No corrente ano, os grandes incêndios florestais continuam a deflagrar. Em agosto de 2017, nesta mesma coluna de opinião, referia que “todos os anos entre junho e setembro, os números de ocorrências e de área ardida são devastadores. Neste período, são detalhadamente noticiados (e explorados até à exaustão) os meios de combate, situações críticas, povoações em perigo, áreas ardidas e perdas humanas e financeiras. Apontam-se causas e putativos responsáveis e questiona-se a qualidade e a quantidade dos meios existentes”.
A reação continua a sobrepor-se à prevenção a médio e a longo prazo. São utilizadas as mesmas metodologias de intervenção para a resolução de eventos com características ambientais diferentes, quer no que respeita aos combustíveis biológicos, quer no concerne às condições ambientais extremas (temperatura, humidade, vento, etc.), que tenderão a agravar-se com as alterações climáticas. Ao invés da definição e estabelecimento de um programa estratégico efetivo e claro, para a valorização da floresta e para a prevenção dos incêndios florestais, centrada no ordenamento e planeamento do território, nas atividades socioeconómicas, no cadastro, na utilização de tecnologias e ancorado no conhecimento transversal e multidisciplinar, são desenhadas estratégias e planos focados na gestão das faixas de combustíveis.
As medidas definidas e atualmente em implementação estão centradas no “incêndio florestal”, descurando os impactes nos recursos naturais, em particular na flora e na fauna, no incremento de problemas socioeconómicos em regiões com população muito envelhecida que, para cumprir as normas em vigor, permitem o abate total (raso) nas propriedades que detêm, na redução significativa de serviços de ecossistemas como a captura de CO2, no aumento das temperaturas locais, na potenciação de espécies invasoras de crescimento rápido e na destruição da paisagem natural.
Para alterar o paradigma atual é necessário investir, a médio e longo prazo, em particular em duas áreas fundamentais: o ordenamento e planeamento do território e o estabelecimento da carreira profissional no setor da proteção civil. Neste medida, a preparação de uma geração de profissionais, que compreenda os processos físicos dos riscos naturais e antropogénicos, com competências no âmbito dos instrumentos de gestão territorial, com conhecimento em tecnologias que auxiliem o diagnóstico e o planeamento da operação, é essencial para minimização do risco, no geral, e no risco de incêndio florestal, em particular.
* Vice-Reitor da Universidade Lusófona do Porto