Todos os Governos quando nascem costumam a anunciar-se com uma bandeira ou um desígnio: seja em nome do ‘diálogo’, como foi com Guterres, de ‘salvação nacional’ (com a troika à perna…) como se viu com Passos, ou do ‘fim da austeridade’, o emblema na lapela de António Costa.
O novo Governo, sendo velho, como o conselheiro Marques Mendes judiciosamente o classificou na SIC, tem como assumida marca a «continuidade». E , fazendo jus ao conceito, Costa baixou a fasquia das expectativas, reforçou os ganhos do aparelho socialista, repartiu mais poder entre fiéis e amigos indefetíveis, promoveu a secretária de Estado a porta-voz bem falante da Proteção Civil (nas aflições dos incêndios) e manteve em funções vários ministros, cujo desgaste e usura aconselhariam a substituição.
Fosse por teimosia, ideologia ou à míngua de alternativas, vão continuar governantes, de primeira linha e ‘ajudantes’, cuja atuação desastrosa é conhecida, mas que não arredam pé nem são afastados.
Na Educação, Tiago Brandão Rodrigues, um estrangeirado que desembarcou com roupagens de Cambridge, cedo se entregou nos braços da Fenprof, e, em vez de resolver um problema de fundo, acrescentou vários, até “cair em desgraça” junto de Mário Nogueira, a eterna ‘assombração’ que paira sobre o edifício da 5 de outubro.
As escolas públicas permaneceram nos rankings em posições deprimentes, enquanto o ministério consentiu que fossem infiltradas por militantes de causas do ‘género’, à pala da ‘cidadania’, ao mesmo tempo que se introduziam disciplinas a pôr em causa a leitura da nossa História, deixando até estarrecido um histórico socialista, moderado e sensato, como é o caso de Jaime Gama.
E assim se doutrinam gerações, ensinando-as a escolher o sexo antes de poderem votar – ou de obter a carta de condução –, e a questionar o passado, como se nos devêssemos envergonhar dele. Em coerência, o projeto do Museu das Descobertas (ou dos Descobrimentos) ficou no tinteiro, silenciado pela cobardia política.
Jaime Gama, veio dizer, ‘preto no branco’, que a nova cadeira de História, Culturas e Democracia, destinada a alunos do 12.º ano do secundário, cumpre «um objetivo ideológico muito em voga» e «serve-se da História», lamentando que o respetivo programa seja de «uma História que não aceita nenhum símbolo nacional, não aceita nenhum herói, não aceita nenhuma causa, não aceita nenhum objetivo estratégico do país, não aceita o país, sendo prefigurado por uma política de Estado – até na parte internacional».
Claro que esta análise lúcida irritou, de imediato, a esquerda trauliteira, para quem a memória serve apenas para ser ‘reconstruída’. Reverentes, os media em geral ‘recolheram a penates’ e fingiram que o contundente alerta de Jaime Gama não existiu.
Na Saúde, a recondução de Marta Temido é motivo de não menores apreensões. Mal chegada, deitou ao lixo o dossiê com o projeto da Lei de Bases, elaborado por um grupo de trabalho coordenado pela socialista Maria de Belém – que não disfarçou a sua perplexidade –, e partiu para outra, mais afeiçoada ao seu requintado gosto ‘esquerdista’, que elege o hino da CGTP como ‘calmante’, para descontrair quando fica irritada… uma confissão feita numa entrevista intimista.
A degradação do SNS e dos hospitais públicos – muito influenciada pela lei das 35 horas e pelas cativações determinadas, à socapa, pelo ‘Ronaldo das Finanças’ –, as intermináveis listas de espera de cirurgias e consultas, a escassez gritante de unidades vocacionadas para os cuidados paliativos e continuados, a falta de médicos especialistas que obriga a fechar urgências, reproduzem um quadro suficientemente sombrio para preencher o melhor tempo da ministra.
Mas não. São as parcerias público-privadas, mesmo que funcionem bem, que perturbam Marta Temido, alinhada com a versão do Bloco de Esquerda, que se opõe a tudo o que cheire a iniciativa privada.
O assumido ‘esquerdismo’ de Marta está em boa companhia. São os mesmos que estiveram contra uma resolução no Parlamento Europeu, que condenava o comunismo e o nazismo, colocando-os em pé de igualdade nos «genocídios e deportações» que «foram a causa da perda de vidas humanas e liberdade em uma escala até agora nunca vista na história da Humanidade»
A resolução seria aprovada por larga maioria (535 votos a favor, 66 contra e 52 abstenções ). Claro que os eurodeputados bloquistas, de braço dado com os do PCP, fecharam-se numa timorata minoria, contrária à resolução. Afinal, para eles, os crimes não são todos iguais…
A ‘geringonça’ encostou à boxes’, mas o ‘team’ socialista tem na primeira linha da ‘grelha de partida’, quase as mesmas caras.
Além da Educação e Saúde, também os titulares da Administração Interna ou do Ambiente não mudaram de sítio, apesar das reservas que se adensaram sobre ambos.
Uma conclusão parece óbvia: se o Governo não prima pela novidade, impressiona pela quantidade – 70 governantes, entre ministros e secretários de Estado. É o maior desde 1976. Com assessores, pessoal de gabinete e motoristas é um ‘exército’ de peso… Haja espaço . E Orçamento…
Nota de rodapé: A mesma RTP que ‘comemorou’ 60 anos da ‘marca’ Telejornal (e cuja direção de Informação ‘meteu no congelador’, durante a campanha eleitoral, o programa Sexta às 9, para não molestar o governo, por causa de uns negócios de lítio), resolveu enviar uma equipa ao Brasil para entrevistar o ex-presidente, Lula da Silva, ainda detido, o qual, obviamente, não se fez rogado.
Lesto em interceder por José Sócrates, recomendando expeditamente a ‘punição’ dos procuradores do Ministério Público que o acusaram, caso o processo seja arquivado («se não provar, essa pessoa tem que ser punida»), Lula aliviou-se, ainda, ao dizer que «o facto de um cidadão ser acusado não quer dizer nada». Estamos conversados.
Em contraste com o ‘sururu’ provocado pelo ministro da Justiça brasileiro, Sérgio Moro , quando este notou que Portugal tem uma «dificuldade institucional» no processo contra o ex-primeiro-ministro (que originou uma inédita altercação na praça pública, entre Sócrates e Moro), não se ouviu, desta vez, o menor ruído, a menor indignação, em defesa do orgulho pátrio, após a intromissão de um estrangeiro, opinando sobre a Justiça em Portugal.
A indignação tem dias…