Trabalhadores do Continente exigem melhores salários

Funcionários concentraram-se em vários pontos do país. Sindicato destaca os “salários miseráveis” e pede também o encerramento do comércio aos domingos e feriados.

Centenas de trabalhadores de hiper e supermercados e armazéns do Continente de alguns pontos do país estão hoje em greve ou em ações de denúncia a pedir a negociação do Contrato Coletivo de Trabalho, aumentos salariais, fim da precariedade e ainda o encerramento do comércio aos domingos e feriados.

Ao i, Luís Figueiredo, trabalhador do Continente e dirigente sindical do CESP – Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal, acusa a desvalorização do setor. “Esta é mais uma ação de protesto e denúncia junto dos clientes. Esta ação é a negociação do contrato coletivo que está bloqueado desde 2016, a valorização do trabalho dos trabalhadores através do aumento dos salários”, começou por dizer, acrescentando que “neste momento todas as tabelas estão absorvidas pelo salário mínimo nacional e quem estiver no topo de carreira tem apenas 26 euros de diferença do salário mínimo nacional”, destacou Luís Figueiredo.

O dirigente sindical do CESP lembrou ainda que, há dez anos, neste setor, “quem estivesse no topo da carreira ganhava, no mínimo, 140 acima do salário mínimo nacional”, considerando, por isso, que “houve uma desvalorização do setor”.
O CESP garante que têm existido várias reuniões com a entidade patronal mas sem sucesso. “Neste caso, a Sonae – que até está na presidência da APED – defendem que, para a negociação do contrato, temos de aceitar o banco de horas. E o banco de horas significaria 150 horas de trabalho gratuitas por ano que os trabalhadores teriam de dar e, obviamente, o sindicato nunca aceitaria esta hipótese. Nem os trabalhadores aceitariam”, reiterou. “E em troca dão uns míseros trocos. 3,21 euros, isto é surreal. São 11 cêntimos por dia”, destacou o dirigente sindical.

A ação de denúncia distribuída na greve e à qual o i teve acesso, acusa a Associação Portuguesa de Empresas e Distribuição (APED) de “bloquear o processo da negociação do contrato coletivo de trabalho há quase três anos, querendo a redução do valor pago pelo trabalho suplementar e a aceitação do banco de horas a troco de aumentos salariais de 11 cêntimos ao dia”.

O mesmo documento exige, portanto, entre outros, o aumento geral dos salários, “com aumento mínimo de 40 euros para todos, de forma a repor algum poder de compra perdido e a manter a diferenciação dos níveis e carreiras profissionais”.

O i contactou a APED que não quis comentar o assunto. A Sonae foi também contactada mas não foi possível conseguir resposta até ao início da tarde.

Domingo não permitiu mais adesão A greve e ação de denúncia foi marcada para um domingo para relembrar o encerramento do comércio a este dia da semana e também aos feriados. Mas o facto de se ter realizado a um domingo, foi também um forte fator para a adesão não ter sido a esperada. “Não será tão forte como no 1.º de maio, que foi muito forte, mas será mais dispersa por vários locais de trabalho”, explicou Luís Figueiredo. “Aqui há uma questão pertinente e que dificulta a participação dos trabalhadores na greve que é o facto de os salários serem tão miseráveis e tão baixos que o trabalhador sente a necessidade de trabalhar para poder receber a compensação de trabalhar ao domingo. Isto dificulta a ação dos trabalhadores”, finalizou.

Recorde-se que o mês de Junho está a ser usado pelos trabalhadores de várias cadeias de supermercados para reivindicar os mesmos pontos ontem pedidos pelos trabalhadores da Sonae.