Uma aliança menor

Aconteceu e não comentei. Preferi refletir mais sobre o assunto e revisitar a história com mais rigor. Esta coisa de tentar copiar iniciativas independentemente das circunstâncias ou do conteúdo essencial do original modelo não pode senão dar mau resultado.

Os tempos são outros.

A ideia da necessidade de uma alternativa à direita é uma simplificação do problema.

Nessa ocasião o PS vivia um momento de solidão e divisão interna.

O dado mais relevante era a formação do movimento dos Reformadores que reuniu António Barreto, Medeiros Ferreira e Sousa Tavares.

Foi seu leit motiv a convicção que o PS fazia mais pela sua conservação no poder do que pelo governo do país.

Logo, gente do seu âmbito nascida soltou o grito de alarme.

Abriu-se, assim, a possibilidade de constituir uma opção alternativa na qual o PSD ocupava a posição central, que integrava CDS e PPM e não esquecia a fundamental associação dos independentes que constituíam a ala esquerda da proposta.

Não era, portanto, um movimento de direita e centro-direita, era muito mais do que isso e dirigia-se a obter a confiança de uma significativa percentagem do eleitorado.

Sá Carneiro não esqueceu ninguém.

Claro que as propostas políticas eram propostas de rutura mas não deixavam de ter uma solidez à qual a visão do regime e dos poderes constitucionais oferecia confiança.

Era e foi muito mais que um movimento, era uma resposta aglutinadora.

Queria-se outra forma de construir o país que se libertasse dos estereótipos correntes.

O país sempre foi, tanto no tempo de Salazar como da esquerda reinante, habituado a ser um país de servidores do Estado a quem se pagava pouco e se dava o possível.

Explicava-se como, para vencer a dívida galopante, só poderíamos criar riqueza com investimento privado e crescimento económico.

Na ocasião, o Partido Socialista ainda não tinha entendido a forma de garantir a quadratura do círculo.

Não se preocupava com o equilíbrio das finanças públicas nem estava pronto para acordar na lei a delimitação dos setores económicos.

A Aliança Democrática era a faca na manteiga.

Eram sólidas as propostas. Eram sólidos os autores.

Não encontrei nenhum que se reclamasse de speach writer como qualidade promocional.

Antes pelo contrário, encontrei muitos que criaram ideias e não discursos vazios.

O que agora se anuncia é pouco, é rígido na arrumação ideológica, é excludente, é limitado.

Trata-se de federar a direita e, para quem quer conquistar o poder e obter a confiança da maioria, é, admitamos, muito pouco.

Tem a eficácia de um tiro na água.

O poder atual é muito mais hábil.

Como dizia, dias atrás, o dr. José Miguel Júdice, encontrou a fórmula de isolar o pequeno grupo de maiores pagadores de impostos, de anestesiar o grupo intermédio e libertar a multidão que os não paga.

Cobra muito, paga pouco e dá outras pequenas coisas em troca.

Recua na visão do país e este, receoso, encolhe-se.

Ora, uma nova Aliança Democrática, para além da jactância da reconquista da classe média e da quase irrelevância do argumento da redução dos impostos, precisa de saber como se posicionar para chamar um eleitorado mais vasto.

A data é outra.