Violência e música para adormecer na política

Berardo enganou três bancos em cerca de mil milhões de euros e ouviu-se um silêncio ensurdecedor durante anos porque não havia imagens, leia-se confirmação oficial

Cerca de 500 arruaceiros provocaram o caos na praia do Tamariz, no Estoril, mas foram poucas as vozes de preocupação que se fizeram ouvir. Porquê? Porque há poucas imagens dos confrontos. Berardo enganou três bancos em cerca de mil milhões de euros e ouviu-se um silêncio ensurdecedor durante anos porque não havia imagens, leia-se confirmação oficial. As claques provocam o pânico domingo sim, domingo não mas ninguém se mostra muito preocupado porque as imagens são escassas. Os exemplos podiam ser às centenas, mas estes retratam bem a vida da sociedade portuguesa. As notícias só se espalham se as redes sociais apanharem a boleia, nalguns casos, da comunicação social e derem início a um histerismo coletivo em que, de repente, são todos militantes de alguma causa. Seja contra as condecorações de Berardo, ou temendo a violência grupal que parece estar a invadir as praias da Linha e não só.

Vem esta conversa toda a propósito da campanha eleitoral das europeias em que os partidos foram buscar velhas receitas tão gastas como a inocência de José Sócrates. Parece até que não viram o que se passou na última campanha presidencial em que Marcelo, salvo erro, não gastou um cêntimo com cartazes. Os partidos, os tradicionais e os novos, continuam a ir às feiras dar muitos beijinhos enquanto levam com umas bujardas de alguma peixeira mais atrevida, fazem arruadas tentando mostrar o à-vontade que não têm de todo. Depois há aqueles que mostram toda a sua modernidade (antiga) com concertos de música de cantores emblemáticos.

Fazendo uma pequena sondagem familiar, leia-se menos familiar que a do Governo, facilmente constato que a campanha não está a conseguir empolgar ninguém que conheça. É tudo muito morno e com cheiro a mofo. Mas percebo a angústia dos pequenos partidos, as televisões e os jornais dão-lhes muito menos visibilidade e, pelos vistos, ainda não dominam muito bem as redes sociais e os truques para ter muitos likes.

O caso mais flagrante foi o acidente que envolveu Santana Lopes, para o bem ou para o mal antigo primeiro-ministro, e que não mereceu qualquer referência de certos jornais mais distraídos. Se fossem os candidatos do PS, CDS, PCP, BE ou PSD que tivessem capotado e ficado com o carro pronto para a sucata, será que teriam o mesmo tratamento? Duvido, mas é a vida.

Voltando ao princípio da crónica, a violência grupal é um problema sério e poucos estão a dar-lhe a devida importância; Berardo só passou pelos pingos da chuva porque tem muitos cúmplices, diretos e indiretos; e as claques só são donas disto tudo, no que diz respeito aos campos de futebol e proximidades, porque não há grandes imagens das patifarias que praticam semanalmente. Morreram dois adeptos do Sporting, em períodos muito distintos, e pouco ou nada mudou. Ouve dizer-se em todo o lado que é preciso acontecer o que se passou em Inglaterra para depois as autoridades portuguesas varrerem tudo e desmantelarem esses grupos armados dos presidentes dos clubes. Mas será mesmo necessário chegar aí?

Quanto aos partidos, é óbvio que interessa a alguns que se discutam pormenores que ecoam muito alto nas redes sociais mas que não têm qualquer substância. Se antigamente em Roma se dava pão no Coliseu – e leões, já agora -, atualmente dão-nos música para adormecermos e não percebermos que caminhamos alegremente para uma crise profunda na saúde, educação, habitação e segurança. Esperemos que esteja enganado.

vitor.rainho@sol.pt