Uma humilhação desnecessária

Naquela corrida mista de atletismo, que pretendia afirmar a igualdade entre mulheres e homens, o resultado foi o oposto: a humilhação desnecessária de uma atleta.

No sábado passado, vendo televisão (ao longe) em casa de um familiar, assisti a uma prova de atletismo insólita. Era uma prova de estafetas 4x400m, e até à segunda volta todos os atletas andavam juntos em pelotão. Mas na terceira volta um atleta destacou-se subitamente, ganhando em poucos segundos meia pista aos outros todos. Parecia que a sua equipa tinha a prova ganha. Mas na quarta volta, o atleta a quem passou o testemunho começou a perder terreno, o seu avanço a cada metro foi ficando mais curto – e na reta da meta foi ultrapassado por todos os concorrentes, acabando em último lugar. O que se passara?

Voltando a imagem atrás, percebi que se tratava de uma prova de tipo novo: uma corrida mista, com a participação de homens e mulheres.

Aquele atleta que se destacara e rapidamente ganhara meia pista era um homem – e os outros eram mulheres. E, na última volta, o atleta que perdera o avanço e fora ultrapassado por todos, era uma mulher, correndo contra homens.
Há algum tempo que eu pensava que chegaria o dia em que haveria provas mistas de atletismo, equipas mistas de andebol e futebol, etc., etc. Quando se proclama que homens e mulheres são ‘iguais’, que sentido tinha fazer provas separadas para homens e mulheres, campeonatos masculinos e campeonatos femininos?

Esta questão da ‘igualdade’ entre homens e mulheres é paralela à da igualdade entre ‘raças’ (palavra maldita que uso por comodidade).

Também se diz que as ‘raças’ são todas iguais, que não há diferenças, e quem se atreve a dizer o contrário é considerado «estúpido» (com todas as letras).

Os paladinos deste discurso ainda não conseguiram perceber uma distinção básica: uma coisa é a ‘igualdade de direitos’, outra é a ‘igualdade de características’.

Os homens e as mulheres são iguais em direitos, mas não são evidentemente iguais em características.
As ‘raças’ são iguais em direitos mas não são evidentemente iguais em características.

Para baralhar as coisas, achando que combatem o racismo, algumas pessoas dizem que já não há ‘raças’, pois as misturas são tão grandes que as ‘raças’ desapareceram. E citam estudos ‘científicos’.

Ora, isto é o pior que se pode fazer para lutar contra o racismo. Porquê? Porque um fulano olha para a esquerda no café e vê um africano – e percebe que é diferente dele. E olha para a direita e vê um asiático – e percebe que é diferente dele. E olha para trás e vê um indiano – e percebe que é diferente dele. E olha para diante e vê um nórdico – e percebe que é diferente dele. E percebe que todos – africanos, asiáticos, indianos, nórdicos, são diferentes uns dos outros. E a teoria ‘científica’ de que já não há ‘raças’ cai por terra perante esta observação comezinha. Havendo ou não havendo ‘raças’, há povos diferentes.

O politicamente correto tende a tornar-se uma ideologia porque quer sobrepor-se à realidade. Se alguém diz que há diferenças entre as ‘raças’, é porque é ‘estúpido’, ponto final. Se alguém alega que o aspeto das pessoas é diferente – desde a cor da pele, à fisionomia, mesmo à compleição física –, está a ver mal.

Se alguém diz que os magrebinos são bons no atletismo em provas de resistência; ou que os negros americanos são ótimos no basquete; ou que os asiáticos são muito disciplinados; ou que os nórdicos são muito organizados, está errado. 

O politicamente correto quer negar a própria realidade.Ora a negação da realidade, mais tarde ou mais cedo, acaba mal. Naquela corrida mista de atletismo, que pretendia afirmar a igualdade entre mulheres e homens, o resultado foi o oposto: a humilhação desnecessária de uma atleta, que começando a correr com meia pista de avanço acabou em último lugar.

Do mesmo modo, pretender que as ‘raças’ são todas iguais só contribui para fomentar o racismo, porque a observação mostra que são diferentes.

O caminho certo para acabar com a discriminação das mulheres, e para acabar com o racismo, é outro – é dizer que, sendo as mulheres e os homens muito diferentes, sendo os europeus do norte e do sul, os africanos do norte e do sul, os asiáticos, os indianos, os esquimós, muito diferentes – têm todos os mesmos direitos porque são seres humanos.
Não têm os mesmos direitos por serem iguais – têm os mesmos direitos por serem seres humanos.