Morreu Manuel Homem de Mello, o homem que defendeu que Portugal devia pedir desculpa

O escritor e advogado Manuel Homem de Mello morreu na terça-feira no Estoril, noticiou hoje a agência Lusa citando fonte familiar. Tinha 88 anos. Deputado à Assembleia Nacional entre 1957 e 1961, foi depois assessor político do Presidente da República Craveiro Lopes e voltou a ser deputado até 1974. Homem do Estado Novo, com o livro…

O escritor e advogado Manuel Homem de Mello morreu na terça-feira no Estoril, noticiou hoje a agência Lusa citando fonte familiar. Tinha 88 anos.

Deputado à Assembleia Nacional entre 1957 e 1961, foi depois assessor político do Presidente da República Craveiro Lopes e voltou a ser deputado até 1974. Homem do Estado Novo, com o livro "Portugal, o Ultramar e o Futuro", publicado em 1962, afronta a política ultramarina de Salazar, defendendo a saída das colónias. "Pretender reduzir os territórios imensos de Angola e Moçambique a províncias, no mesmo sentido em que o tomamos em Trás-os-Montes e nas Beiras, não só desafia a realidade, como revela um princípio e uma orientação de política ultramarina inaceitáveis para o mundo em que vivemos", escreve.

Em 2009, no lançamento de uma reedição do ensaio pela Âncora Editora, com o título "Textos Escolhidos", lamentou que Portugal nunca tivesse pedido desculpa por não ter sido encontrada uma solução política e ter sido seguida a via militar. "Os EUA pediram desculpa pelo Vietname. A Igreja Católica pediu desculpa pela Inquisição [e] pelas Cruzadas. Todo o mundo pede desculpa. Portugal não pede desculpa a ninguém. Acho isto uma coisa extraordinária", disse na altura, citado pelo Diário de Notícias. "Portugal podia ter sido o primeiro Estado colonial a sair do Ultramar e foi o último. Perdemos a guerra, que podíamos não ter feito.  Perdemos o Ultramar, quando podíamos ter ficado se tivéssemos saído a tempo e horas."

Homem de Mello foi também embaixador de Portugal na ONU, comentador na RTP e apoiou as candidaturas de Mário Soares.

Nasceu em Lisboa a 30 de agosto de 1930 e licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa. No registo disponível no site do Parlamento recorda-se que sendo amigo pessoal do ex-Presidente da República, Craveiro Lopes, envolve-se em alguns tentativas goradas de demitir Salazar, designadamente na "Abrilada" de 1961. Começou a carreira política como presidente da comissão concelhia de Águeda da União Nacional. O registo das intervenções pode ser consultado nesta página.