Maddie: o mistério permanece

É muito esquisito o empenho que a mãe da menina pôs na tese do rapto, dizendo que viu a persiana do quarto aberta e o cortinado a afastar-se com o vento…

O CASO MADDIE voltou à ribalta com a divulgação pela WikiLeaks de um relatório da PJ sobre o desaparecimento de Maddie McCann, em que se descarta praticamente a tese de rapto.

Curiosamente, duas semanas antes, uma senhora, médica geneticista de profissão – H. Santos -, que eu não conhecia, tinha-me contactado acerca deste assunto. Segundo ela, a hipótese de rapto também não era plausível. Esta só poderia acontecer por duas razões: ou para venderem a criança para adoção, ou para a violarem. 

Ora, se fosse para a venderem, teriam raptado um dos gémeos (ou mesmo os dois), ainda bebés, e não uma menina que já sabia falar e seria sempre mais difícil esconder. E, se fosse para a violarem, os pais (até por serem médicos) saberiam que já estaria morta, porque as violações de crianças acabam invariavelmente desse modo: ou morrem durante o ato sexual ou são mortas a seguir.

ASSIM SENDO, H. Santos achava que o móbil do crime seria outro. Simplificando, teria que ver com os serviços secretos britânicos, o MI5. O desaparecimento da menina estaria relacionado com a atividade secreta dos pais. Um dos membros do casal, possivelmente a mãe de Maddie, pertenceria ao MI5. 

Isso explicaria a vinda imediata a Portugal de um representante do ministro das Finanças e futuro primeiro- -ministro, Gordon Brown. Disse-se que Brown o fazia pelo facto de ter sido colega de Gerry na escola. Mas essa explicação não pega: os ingleses são muito formais e não reina lá o amiguismo que caracteriza os latinos. Um ministro não manda um seu representante oficial para se inteirar do desaparecimento de uma menina por ter andado com o pai na escola… 

MAS HÁ OUTROS factos estranhos. Escreveram-se na altura frases como: «A porta-voz do casal McCann, que trabalha para o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico», ou que os McCann tinham «ligações políticas surpreendentes, mostrando serem afinal um casal de classe média muito especial e com um estranho poder de influência em terras de Sua Majestade Isabel II».

Essa ligação aos serviços secretos também explicaria os imensos esforços que os britânicos têm empenhado neste caso – e que ainda não terminaram. É que, se o motivo foi político, a menina ainda pode estar viva. E a sua recuperação pode ser importante.

HÁ ENTRETANTO pontos fracos nesta tese, como o odor a cadáver encontrado em vários pontos do apartamento e no carro. E o cão que o detetou foi testado 200 vezes e nunca se enganou.

Por outro lado, é muito esquisito o empenho que a mãe da menina pôs na tese do rapto, dizendo que viu a persiana do quarto aberta e o cortinado a afastar-se com o vento. Se ela viu isso, que só por si induziria o rapto, como é que a PJ quase descarta essa hipótese? A conclusão a tirar é que não acredita em Kate.

Outro facto estranhíssimo é o pai da menina ter dito que saiu do restaurante para ir à casa de banho do apartamento, e – em vez de escolher o caminho mais curto – foi pelo trajeto mais longo. Ora isto é incompreensível. Por um lado, poderia ter ido urinar ao WC do restaurante. Por outro, em condições de necessidade, escolheria o percurso mais rápido. 

E como interpretar o facto de os outros amigos do grupo não irem imediatamente aos apartamentos verem se os filhos lá estavam? Depois de um rapto, seria a reação natural… E por que recusaram depois todos – pais e amigos – a reconstituição?

AINDA HÁ OUTRO facto incriminatório dos pais: a mãe ter passado o resto da noite a ver se os filhos gémeos respiravam. Ora, se Maddie tivesse sido raptada, não tinha nada que ver com um problema respiratório. A questão só se colocaria se menina tivesse morrido por sufocação. 

E foi isto provavelmente que aconteceu. Maddie morreu talvez em consequência de um sedativo para dormir. O pai descobriu o corpo e, em pânico, escondeu-o – para depois o fazer desaparecer. Isto explicaria o facto de ter dito que escolhera o caminho mais longo para ir ao apartamento urinar: era a forma de justificar a demora.

Talvez a mãe nem soubesse – nem saiba – de toda a história. O marido pode ter-lhe dado uma explicação qualquer – e pedido depois para falar da janela aberta e do rapto, para despistar a Polícia.

ISTO NÃO QUER dizer que a tese dos serviços secretos não possa ter alguma verdade. A vinda cá do representante de Gordon Brown, a deslocação imediata do embaixador britânico ao Algarve, o dinheiro que o Reino Unido continua a gastar com este caso – tudo isso dá que pensar. 

Que mistério se esconde por detrás do desaparecimento de Maddie McCann?