Ministra da Saúde é “insensível e incompetente”

Jorge Roque da Cunha, do Sindicato Independente dos Médicos, acusa Marta Temido de insensibilidade perante as grávidas e crianças do país.

Durante a inauguração de uma clínica de saúde oral gratuita para crianças e jovens até aos 18 anos, a ministra da Saúde, Marta Temido, não teve como evitar o tema das dificuldades nos serviços de obstetrícia portuguesa. A ministra reconheceu haver problemas sobretudo em Lisboa, Vale do Tejo e na zona Sul do país, especialmente durante os períodos de férias.

Na ocasião, Temido defendeu uma reorganização das maternidades do país. “Nesta época, procurámos garantir que as faltas [de profissionais] são supridas com recurso a prestação de serviço”.

A ministra afirmou que foram autorizadas prestações de serviços médicos que vão além dos valores de referência estabelecidos. Reconheceu, no entanto, que os problemas existentes não podem ser resolvidos “apenas por essa via”.

 

Sim ao Ataque

Já para Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), “é chocante a insensibilidade da Ministra da Saúde em relação às grávidas e às crianças deste país”. O responsável do SIM fala mesmo da “incompetência e insensibilidade para perceber que esta situação não é sazonal” e diz que, se nada for feito, os problemas repetir-se-ão “nos próximos meses”. Roque da Cunha contesta também que a situação se tenha verificado apenas em Lisboa e no Sul do país, como referiu a Ministra da Saúde. E denuncia que, durante o fim de semana, as maternidades de Beja, Évora e Portimão estiveram encerradas perante essa falta de profissionais de saúde. Para além destas, “Santa Maria, Amadora-Sintra e a Maternidade Alfredo da Costa estiveram em contingência”.

A ministra garantiu “mais contratações de médicos”, um ponto fulcral para Jorge Roque da Cunha. Mas, para que a situação ficasse resolvida, a “ministra da Saúde teria que compensar os seniores”, o que não acontece. O responsável aponta como exemplo o Hospital de Santa Maria, de onde nos últimos dois meses saíram quatro profissionais. Segundo as suas contas, já nem a contratação de médicos sem especialidade compensa a reforma dos seniores.

Outro ponto em questão são as escalas. “Todas as escalas dos obstetras e dos hospitais deviam ser cinco. Não há nenhuma no país com cinco. A esmagadora maioria são quatro e desses, dois são internos. Há dias em que são três”, revela o secretário-geral do SIM.

Relativamente a este tópico, Jorge Roque da Cunha confirmou ao i que a denúncia do caso já foi feita à Ordem dos Médicos: “Confirmamos que mandámos uma denúncia à Ordem dos Médicos relativamente às escalas ilegais, mas ainda não houve resposta. Já formalizámos essa questão”.

 

SNS funciona em rede

Marta Temido referiu que estão a ser estudadas alternativas a esta solução e que está a ser concluída a revisão da rede de saúde materna e obstétrica. O Governo, garantiu a ministra, pretende aplicar uma “intervenção mais objetiva na reorganização da oferta e redistribuição dos recursos humanos das zonas mais críticas” após essa revisão.

Apesar de esta reorganização estar a ser analisada por parte do Governo, Marta Temido recordou que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) funciona em rede, pelo que, sempre que necessário, as grávidas serão transportadas para outros serviços de unidades públicas.