Estudo conclui que idosos frequentam centros de dia por se sentirem sozinhos

Dos 67 idosos entrevistados pela investigadora Inês Santos, nenhum foi sinalizado por dificuldades financeiras

Uma parte significativa dos idosos ingressa em centros de dia devido à solidão, há falta de políticas de combate ao isolamento que sejam direcionadas para a situação de fragilidade da terceira idade: estas são as principais conclusões da tese de doutoramento de Inês Santos, do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) que, durante cinco anos, entrevistou 67 idosos, técnicos de ação social e dirigentes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e também de outras Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) da zona metropolitana de Lisboa.

À agência Lusa, a investigadora avançou que “na investigação, um dos dados identificados, e que é salientado, é o facto de grande parte das sinalizações feitas pelos centros de saúde, para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e IPSS, os idosos sinalizados eram maioritariamente por questões de isolamento e não por questões de saúde” explicou, acrescentando que entre 30% a 40% dos idosos que contactou tinham sido sinalizados por questões de isolamento. Porém, deparou com casos de idosos sinalizados por estarem sozinhos e terem problemas físicos ou psicológicos, sendo que nenhum foi sinalizado por dificuldades financeiras.

Santos adiantou que a população mais velha é são cada vez mais autónoma por motivos como as condições de vida, o aumento da escolaridade, no entanto, não deixou de referir que os portugueses são “mais individualistas": “isso está a tornar-se cada vez mais visível e perigoso para aqueles que estão a ficar sozinhos, seja porque a família foi viver para o estrangeiro, os filhos trabalham muito e não conseguem acompanhar as necessidades dos pais, seja por questões económicas em que se torna mais difícil o apoio a estes idosos”, confessou. Por outro lado, existem cada vez menos relações de vizinhança e o apoio informal outrora existente torna-se escasso.

A solução? Na ótica de Santos, passa pela prevenção: “as políticas públicas deveriam ser mais voláteis para conseguirem acompanhar não só um idoso que tem dificuldades físicas, mas também um idoso que tem necessidade de apoio relacional e afetivo”, defendeu criticando o facto de as políticas atuais serem demasiado vocacionadas para a vertente económica. E as instituições sociais, apoiam devidamente os idosos? Santos admitiu que são "muito padronizadas", "obsoletas" e já não conseguem acompanhar a população sendo que falha a interligação entre técnicos, profissionais, academia e legisladores.