Brexit. O Parlamento tomou o controlo e as cartas estão na mesa

Os deputados britânicos começam hoje às 19h uma série de votações indicativas que vão desde uma saída sem acordo à revogação do Brexit.

O Parlamento britânico toma nas mãos o rumo do Brexit, iniciando o debate da direção a seguir às 14h e dando lugar a uma série de votos indicativos dos vários cenários possíveis, por volta das 19h. O objetivo é quebrar o impasse entre o Governo britânico de Theresa May e o Parlamento, que chumbou por duas vezes o acordo de saída da União Europeia negociado entre May e Bruxelas. Os resultados sairão às 21h, mas não é esperado que se encontre um consenso entre os deputados, dada a grande fragmentação dos principais partidos britânicos quanto ao assunto, e estando em cima da mesa os mais diversos cenários. As votações deverão continuar na segunda-feira, mas espera-se que seja alcançada uma alternativa aos planos da primeira-ministra. O Executivo de May já avisou que o risco de novas eleições aumentou com a possibilidade de ser aprovado um plano contrário ao programa com que o Governo conservador foi eleito.

Mas nem tudo são más notícias para May, que parece ter mais vidas que um gato. Ainda este domingo foi noticiado um golpe iminente por parte do seu próprio gabinete, para tentar unir o partido conservador à volta de uma solução. Mas hoje o acordo negociado pela primeira-ministra volta à discussão, com a sua oposição a mostrar fraturas. Até agora, os conservadores eurocépticos e o Partido Democrático Unionista (DIP) têm tido um papel fundamental nos sucessivos chumbos do acordo de May, fazendo pressão para uma saída não-negociada. No entanto, Jacob Ree-Mogg, o principal líder dos conservadores eurocéticos, admitiu ontem que “o acordo de May é melhor que não sair de todo”, indicando que poderá ceder, caso tema que os opositores do Brexit tomem o controlo do processo no Parlamento. Já o DUP mantém a sua posição, com o seu porta-voz para o Brexit, o deputado Sammy Wilson, a garantir ser preferível uma extensão de um ano da saída ao “acordo tóxico” negociado por May. Wilson acusa a primeira-ministra de querer “manter o Reino Unido no bolso” da UE, numa referência às salvaguardas a uma fronteira física na ilha da Irlanda.

Tudo pode acontecer nos próximos dias, e neste momento nenhum cenário parece mais provável que outro. É colocada a hipótese de haver várias alterações ao acordo já negociado, que vão desde uma união aduaneira com a UE, até à manutenção no mercado único. A união aduaneira é uma das reivindicações do líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, mas tem a oposição até dos conservadores europeístas, que defendem que não faz sentido sair da UE para continuar vinculado aos tratados de comércio desta. Quanto à manutenção no mercado único, uma proposta defendida por alguns deputados trabalhistas e conservadores, é rejeitada pelos conservadores com posições mais duras no que toca à migração, que rejeitam não controlar os migrantes europeus, enquanto os europeístas recusam de todo a saída e preferem um segundo referendo do Brexit, que foi rejeitado a 15 de março por 85-334.