Povo de Malcata está a abster-se de votar devido a barragem

Até ao início da tarde somente votaram 10 dos 405 eleitores.

Os habitantes da freguesia de Malcata, no concelho do Sabugal, no distrito da Guarda, estão a abster-se ao longo deste domingo de votar nas eleições legislativas porque “não se conformam com o funcionamento da barragem e tudo aquilo que resulta à sua volta”.

O presidente da Junta de Freguesia de Malcata, João Fernandes, revelou ao Sol que “até ao momento [cerca das 14h40] tinham votado somente dez eleitores num universo de 405 inscritos no recenseamento”, depois de ao princípio da manhã apenas haver dois votantes.

“Nos últimos dias já se sabia que quase ninguém iria votar, esta atitude partiu do seio da população, com a qual a Junta de Freguesia de Malcata se solidarizou”, afirmou o autarca.

Segundo João Fernandes, “a abstenção é global, mas não unânime, dez pessoas votaram depois das nove horas da manhã e ao todo há registo de dez votantes até início da tarde”.

“As pessoas devem fazer o que entenderem, mas o problema do nosso descontentamento devido à barragem, é transversal a todos os habitantes, explicando “nos últimos dias foram colocados cartazes na aldeia com as reivindicações da população e tudo indicava que ninguém votasse no ato eleitoral de hoje, mas o que não foi conseguido”.

Exposição ao Governo

A 25 de setembro, habitantes e autarcas do Sabugal enviaram uma exposição ao próximo Governo, a pedir a regulação independente de transvases de água e a redefinição de níveis mínimos na albufeira da barragem.

Na exposição aprovada durante uma audição pública promovida pela Associação Malcata com Futuro (AMCF), União de Freguesias de Sabugal e Aldeia de Santo António e Juntas de Freguesia de Malcata, Quadrazais, Foios e Vale de Espinho, lê-se que as freguesias “mais diretamente afetadas pela sangria do Rio Côa, têm toda a legitimidade para exigir”, a regulação independente sobre transvases e sobre a utilização da água no regadio da Cova da Beira, que é assegurado pela barragem inaugurada no ano 2000, exigindo-se ao mesmo tempo “a redefinição de níveis mínimos” que garantam a concretização do Plano de Ordenamento da Albufeira e elaboração de um Plano de Recuperação, de Valorização e de Gestão Otimizada dos Recursos Hídricos.

Os subscritores pedem também um Estudo de Impacto Ambiental “que esteja disponível antes da emergência de outros projetos de irrigação para a Cova da Beira e a Gardunha”.

A construção de açudes, a limpeza de linhas de água e a recuperação de represas fazem igualmente parte das solicitações dos populares e autarcas, afirmando “bastar de sangria e de utilização ineficiente de recursos escassos na origem, pelo que se justifica desse modo o reenquadramento da albufeira do Sabugal no Aproveitamento Hidroagrícola da Cova da Beira”.