André Ventura agora é contra a segurança?

Cheio de si, Ventura tem-se entusiasmado com o seu próprio sucesso e, por isso, é natural que comece a cometer erros grosseiros como os que fez na manifestação dos agentes da PSP e dos militares da GNR.

André Ventura tem feito um arranque de vida parlamentar surpreendente, conseguindo ofuscar quase tudo à sua volta, no que diz respeito ao palco mediático. Onde anda, por exemplo, André Silva do PAN? O líder do Chega consegue mesmo recuperar ideias do CDS com anos e transformá-las em novas, como foi o caso das comemorações solenes na AR do 25 de Novembro. Cheio de si, Ventura tem-se entusiasmado com o seu próprio sucesso e, por isso, é natural que comece a cometer erros grosseiros como os que fez na manifestação dos agentes da PSP e dos militares da GNR.

Entusiasmado com o apoio dos polícias, subiu ao palco para discursar como se fosse o representante das forças policiais e disse uma coisa extraordinária: «Os polícias unidos jamais serão vencidos! Hoje não queriam que aqui estivéssemos, montaram barreiras, mas não vão conseguir derrotar os polícias. Viva a polícia! Viva Portugal!». Então o homem que aparece a defender a segurança, a legalidade e os valores democráticos, sugere que os manifestantes não deviam  de ser impedidos de invadir a Assembleia da República? As barreiras e os polícias de serviço não deviam de estar lá? É isso que acha que deve ser um Estado democrático? E o que dizer de ter recuperado um dos gritos do 25 de Abril de que o povo (polícias) unido jamais será vencido? 

Ventura sabe que todas as sondagens dão ao Chega um crescimento considerável na intenção de voto dos portugueses, mas não se pode esquecer que uma legislatura, nem que seja meia, não é uma corrida de 100 metros, mas antes uma maratona. Surgir a sorrir no meio dos manifestantes   como se estivesse num programa humorístico  não me parece uma grande ideia. Até parece que disse uma graçola e que não conseguiu parar de rir com a mesma.

Se Ventura tem tudo para ser a grande estrela desta legislatura, até por os outros não saberem encostá-lo às cordas, o Governo de António Costa continua a fazer das suas no que diz respeito ao facilitismo. Anuncia-se com pompa e circunstância a descentralização e só se mudam três Secretarias de Estado para o interior norte do país, e precisamente para as terras dos secretários de Estado em questão?  É isto que é a descentralização? Desviar três gabinetes para casa dos governantes? E o sul não tem governantes que vivam lá? Não seria de dar um sinal de que o Governo quer mesmo deslocar serviços e pessoas para o interior e não apenas facilitar a vida aos secretários de Estado?

A tutela do Turismo, por exemplo, não podia ir para o Porto ou para Faro? Que sentido é que faz que esteja tudo centrado em Lisboa? O país é assim tão grande que os governantes não possam vir à capital semanalmente para as reuniões do Executivo?

Na semana passada, Cotrim Figueiredo, do Iniciativa Liberal, propôs que a Assembleia da República subscrevesse a resolução do Parlamento Europeu  que comparou os regimes comunistas ao fascismo, pedindo desculpa às suas vítimas. Como era de esperar, o PCP, BE e Livre votaram contra, mas, inexplicavelmente, o PS também votou contra. O PAN absteve-se. Ontem, o CDS propôs um voto de solidariedade ao jogador  Bernardo Silva que foi castigado com um jogo de suspensão e obrigado a trabalho comunitário por ter feito uma brincadeira com um colega negro. Colega esse visita de casa de Bernardo e que trata a avó do colega  por avó. Ambos são muito amigos, desde os tempos em que jogavam em França, e tudo não passaria de uma brincadeira completamente inocente não fosse o facto de terem cores de pele diferente. Como era de prever, BE, Livre e PCP votaram contra, inexplicavelmente, o PS também. O PAN absteve-se. Será que a equipa de André Silva só não vai abster-se nas matérias que dizem respeito aos animais e ao ambiente?     

vitor.rainho@sol.pt