de 2016 não teve uma afluência às urnas ou exigência, de maioria especial, como é normal, para referendos sobre assuntos tão importantes em outras partes do mundo. O resultado foi de 52% a 48% a favor da saída, com uma participação de 72% da população.

Essa falta de visão e preparação, que eram evidentes muito antes da votação, perseguiram o Governo de May desde então, e culminaram nas já conhecidas monumentais derrotas parlamentares.

Então, a Câmara dos Comuns não pode seguir em frente. Está trancado, paralisado, acalmado. Mas faltando uma solução, na próxima quinzena o Reino Unido sairá da UE sem um acordo, com grandes consequências económicas e políticas.

Uma solução possível é pedir mais tempo para as negociações da UE, mas quem não conseguiu fazer este acordo em dois anos e meio, vai conseguir fazer algo em dois meses ou duas semanas.

Embora essa ideia possa atrair deputados suficientes, parte da UE não está interessada, e, com razão.

Possivelmente o Brexit poderá não acontecer, e Theresa May  está num estado onde a sua possível congruência com a realidade distingue estas ideias fixas, como sonhos ou devaneios que parecem ser sintomas do controlo dos impulsos e não da orientação e do controlo do mundo em que vive o povo britânico.