Lava Jato. Brasil emite ordem de prisão para ex-Presidente paraguaio

Horacio Cartes é acusado de ajudar um negociante de dólares a fugir à justiça brasileira.

Horacio Cartes, antigo Presidente do Paraguai, de 63 anos, foi um dos 20 alvos de mandados de prisão preventiva pela justiça brasileira, esta terça-feira, no contexto da operação Lava Jato. O antigo chefe de Estado é suspeito de auxiliar na fuga de Dario Messer, suspeito de ser “doleiro”, ou seja, de negociar dólares no mercado paralelo para lavar dinheiro de políticos, empresários e criminosos. De acordo com os investigadores, a rede de Messer terá movimentado 1,6 mil milhões de dólares (cerca de 1,45 mil milhões de euros) entre 52 países.

Messer esteve fugido da justiça entre maio e julho de 2018, ficando com todos os seus bens congelados. Nesse período enviou uma carta ao antigo Presidente paraguaio, pedindo 500 mil dólares (mais de 450 mil euros), para supostos gastos jurídicos. O pedido terá sido concretizado por intermédio de Roque Fabiano Silveira, um dos alvos dos mandados de captura desta terça-feira, lê-se na decisão do juiz Marcelo Bretas, da 7.a Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, citada pelo G1.

Cartes já declarou publicamente ser amigo da família Messer. Em maio de 2018, imagens da televisão paraguaia ABC Color mostraram Jiménez Viveros Cartes, primo do então Presidente do Paraguai, a levantar dinheiro num banco, acompanhado de Ilan Grinspun, considerado o braço-direito de Messer. A justiça paraguaia suspeita que tentavam levantar dinheiro antes que a ordem de congelamento de bens chegasse ao banco.

Antes de ser eleito, em 2013, Cartes já era um dos empresários mais ricos do Paraguai, dono de bancos e tabaqueiras. Chegou a ser investigado por tráfico de tabaco e droga – após um avião carregado de cocaína e marijuana ser apreendido num dos seus ranchos, em 2000 – e esteve preso por evasão fiscal nos anos 80. Apesar disso, ganhou visibilidade como presidente do Club Liberdad, da capital, entre 2001 e 2012: o clube não vencia o campeonato paraguaio desde 1976 e ganhou cinco vezes nesse período.

Cartes acabou por candidatar-se à presidência pelo Partido Colorado. Até 2008, este partido conservador tinha governado o Paraguai por 61 anos consecutivos, incluindo durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), responsável pela tortura e desaparecimento de dezenas de milhares de pessoas, bem como por “atos sistemáticos de pedofilia”, lê-se num relatório da Comissão da Verdade paraguaia, citado pela BBC.